Traduções de
NICOLAU SAIÃO

Rapsódia LATINA em tom maior

6. Carlos Alvarez (Jerez de la Frontera, 1933)
O uivo do lobisomem

As árvores contemplam-me; os pirilampos

dissimulam a luz quando caminho

e o murmúrio inocente do regato

exprime-se a meia voz e esconde-me algo.

Os vastos pedregais, o fugitivo

espírito do vento, tudo

transforma o seu tamanho, tudo

se transfigura quando passo

- na mão que me denuncia

na voz que me assinala.

Já o sabem

os que açulam os cães, os que preparam

o meu pescoço para o laço de mil nós.

E na forja o ferreiro põe à prova

contra mim a sua arte…os vagarosos muros…

o poço aonde um ciclope invisível

vigiará os meus gestos encadeados…

 

Porque no fundo obscuro do espelho

não vi só o meu rosto ao desnudar-se

quando à noite me olhei;

nele não estavam só

o meu golpe de garra e o seu uivo de gozo

a deleitar-se co’a intriga: um olhar de susto

recordo que também ali havia

e uma rápida fuga

que me cobriu de quartzo…

 

E me cravou esta lápide no peito.