Sarmento Pimentel (O Capitão) – forte
personalidade, brilhante inteligência, temperamento irrequieto, espírito
audaz – deixou a sua marca na passagem pela presidência da Casa de
Portugal de São Paulo, a maior e mais abrangente das associações sócio
culturais luso-brasileiras da cidade, de que foi fundador (13/julho/1935)
e Presidente da Diretoria de 13 de março de 1940 a 14 de fevereiro de
1941.
Desde a fundação - e nos seus primeiros cinco
anos de existência – a Casa de Portugal de São Paulo, idealizada por
Ricardo Severo, teve uma existência atribulada, consequência do
individualismo dos e/imigrantes lusos, do egocentrismo de muitos, da
inveja de alguns e da vaidade de uns poucos, reconhecidos atributos da
idiossincrasia dos lusitanos, que sempre tumultuaram a nossa união e a
grandeza do todo, principalmente quando nos encontramos expatriados.
Sarmento Pimentel – espírito superior – abominava
mesquinharias, odiava rivalidades menores, desprezava pequenas querelas,
pelo que se manteve alheado das quezílias pouco nobres que ensombravam a
existência e o progresso da associação que ajudou a criar. Entretanto –
“quando viu o caso mal parado” – resolveu derrubar de vez os obstáculos
que alguns vinham criando, e que estavam impedindo a viabilidade do sonho
da Comunidade Portuguesa de São Paulo. E, como sempre, fez jus ao posto de
Capitão que o celebrizou.
Como militar, valeu-se da tática/estratégia
aprendida na Escola do Exército, e – após congregar os melhores
companheiros, atraindo-os para a sua causa – decidiu tomar a sede da Casa
“manu militari”, convocando uma reunião da Comissão Organizadora para 13
de março de 1940, da qual a comunidade teve conhecimento pela ata de
15/03/40, que em novo livro consubstanciou também o novo rumo imprimido à
associação pela nova diretoria. Eis a citada ata:
“Aos quinze dias do mês de março de 1940, pelas
vinte e uma horas, na sala de sessões da Casa de Portugal, â Rua
Riachueleo, número 30, sobrado (casa), nesta cidade de São Paulo,
reuniram-se, sob a presidência do sr. João Sarmento Pimentel, os senhores
que acima assinaram, e que assim tomam posse dos respetivos cargos na
Diretoria Central, conforme eleição levada a efeito pela Assembleia
Representativa, em sua reunião de treze do corrente”.
Estava salva a “Honra do Convento”, através de um
“golpe de Estado” que sem consultar o “regime” anterior tomou posse da
“Instituição”, impôs novo “governo” e serviu de “exemplo” para um outro
trinta e quatro anos depois. Esta ação de comando de Sarmento Pimentel
traduz – mais que qualquer outra – a personalidade do guerreiro de quem
estamos falando, que, passado apenas um ano, entregou a diretoria e a Casa
a um novo e conceituado grupo de patriotas, a quem se ficou devendo a
construção do “Palácio” sede da Casa, que ainda hoje honra a Comunidade
Luso-brasileira de São Paulo.
Sem apego a cargos e ou funções – que
“dignificam” aqueles que os deveriam HONRAR – o Capitão foi Presidente da
Casa apenas durante um ano, tempo suficiente para “varrer o lixo,
desinfetar o ambiente e trocar de móveis”, para que não restassem “vírus,
bactérias ou quaisquer infecções residuais”, que impedissem o sadio
progresso da Casa Mater dos portugueses desta capital. E anos mais tarde,
o seu nome foi dado a um grande Colégio Estadual do bairro de Itaquera,
onde os seus pedagógicos exemplos servem de lição a milhares de jovens
paulistanos.
São Paulo, 15 de fevereiro de 2016
José Verdasca
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