LUCIEN DE ANGELIS
A Aventura Rosacruz

1. APRESENTAÇÃO

2. ORIGENS

3. A ROSACRUZ: FATO OU FANTASIA?









Dat rosa mel apibus
(A rosa dá mel às abelhas)

3. A ROSACRUZ: FATO OU FANTASIA?

Após examinar o entusiasmante conteúdo dos manifestos, é natural que muitas questões despontem na mente do estudante que se aventura na pesquisa do símbolo rosacruciano. Dessas tantas intrigantes questões, provavelmente, duas assumem o caráter decisivo no processo de interação dos fatos que os envolveram. Assim, todos perguntarão: quem, na verdade, é o responsável pela descrição da saga do Irmão CR, e quem escreveu os três manifestos? E a Ordem Rosacruz em si, seria puramente uma alegoria, um mito, uma fantasia, ou seria de fato o fruto de uma incrível realidade mágica, que poderia estar ao alcance de qualquer um?

Para essas vitais questões sobre a realidade ou não do advento Rosacruz, nós provavelmente não teríamos nenhum indício de resposta, caso não fosse encontrado na autobiografia de Johann Valentin Andreae uma declaração, com ares de confissão, de que teria sido ele o autor das Bodas, escrita em 1605, bem antes de sua publicação, quando Andreae contava com apenas dezenove anos de idade.

Alguns pesquisadores e especuladores, tendo esse dado como única base concreta em todo o material de pesquisa, vão mais além, afirmando que o próprio Andreae, não só era o responsável pelo Bodas, mas também teria escrito tanto a Fama quanto a Confessio.

Com esse novo personagem, uma outra questão desponta: quem foi Johann Valentin Andreae e qual o seu papel nessa história?

Andreae nasceu em 1586, no estado luterano de Württemberg. Sua família, tradicionalmente de origem católica, teria se convertido ao protestantismo, sendo que o seu avô, Jacob Andreae, fora um dos primeiros expoentes e pioneiro da reforma luterana, chegando a ser conhecido como "o Lutero de Württemberg". Nascido em berço protestante, Andreae, através de seu pai, também logo tomaria conhecimento do simbolismo alquímico, matéria de enorme interesse para o meio erudito da época. Após a morte de seus pais, Andreae , se estabelece em Tubinga.

Nessa época, na passagem do século XVI para o século XVII, a Europa, ainda agitada pelas conseqüências promovidas pela reforma luterana, vivia em meio a toda ansiedade provocada por um sem número de pequenos grupos independentes, os mais variados possíveis, que acalentavam sonhos reformistas a procura da sociedade ideal.

Normalmente, esses grupos eram formados por idealistas, filósofos, e, de modo geral, por pessoas bem instruídas e inteligentes. Andreae veio a participar de um desses grupos, que ficou conhecido pelo nome de Círculo de Tubinga.

Este Círculo teria fundamental importância na formação dos ideais do jovem Andreae, sendo creditado a este movimento, o alicerce dos belos ideais apresentados na forma dos três manifestos rosacruzes.

Alguns anos mais tarde, porém, em sua autobiografia, Andreae renegaria totalmente não só a versão fatual da saga do místico Cristian Rosenkreutz, como também afirmaria que tudo aquilo concebido como sendo "rosacruz" não passava de um grande “ludibrium”, propositadamente elaborado e sem nenhuma fundamentação histórica.

Não se sabe ao certo se essa "confissão" de Johann Valentin Andreae fora movida por um repentino senso de honestidade e consciência ou versão essa preferida pela maioria dos estudantes tivesse como sua causa a violenta reação e a forte pressão que a Igreja Católica exerceu diante da possibilidade Rosacruz e sobre muitos grupos com tendências reformistas.
Então, conhecidos os três manifestos, sua suposta origem e autor, como também algumas razões do aparecimento público de uma suposta organização secreta, como dito anteriormente, duas tendências principais são estabelecidas:

A primeira aponta para uma decisiva negação de toda a lenda, a demanda e a própria existência do ilustre Irmão Cristian Rosenkreutz, artífice místico da Fraternidade Rosacruz. Para os defensores desse ponto de vista, partindo do princípio que o próprio autor, dos três manifestos que dão sustento a toda a saga Rosacruz, faz uma pública retratação, afirmando que tudo nãop passou de um "trote", um engodo desnecessário, então tudo aquilo que de um modo ou de outro, direta ou indiretamente, está relacionado ao tema, tudo, absolutamente tudo, é falso, não merecendo, inclusive, sequer comentários.

Muitas vezes, aqueles que adotam a postura acima são enfáticos em afirmar que tudo não passava de uma "farsa" protestante mal articulada.

Até mesmo o nome Rosacruz seria de origem protestante, pois teria vindo das insígnias de Lutero, afinal, ali era encontrada uma rosa. Também é feita uma associação entre o Brasão da família Andreae com o mote Rosacruz, visto haver ali algumas rosas e também uma cruz...

A segunda hipótese, sob certo ponto de vista histórico bem menos rígida que a outra, agrada muito mais a mente especulativa e romântica, pois vem endossar a idéia de que realmente existiu uma Fraternidade Rosacruz.

Nesse caso, a Fraternidade Rosacruz consistiria de uma ordem oculta às mentes profanas, que trabalhava em total segredo, visando a evolução do ser-humano e da sociedade que o nutria. Essa Ordem, cujos Iniciados estariam habilitados a se reconhecer mutuamente sem despertar a atenção do cidadão comum, era invisível e, embora praticamente inacessível ao vulgo, teria a capacidade de reconhecê-lo e o poder de contata-lo, com o propósito de que essa feliz alma ingressasse em suas fileiras, caso a mesma estivesse em sublime conformidade com os nobres ideais divulgados nos manifestos. Uma vez por ano, os Iniciados desse Colégio Invisível, se encontrariam em um misterioso local, com o objetivo de, através da troca de experiência, aumentar ainda mais o conhecimento de cada um deles.

Porém, mesmo conhecendo essas duas hipóteses, certamente inteiramente opiniões contrárias em conhecimento, metas e sentimento, não seria difícil ventilar, mesmo que também no campo das hipóteses, ainda uma terceira possibilidade para toda a Aventura Rosacruz.

E esta nova suposição, apreciada pela alma que anseia o mistério e bem tolerada pelo espírito crítico, possivelmente trará luz a ambos.

Talvez o problema não seja crer ou não crer na Aventura Rosacruz, mas entendê-la. Talvez a solução para o enigma não esteja meramente no cego aceitar de uma lenda sem fundamentação fatual, mas também ele não estará em um frio parecer histórico condenando toda a alegoria.

Porém, podemos tentar absorver seu significado mítico.

Assim, talvez seja de bom grado se pudéssemos entender todo o processo que compreende a alegoria rosacruz: a vida de seu suposto criador e mentor, Frater CR; sua longa jornada em busca de um conhecimento superior, com os sábios do Oriente distante; o retorno a sua terra natal, na tentativa de organizar uma augusta Fraternidade que brindaria a humanidade com dias mais gloriosos; etc. Tudo funcionaria como um mito, ou um rito, a ser realizado no íntimo de todo estudante.

Afinal, é difícil supor existir alguém que, uma vez tendo a chance de examinar, mesmo que de relance, a epopéia de heróis fantásticos, não tenha se sentido inclinado a imaginar-se na pele do herói observado.

E quanto a aventura Rosacruz, bem, ela parece continuar...

E que assim seja.

Amor tenet omnia.