As árvores contemplam-me; os pirilampos
dissimulam a luz quando caminho
e o murmúrio inocente do regato
exprime-se a meia voz e esconde-me algo.
Os vastos pedregais, o fugitivo
espírito do vento, tudo
transforma o seu tamanho, tudo
se transfigura quando passo
- na mão que me denuncia
na voz que me assinala.
Já o sabem
os que açulam os cães, os que preparam
o meu pescoço para o laço de mil nós.
E na forja o ferreiro põe à prova
contra mim a sua arte…os vagarosos muros…
o poço aonde um ciclope invisível
vigiará os meus gestos encadeados…
Porque no fundo obscuro do espelho
não vi só o meu rosto ao desnudar-se
quando à noite me olhei;
nele não estavam só
o meu golpe de garra e o seu uivo de gozo
a deleitar-se co’a intriga: um olhar de susto
recordo que também ali havia
e uma rápida fuga
que me cobriu de quartzo…
E me cravou esta lápide no peito.
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