LAIO OU O PODER
Cunha de Leiradella
www.triplov.org 16-01-2005
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CENA XII

APOSENTOS DE LAIO

Coro, Laio, Intendente, Fâmulo e Cortesãos

CORO

É, senhores, esta é a história verdadeira deste rei. Aos reis competem os palácios e os tronos. Mas dos homens são, sempre, a verdade e o futuro. Jocasta, senhores, vai ter um filho numa das alcovas deste palácio. A segurança de Tebas, agora, é fato consumado, dizem os arautos e os nobres. E nós, senhores? Que poderemos nós dizer? Dos homens são a verdade e o futuro. E de nós, senhores, que fomos cúmplices, porque nos calamos e aceitamos, o que será? Que nos reservará o futuro, a nós, que não soubemos ser homens, porque assistimos a tudo isto calados e omissos? Bom será, para todos nós, senhores, que alguém possa dar resposta a estas perguntas importantes. (Entra Laio.) A quem procuras, numa hora como esta, espreitando os cantos das paredes como se fossem esconderijos?

LAIO

A quem eu posso procurar?

CORO

A alguém que desejes encontrar.

LAIO

E existe esse alguém nesta cidade?

CORO

Existe.

LAIO

E eu conheço?

CORO

Conheces.

LAIO

É meu amigo, então?

CORO

Não. É o teu mais implacável inimigo.

LAIO

Tirésias?

CORO

Tirésias, mesmo intérprete das falas de Pítia, nada, agora, pode fazer.

LAIO

Então, quem? Quem, ó sábios, possui sabedoria capaz de responder às minhas perguntas e dar-me a paz de que tanto necessito?

CORO

Queres saber, realmente?

LAIO

Quem ó sábios, faz uma pergunta e não deseja uma resposta?

CORO

Aqueles que têm medo da verdade.

LAIO

E o que é a verdade, ó sábios? Acaso vós sabeis o que é a verdade, neste momento?

CORO

A tua verdade só tu a conheces.

LAIO

Eu quero é conhecer quem possa responder-me.

CORO

Olha-te naquele espelho.

Laio olha-se no espelho.

LAIO

Ó sábios…

CORO

Que vês?

LAIO

Ó sábios…

CORO

Não mintas.

LAIO

Não minto. Laio, ó sábios, não existe mais.

CORO

Pobre de ti que assim pensas e tentas justificar-te com tão frágeis argumentos.

LAIO

Que me aconselhais vós, então, que conheceis o passado e a quem o futuro parece não ser desconhecido?

CORO

Às perguntas de Laio só Laio pode responder. Se quiser. Mas eu te digo: O tempo não pára. Os dias sucedem-se aos dias e os anos sucedem-se aos anos. O que hoje fizeres, farás somente hoje. Apesar da tua vontade, nada retornará. Poderás até dizer as mesmas palavras e praticar os mesmos atos, mas os efeitos, esses, serão todos diferentes. Nem os dias, nem tu, serão os mesmos.

LAIO

Por que sempre me acusais?

CORO

Eu nem te acuso, nem te aconselho. Pobre daquele que se arvora em juiz ou conselheiro. Nada sabe e nada sente. Eu, simplesmente respondo à pergunta que me fizeste.

LAIO

E que resposta me dás, então?

CORO

Tu mataste os deuses de Tebas com um decreto, pensando que, mortos os deuses, acabaria a maldição. Talvez isso pudesse até acontecer, já que os deuses só existem por nossa causa. Mas tu cometeste um erro imperdoável. Mataste os deuses pensando só em ti.

LAIO

Foi necessário, ó sábios.

CORO

Mas perguntaste aos tebanos se eles queriam isso?

LAIO

Foi-me dito, ó sábios, que a escolha era só minha. E eu escolhi.

CORO

Escolheste. Mas olha para ti. Será que tu próprio acreditas no que fizeste? Tu mataste os deuses pensando que, com isso, compunhas tudo. Mas será que os tebanos deixaram de rezar, só porque os teus arautos leram o teu decreto?

LAIO

Eu agi de acordo...

CORO

Pobre do que age como tu. Coagido pelo medo.

LAIO

Laio, ó sábios, já não importa.

CORO

Então, não o lamentes. Lamenta, sim, os tebanos que enganaste.

Entram Creonte e o Intendente.

INTENDENTE

Senhor! Senhor! Tirésias aproxima-se.

LAIO

Quem? Quem se aproxima, Intendente?

CREONTE

Tirésias. Tirésias, meu cunhado.

INTENDENTE

Foi visto fora dos muros, senhor.

LAIO

Que dizes, Intendente? Tirésias em Tebas, desafiando o meu poder?

INTENDENTE

Foi visto fora dos muros, senhor.

LAIO

Prende-o.

INTENDENTE

Mas, senhor...

LAIO

Prende Tirésias, Intendente. É uma ordem!

INTENDENTE

Mas, senhor, o povo segue-o. Não posso prender todos os tebanos.

LAIO

Tens medo, Intendente?

INTENDENTE

Eu não tenho medo, ó rei. Mas ninguém luta contra seu povo e sai da luta vencedor.

LAIO

Intendente!

CREONTE

Para quê prender Tirésias agora, meu cunhado? Ou ele é inútil, porque não existem mais deuses em Tebas e o povo o deixará, ou não poderás prendê-lo, porque os deuses não morreram e o povo continua acreditando.

LAIO

Que esperas, Intendente?

CREONTE

E, mesmo que o prendas, acaso acabarão as tuas dúvidas?

LAIO

Cala-te. Um rei não tem dúvidas. Intendente!

INTENDENTE

Sim, meu senhor.

LAIO

Prende Tirésias.

INTENDENTE

Mas, senhor...

LAIO

Prende-o, Intendente! Mata todos os tebanos, se necessário, mas prende Tirésias. Quem ofende ao rei, ofende a Tebas.(Sai o Intendente.) Eu mostrarei aos tebanos o que é ser rei.

CREONTE

Isso, meu cunhado! Faz isso e eles te aclamarão!

LAIO

Por Zeus! Eu ainda sou o rei de Tebas!

CREONTE

Zeus está morto, meu cunhado. Ou já esqueceste que o mataste?

Entra o Fâmulo, seguido dos Nobres de Tebas.

MENSAGEIRO

Filho do divino Cadmo, Jocasta, a rainha, acaba de ter teu filho!

NOBRES DE TEBAS

Viva Laio, o rei de Tebas!

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