LAIO OU O PODER Cunha de Leiradella www.triplov.org 16-01-2005 |
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CENA XI SALA DO TRONO DO PALÁCIO DE LAIO Coro, Dois Escravos, Laio, Creonte, Mensageiro, Decano, Nobres de Tebas e Intendente CORO Não há escolha, senhores. Vós sabeis que, agora, não há mais escolha. Às vezes, vós fingis que optais só para que os outros pensem que vós ainda podeis optar e vos invejem. Mas, agora, vós sabeis que não há mais opção. Agora, senhores, só vos resta esperar. Eu sei que é lamentável que não se façam mais discursos e não se distribuam mais medalhas. Mas, senhores, vós esqueceis que, agora, estais nus e não haveria lugar no vosso peito para pendurar as medalhas. Vós estais irreconhecíveis, senhores. Estais nus e na vossa testa está somente escrito o vosso nome, não a relação dos vossos títulos. Lamentavelmente, senhores este ofício não tem livro de presenças. De cumprimentos e de honras. Aqui, vós não podereis escrever o vosso nome seguido dos vossos títulos. Neste ofício, senhores, o nome dos vossos servos antecede o vosso, ainda que isso fira o vosso orgulho e vos humilhe. Lamentavelmente para vós, senhores, o tempo do faz-de-conta terminou. (Entram dois Escravos e limpam o trono.) Daqui em diante, senhores, vós caminhareis sozinhos. Acompanhados, apenas, das ações que praticastes. Os Escravos riem. Entra Laio. LAIO De que te rias, escravo? 1o. ESCRAVO De nada, senhor. LAIO E tu? Também te rias de nada? 2o. ESCRAVO Também, senhor. LAIO Ria de mim, escravo? 2o. ESCRAVO Não, senhor. LAIO De que te rias, então? 2o. ESCRAVO Ria dos deuses. LAIO Tu não temes os deuses, escravo? 2o. ESCRAVO Eu já sou escravo, senhor. LAIO E tu? Também não temes os deuses? 1o. ESCRAVO Não, senhor. Os deuses nada podem fazer a um escravo. LAIO De onde és? 1o. ESCRAVO Era de Sicião, senhor. LAIO Há dez anos eu vos derrotei. Entra Creonte. 1o. ESCRAVO Tu derrotaste o rei de Sicião. Não homens livres de Sicião. Laio puxa a espada e os Escravos saem, correndo. CREONTE Bravo, cunhado. Bravo! LAIO Que me queres? CREONTE Nada. Mas fico satisfeito por ver que ainda sabes puxar da tua espada. Pelo menos, na frente dos escravos. Entra um Mensageiro. MENSAGEIRO Os Nobres de Tebas desejam falar-te, ó ilustre. LAIO Que esperem. (Sai o Mensageiro.) Que mais querem os tebanos de mim? CREONTE Provavelmente, ver se já duvidas. LAIO E de que poderia eu duvidar? CREONTE Do que fizeste. LAIO O rei não tem dúvidas. CREONTE O rei não tem. Mas Laio tem. Para que achas que os deuses foram criados? LAIO Nícias morreu. Tu sabias? CREONTE Quem, em Tebas, não soube da morte de Nícias, o amigo de Laio? LAIO Por que teria morrido Nícias assim de repente, sem avisar? CREONTE Nícias morreu pela mesma razão que teu filho há de nascer. LAIO Que dizes? CREONTE Meu cunhado, aos Nobres de Tebas interessa Tebas, não Laio. Laio é, apenas, o rei de Tebas. LAIO E a ti que te interessa? Não és também um Nobre de Tebas? CREONTE Tu me fizeste um Nobre de Tebas, meu cunhado. LAIO E isso te basta? CREONTE Que mais pode desejar o cunhado do rei? LAIO Posso mandar matar-te. CREONTE Podes. Mas não o farás. LAIO O rei pode tudo. CREONTE Um rei pode tudo. LAIO Às vezes, tu ultrapassas todos os limites, mesmo sendo meu cunhado. CREONTE Tu é que pensas que ultrapasso. Mas eu não ultrapasso. Não há limites para o medo, meu cunhado. Ou se tem, ou não se tem. LAIO O rei não tem medo. CREONTE Então, eu não posso ultrapassar os limites. LAIO Que quererão os tebanos de mim? CREONTE Por que sempre perguntas, se sempre sabes a resposta? Mas, se julgas que ainda podes enganar-te, quem sabe eles te querem ajudar? Creonte dirige-se à porta. Entram o Decano e os Nobres de Tebas. LAIO Que quereis de mim? DECANO Cumprimentar-te, ó poderoso. 3o. NOBRE Agradecer a Laio... CREONTE O magnânimo, que dá a Tebas aquilo que Tebas dele exige. DECANO Filho ilustre do divino Cadmo, Tebas, hoje, se orgulha do seu rei e nós desejamos expressar-te a nossa gratidão. 5o. NOBRE Os nossos filhos, agora, já te são gratos, ó rei. 2o. NOBRE Graças a ti, o seu futuro já se apresenta tranqüilo, ó ilustre. 3o. NOBRE A nobre Jocasta dará a Tebas, finalmente, o herdeiro que tantos anos Tebas esperou. LAIO Por que não vejo Tirésias entre vós? DECANO Tirésias, ó ilustre? 2o. NOBRE Tirésias não se encontra em Tebas, ó rei. DECANO E que poderia Tirésias agradecer a Laio, agora? CREONTE A paz de Tebas, como vós. Não é ele também um tebano, descendente do herói Udeu, um dos fundadores desta cidade? 6o. NOBRE Tirésias, ó filho do divino Cadmo, era teu inimigo. 5o. NOBRE Instigava o povo contra ti, ó rei. Por isso, Tebas o expulsou. DECANO Tirésias conspirava, ó rei. LAIO E Nícias? Acaso Nícias também conspirava? DECANO Nícias se dizia teu amigo, ó ilustre, mas não obedeceu às tuas ordens. Quis ir a Delfos. 2o. NOBRE E quem não obedece ao rei, ó filho de Polidoro, é traidor. 5o. NOBRE Nícias e Milciades... LAIO Milciades? 5o. NOBRE Soubemos que acaba de morrer, subitamente, ó ilustre. CREONTE Meu cunhado, um inimigo morto é muito mais importante do que o melhor amigo vivo. DECANO Filho de Meneceu, os inimigos de Tebas são os inimigos de Laio e são, também, os nossos inimigos. CREONTE Quem não está comigo, está contra mim. Não é assim que dizem os velhos sábios? DECANO Nós estamos com Laio, o rei, ó filho de Meneceu. Entra o Intendente, correndo. INTENDENTE Senhor! Senhor! LAIO Por que me incomodas agora? INTENDENTE Senhor, o sol já se aproxima do seu zênite e ainda não foi distribuída uma só medida de trigo. LAIO Que dizes, Intendente? Não há mais trigo nos celeiros? INTENDENTE Trigo há, ó rei, e os guardas estão prontos. LAIO Então que esperas? INTENDENTE Os tebanos, ó ilustre. Até agora, nem os mendigos apareceram. LAIO Que todos os tebanos sejam convocados, Intendente. Eu, Laio, assim o quero. INTENDENTE Mas Tebas está deserta, ó rei. Os tebanos sairam da cidade! APAGA A LUZ |
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