LAIO OU O PODER
Cunha de Leiradella
www.triplov.org 16-01-2005
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CENA XIII


TEMPLO DE APOLO

Decano, Tirésias, Creonte, Nobres de Tebas, Povo e Coro

Tirésias, com as insígnias de sacerdote de Apolo, Creonte e os Nobres de Tebas rodeiam o Decano, que apresenta ao Povo o Filho de Laio, recém-nascido.

DECANO

Filhos do divino Cadmo, cidadãos de Tebas, hoje é um dia de orgulho para todos nós! Desde Anfion e Polidoro, sempre os tebanos prestigiaram os seus reis e souberam expurgar do seu meio os traidores e os covardes. A fidelidade aos nossos reis foi um dom que os deuses nos concederam e que sempre nos honrou. Tebas, hoje, é o orgulho de toda a Grécia, filhos do divino Cadmo! Mas, para nós sermos o que somos, o caminho percorrido foi longo e traiçoeiro. Sacrifícios imensos nos foram impostos e todos passamos provações. Mas, com o vosso apoio, nunca esmorecido, conseguimos manter a nossa dignidade e a fé no nosso rei. Honra a vós, pois, cidadãos de Tebas, que sempre acreditastes no vosso rei! Sem a vossa colaboração valiosa, tebanos, hoje não estaríamos aqui, neste novo templo, construído por vós, ofertando ao deus Apolo pela paz, pela tranqüilidade e pela segurança de Tebas. A coragem de Laio, ao decretar medidas extremas, aliada ao vosso civismo, filhos do divino Cadmo, é que consolidou a nossa prosperidade e assegurou o futuro dos nossos filhos. A vós, pois, cabe a honra de ter suportado a adversidade, sem jamais duvidar, um instante sequer, nem perecer. Vós destes, nestes tempos difíceis que atravessamos, cidadãos de Tebas, a maior prova de amor à pátria que se conhece. Honra a vós, pois, que tanto e tão bem soubestes servir o vosso rei! Filhos do divino Cadmo, como prêmio do vosso sacrifício, por meu intermédio, Laio, o nosso muito amado rei, vos envia este presente. Seu filho e seu herdeiro! (Levanta nos braços o recém-nascido.) Eis, cidadãos de Tebas, a garantia do futuro tranqüilo desta cidade, que vós tão bem soubestes aguardar, sem nunca esmorecer!

POVO

Viva Laio, o magnânimo!

O cortejo, liderado por Tirésias, entra no Templo.

CORO

Se eu não fosse o que sou, senhores, eu vos diria que a paz voltou a Tebas. Mas, infelizmente, não posso enganar a mim mesmo. Os deuses ainda vivem, senhores.

APAGA A LUZ

 

CENA XIV

APOSENTOS DE LAIO

Coro, Laio, Intendente, Escravo e Jocasta

CORO

Senhores, cada homem é o que é e ninguém muda. Só os deuses são o que parecem. Neste momento, senhores, cada um de nós pensa no que viu e diz a si mesmo que tudo seria diferente, se estivesse ali, onde está aquele homem. Mas pensar não compromete, senhores. Ninguém adivinha pensamentos. Se adivinhasse, senhores, estaríamos nós aqui assistindo tudo isto, calados e impassíveis? Exatamente, como se nada nos pudesse acontecer? (Entra o Intendente.) Duvido, senhores!

INTENDENTE

Senhor, o escravo aguarda as tuas ordens.

LAIO

A rainha?

INTENDENTE

Repousa, senhor.

LAIO

Traz o escravo. (Sai o Intendente e volta com o Escravo.) Deixa-nos sós. (Sai o Intendente.) De onde és, escravo?

ESCRAVO

De Sicião, senhor.

Laio afasta a cortina do leito.

LAIO

Levarás meu filho a Sicião e lá o matarás. Que ninguém te veja, nem saiba o que fizeste e, em troca, serás livre.

ESCRAVO

Ninguém me verá, nem saberá, senhor.

LAIO

Vai. E que nunca mais eu te veja em vida, nem a ele.

ESCRAVO

Não verás, senhor. Eu te garanto.

Sai o Escravo com o Filho de Laio.

CORO

Eu sou o fugitivo da dor nos caminhos do meu ser.

Mas é em vão que carrego esta existência

com o peso da ilusão de que não sou.

Entra Jocasta.

JOCASTA

Onde está meu filho? Onde está meu filho?

LAIO

O nosso filho morreu.

JOCASTA

Eu sei que os deuses não te matarão. Se eles, realmente, existissem, já te teriam matado há muito por tudo que fizeste. Mas tu morrerás, de uma forma ou de outra, e o teu medo de morrer será o teu castigo. Maldito sejas tu e o teu eterno medo, assassino!

Sai Jocasta.

CORO

Senhores, a história de Laio termina aqui. O homem que ali vedes já começou a morrer. Aos reis competem os palácios e os tronos, senhores. Mas dos homens, que são homens, são a verdade e o futuro. E as nações, senhores, que, apesar dos reis, serão eternas.

APAGA A LUZ