É uma pergunta que se pode fazer a outras associações ou ordens, seja a dos Pregadores, seja o Grande Oriente Lusitano: o que podem fazer pessoas com perfil combativo, em tempo histórico esvaziado de grandes causas e missões, por terem sido alcançados os objectivos delas? Uma vez alcançada a democracia, e com ela a liberdade religiosa e política, uma vez alcançado um regime em que se contemplam os direitos do cidadão, a justiça possível para todos, etc., em que se ocupam pessoas que por índole pertencem à esfera da liderança de grupos?
Já o referi várias vezes: a história dos carbonários está vinculada a acções políticas concretas, a grandes missões que exigiram a sua participação como guerreiros (1). Na sombra, um exército clandestino foi o primeiro motor do derrube da monarquia em Portugal. O regicídio foi obra de carbonários, acto aliás não premeditado, segundo se diz, pois que na mira das pistolas estava nesse dia João Franco e não a família real. De qualquer modo, diferentemente de outras ordens ou associações secretas dos nossos dias, a Carbonária exige dos seus membros a posse de arma de fogo.
E as pessoas continuam a interrogar, inquietas: perante tal perfil, o que fazem os carbonários? Isto é, o que fazem eles no TriploV, por S. Teobaldo?!
Estamos fartos de o saber, desde a história da Chioglossa lusitanica: há naturalistas carbonários (2). O naturalista-explorador, em especial, é um indivíduo que anda armado e com licença para tal. Ele tem de caçar e de pescar para reunir as suas colecções. Desde elefantes até pardais, caça presas de porte muito diferente, por isso as armas que usa são variadas. Divergem até de acordo com as posses ou a generosidade de quem os incumbe das tarefas: D. Carlos, por exemplo, presenteou José de Anchieta e Francisco Newton (3) com armas que eles consideraram realmente muito boas: espingardas de dois canos de carregar pela culatra, o que, por volta de 1885-1890, devia ser o cúmulo da sofisticação, comparando com as espingardas de carregar pela boca. Os biógrafos de Anchieta contam que no seu laboratório improvisado na Caconda tinha armas de todo o tipo, decerto para livrar a região de uma espécie caracteristica da fauna feroz angolana, os lobos... Qualquer carbonário brasileiro entende a barraca implícita nestes dados biográficos, sabendo que não há lobos em África (4). Se ler os textos em linha sobre a Carbonária (menu em cima), verificará que lobos é o nome dado aos inimigos, e que pôr o templo a coberto deles é uma das funções explícitas nos rituais.
Já sabemos então o que fazem os carbonários no TriploV: protegem a nossa barraquinha...
Tomemos o caso exemplar de Walmir Battú, que começou por ser fuzileiro naval na Marinha de Guerra do Brasil, depois foi professor e delegado da Polícia, tem altas credenciais da Confederação Brasileira de Karatê de Contacto, e é actualmente perito em investigações criminais. Características, lemos na contracapa do seu livro, "Desaparecimento, Drogas e Sequestro", que o colocaram em "missões de grande responsabilidade governamental, tanto em operações especiais da Marinha, como da comunidade de informações e operações policiais".
Não sendo escritor, Walmir Battú preocupa-se em transmitir por escrito as suas preocupações e recomendações, por isso tem vários livros publicados que revelam as actividades em que está envolvido: "O novo manual do detective privado", "A falência da Polícia" - o autor acha que a instituição policial não tem flexibilidade, a sua acção é pesada, lenta, e além disso está minada pela corrupção -, "Glossário e gírias das drogas", "Manual de Karatê de Contacto", "A Carbonária", etc..
Estas actividades, desenvolvidas na linha do heroísmo, ainda não satisfazem os que se interrogam acerca do que podem fazer hoje os carbonários, pois seguir, ainda que pouco à letra, o lema da Carbonária - Liberdade, Igualdade, Humanidade - exige um projecto de vida voltado gloriosamente para os outros: não basta ser herói, também é preciso ser santo.
A Maçonaria tem na sua história um largo currículo de actividades sociais, especialmente de beneficência e socorro mútuo. É neste domínio que o carbonário melhor se revela, e não como Faixa Preta 3º Dan. Walmir Battú preside à direcção do Bureau Internacional de Busca a Crianças Desaparecidas, uma instituição filantrópica, que aceita voluntários para colaborarem nas buscas, em todo o mundo. Este Bureau, cujo email vamos apontar - atendimento@interbureau.org -, está no centro das preocupações do livro, que não informa apenas, também critica a política dos governos nestes domínios e instrui o cidadão nas medidas a tomar em caso de jovens tóxico-dependentes e de desaparecimento de crianças.
Apontámos o email do International Bureau Of Missing Children Investigation porque às vezes acontece recebermos emails com pedidos de auxílio para encontrar crianças, e agora já sabemos o que fazer: reencaminhamos o email para atendimento@interbureau.org. O Bureau tem meios para verificar se o pedido de ajuda é verdadeiro ou terrorismo informático. Sendo verdadeiro, poderá ajudar.
O que fazem os carbonários? - perguntais vós. Fazem imenso, como ilustra o caso de Walmir Battú, fundador da Grande Loja Carbonária do Brasil e da Loja Carbonária Joseph Garibaldi nº1, Campo Grande-Ms. Em muitos países, os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, por que se bateram os maçons em geral, são hoje realidades. Porém há muitos em que tal não aconteceu ainda. E mesmo naqueles em que reina a democracia, como o Brasil e Portugal, há muito ainda a fazer. As condições estão criadas, mas os sonhos ainda não se realizaram completamente. Como diria Pessoa, referindo-se ao nosso país: "Falta cumprir-se Portugal".
Os exércitos paralelos é neste espaço de falta que combatem. O cumprimento da missão implicaria reduzir a utopia a uma prática política. Tal não aconteceu, a utopia mantém-se latente. E enquanto a utopia tiver o seu correlato apoio do mito em acção, os carbonários terão sempre muito que fazer, para que o sonho se cumpra. |