HERBERTO HELDER EM SÃO PAULO / Floresta - Mata Atlântica
Foto e textos: Estela Guedes
14-09-2005 www.triplov.com

Previous Home Next

floresta

São Paulo cresce em cimento e fervilhar de almas no meio da Mata Atlântica. O tempo nublado, frio, e as fotografias a darem conta disso mesmo.

Como mostrou Maria Alzira Brum Lemos, na primeira imagem, a minha viagem ao Brasil este ano teve vários objectivos, o primeiro dos quais travar conhecimento pessoal com os membros da Alta Venda Carbonária do Brasil, com o fim de receber instrução, necessária para descodificar zonas de discurso semi-clandestinas em textos de História Natural. A interferência destes discursos, quando usam o erro como código, altera o significado do texto. Como a quantidade de textos nestas condições é muito grande, e de resto já se vai verificando que o recurso ao código do erro e a outros códigos nem é exclusivo dos maçons nem do naturalismo, alastrando à História, à Hagiografia, etc., como série de variados recursos retóricos para iludir censuras, achei necessário criar dispositivos de alerta para os leitores. Os alertas têm sido a divulgação do problema, com o apoio de algumas pessoas e instituições, entre as quais é necessário referir agora a Maçonaria Florestal Carbonária do Brasil e a Fundação Calouste Gulbenkian, que financiou a viagem a Curitiba, com a finalidade expressa de trocar informações com os Carbonários e receber deles a devida instrução. O que aconteceu em Curitiba, cidade onde se localiza a Alta Venda Carbonária, está documentado no TriploV (1).

Como a viagem tinha por mais forte tema a Maçonaria Florestal, foi a floresta e a jardinagem o veio semântico escolhido para analisar a obra de Herberto Helder. O texto foi publicado na revista Boca do Inferno (Câmara Municipal de Cascais, nº 10, 2005), e está em linha no TriploV (2).

 

(1) Provas de fogo na Rua dos Carbonários.
http://triplov.com/carbonaria/social/agosto_2005/index.htm

(2) Magia e rito florestal em Herberto Helder.
http://triplov.com/estela_guedes/magia_rito_hh/index.htm

FONTE I

Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.

Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.

Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.

Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.

HERBERTO HELDER