As minhas mãos são de milho. E nelas mora
um hálito terrestre
e os segredos da argila aí palpitam
co’a humidade dos peixes vegetais.
E a minha fronte é de milho. E sonho a paz
do sulco verdejante e iluminado
coroado pelas canas verticais
linear templo de açúcar e de febre.
E é de milho o meu cérebro. Eu penso com as veias
acústicas e fortes
como um ressuscitado intemporal
que nos cravos escondera a sua voz.
E eis de milho os meus lábios. Cantando sem
a fria corola da morte
anunciando os voos da farinha
com uma suave e rústica serenidade.
E os sonhos são de milho, os que em mim vivem:
homem de antanho, de agora, homem de sempre
no único atavismo que floresce
- milho de amor, sustento das nascentes.
II
Ninguém irá negar que o rouxinol
na garganta possui do milho a luz
E que a estrela nocturna e silenciosa
tem asas no olhar que milho são
E que no rio, no mar e no oceano
sal e milho nas águas se casaram
Que com milho semeou Rubén Dário
a ardente papoila em Nicarágua
Que como ferido caule se quebrou
o milho da Espanha – Garcia Lorca
E que em homens de milho se constrói
a pátria espiritual da Guatemala.
Oh salve! milho amável, pão da América
refúgio e catedral da esperança!
|