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Dos elementos que poderiam ser referidos, quanto aos pontos que deverão ser levados em conta, ao pensar e elaborar a cristologia, saliento os seguintes, inspirando-me ainda em Adolphe Gesché: 1. Cristologia teo-lógica – Trata-se da revelação e acção de Deus em Jesus Cristo, e não simplesmente de um acontecimento histórico entre outros. A concentração na figura de Jesus Cristo não pode anular o facto de que, aqui, está em jogo a relação de Deus com o ser humano e vice-versa. A valência teológica – que tem a ver com a questão de Deus – não pode pois ser eliminada da cristologia, sob pena de reduzir o cristianismo a um movimento humano, com uma história própria e saliente, mas apenas um entre muitos outros, também de vastíssimas consequências. Eliminada a dimensão teológica da cristologia e do correspondente cristianismo, estaria eliminado o elemento fundamental da sua identidade. Para o cristão, isso significaria a redução da sua existência à inserção numa comunidade humana, numa cultura, numa visão do mundo, mas sem dimensão escatológica de salvação, por referência ao Senhor da vida, que apenas pode ser o próprio Deus. 2. Cristologia antropo-lógica – Trata-se da revelação universal da verdade do ser humano e, desse modo, da sua salvação, através de um sentido, no interior do sem-sentido da sua existência, marcada pela ambiguidade do absurdo do mal, com a sua manifestação máxima no pecado. A fixação teológica da cristologia poderá conduzir a reduzir o acontecimento e o significado da identidade de Jesus Cristo a simples relação intra-divina, neste caso intra-trinitária. Tudo o resto seria mera aparência, supérfluo acontecer num processo eterno, sem significado real para o ser humano. Por isso, a cristologia terá que ser, sempre, também antropologia, na medida em que nela se revela o próprio ser humano e o seu destino possível, acolhido em liberdade. O ecce Deus que significa sempre a identidade de Jesus Cristo – e a identidade cristã na sua referência teológica – não pode eliminar nem constituir alternativa ao ecce Homo que essa identidade também revela, realizando-o em plenitude. 3. Cristologia narrativa – Esta seria a forma de conjugação do sentido teológico de toda e história e de toda a existência com a sua realização antropológica, precisamente nas histórias que constituem as identidades humanas. A cristologia narrativa será capaz de colocar em mútua relação o ser e a verdade com a sua articulação histórica num sentido particular – como o sentido da história de Jesus e do cristianismo. Desse modo, pode evitar os dois extremos que acompanharam sempre o pensamento ocidental – e também a teologia, com especial incidência na cristologia. Trata-se, em primeiro lugar, de evitar a redução da dimensão histórico-pessoal e concreta da identidade de cada um, por referência à identidade de Jesus, a uma dimensão transcendental e abstracta, como se cada caso particular fosse um simples exemplar de uma essência geral, pré-determinada e eternamente estabelecida. Em segundo lugar e por outro lado, a cristologia narrativa – porque não se trata, simplesmente, de contar o que «aconteceu» – poderá conduzir a superar a redução da inserção histórica ao positivismo do que aconteceu e do que acontece – independentemente do seu sentido e do sentido universal da história e da humanidade. Repensar, no contexto de uma sociedade plural, a pertinência salvífica do cristianismo, a sua pretensão universal, sem recusar a potencial validade – não arbitrariedade – dos diferentes percursos históricos, é o desafio que se colocará a uma cristologia futura, cuja qualidade narrativa poderá vir a ser muito fértil. João Duque |
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