A primeira dificuldade que o termo Rosacruz trás está relacionada com o montante de material para pesquisa. Ele é vastíssimo. Contudo, tanto para a horror do pesquisador com moderado senso crítico quanto para o delirante deleite das mentes menos afortunadas, esse material, como enfaticamente afirmado por Yates, é imprestável em sua grande maioria.
Mas, se a primeira dificuldade está justamente na qualidade do material para pesquisa, seguramente um dos pontos mais polêmicos do estudo dessa matéria, diz respeito a origem da Rosacruz.
Alguns são enfáticos na fantástica afirmação de que ela tem suas raízes no antigo Egito por volta de 1500 a.C., na XVIII Dinastia, na época de Thutmosis III, considerado um dos maiores faraós de toda a história egípcia.
Segundo esses mesmos autores, algumas décadas depois, Amenofis (ou Amenhotep IV), também conhecido por Akhenaton, teria sido iniciado nos mistérios da irmandade esotérica organizada por seu predecessor, Thutmosis III. O então iluminado Akhenaton, inspirado pelos novos ensinamentos e mistérios, adotaria o regime monoteísta de religião, com seu culto ao Deus único Aton, dando início a um novo áureo tempo à civilização egípcia. Certos autores vão ainda além, afirmando ou insinuando que o próprio faraó Akhenaton teria sido, nada mais nada menos, que o fundador da Rosacruz.
Muito embora existam os que considerem o faraó Akhenaton um iluminado, etc, a história não é lá muito cortês com sua pessoa. Alguns historiadores apenas o citam como tendo sido um militar totalmente fracassado, responsável pela ruína de parte de seu império; outros o têm como um alienado, cujo delírio monoteísta o levou a viver "isolado enquanto o reino mais antigo do mundo ruía desgovernado, esquecido e muitas vezes revoltado".
Provavelmente a verdade sobre o desempenho de Akhenaton à frente do império egípcio esteja em algum ponto entre esses dois pólos, mas não caberia aqui essa investigação. Entretanto, tenham sido ou não grandes nomes para o antigo Egito, não existe sequer um confiável argumento histórico (seja na história oficial ou não) que comprove a fundação da Rosacruz por algum faraó, ou mesmo que ponha a origem dessa fraternidade nas terras banhadas pelo Nilo.
Contudo, não podemos deixar de dizer que, como indicado por tantos autores, parece existir um conhecimento perene e ancestral que acompanha o ser humano em sua escalada evolutiva. Sendo assim, é possível supor que este conhecimento, que foi preservado através dos tempos e das civilizações, estivesse presente em nosso mais remoto ancestral, e quiçá antes dele. Deste modo, não seria de todo absurdo supor que o sistema de pensamento e a filosofia rosacruciana fizessem parte de um todo maior, cujas raízes se fundem na antigüidade da própria tradição oculta ocidental.
Ao que tudo indica, a própria origem do termo rosacruz está no nome de um certo, Cristian Rosenkreutz, personagem principal de uma das lendas mais notáveis que a imaginação do homem concebeu, que teria vivido nos séculos XIV e XV.
A despeito de qualquer origem fantástica que possamos atribuir à Rosacruz, atualmente existem duas hipóteses que a pesquisa indica como sendo as mais prováveis. Ambas têm raiz nos bem conhecidos manifestos rosacruzes lançados na Europa a partir da segunda década do Século XVII.
O primeiro desses três manifestos levava o título (abreviado) de Fama Fraternitatis, aparecendo impresso por volta de 1614 em uma pequena cidade chamada Cassei, na Alemanha. O segundo manifesto, conhecido de modo genérico por Confessio, viria à luz no ano de 1615, simultaneamente em Cassei e Frankfurt. O terceiro e último manifesto, As Bodas Químicas de Cristian Rosenkreutz, foi levado a público em 1616, publicada em Estrasburgo.
Vale lembrar que, quando do aparecimento público desses três manifestos, sua autoria não era conhecida. Apenas alguns anos depois - como veremos mais à frente - é que apareceria um suposto autor para o terceiro dos manifestos, as Bodas.
Porém do que tratavam esses três documentos?
O primeiro deles, Fama, apresenta a vida do fundador da Fraternidade Rosacruz, o monge Cristian Rosenkreutz (Irmão C.R.), nascido na Alemanha em 1378, e sua viagem à terra sagrada. Durante a sua jornada, o Irmão CR, após a morte de seu companheiro de senda, se desvia de seu itinerário original e chega a Arábia, onde o então jovem monge passaria a receber misteriosas instruções secretas. De posse desse conhecimentos Rosenkreutz volta à Europa com o intuito de tornar público o seu novo saber. Após uma série de dificuldades, Rosenkreutz é rejeitado. Voltando para a Alemanha, ele é ajudado por quatro Irmãos na tradução do misterioso Livro "M", cujo conhecimento deveria ser mantido em segredo até que a humanidade estivesse devidamente preparada para recebê-lo.
Assim, é criada a Fraternidade Rosacruz, com o intuito de manter o conhecimento daquele grupo de Iniciados.
A Fraternidade Rosacruz, segundo a concepção de seus primevos criadores, funcionaria tendo os seguintes seis preceitos e regras básicas, a serem estritamente observados:
• Estavam proibidos de exercer qualquer profissão, a exceção daquela que curaria os enfermos, e isso a título de caridade.
• Não deveriam usar trajes que os distinguissem da população local, como acontecia com o clero e ordens religiosas, mas antes, deveriam passar como se fossem habitantes dos locais onde eles estivessem.
• Todos tinham a obrigação de estar presentes em um dia previamente marcado, denominado de "Dia C", primeira aparição na sede do Espirito Santo, onde todos os rosacruzes deveriam se reunir, anualmente. No caso de impossibilidade, explicar por escrito o motivo da ausência.
• Cada Irmão Rosacruz deveria procurar e, no caso de encontrar, informar a existência de pelo menos uma pessoa de valor que pudesse sucedê-lo, quando necessário.
• As Letras CR seriam o selo maior de reconhecimento.
• A Confraria deveria permanecer oculta por pelo menos um século.
Todos os Irmão Rosacruzes daquela época juraram absoluta fidelidade a esses seis preceitos.
Em suma, além da jornada do Irmão CR e da organização da Fraternidade Rosacruz, o Fama expõe a situação do mundo naquela época, apresentando os propósitos da Fraternidade e, por fim, os objetivos a serem alcançados através do conhecimento obtido e ensinado. primeiramente por Rosenkreutz.
O terceiro documento Rosacruz era o maior entre todos estes até aqui apresentados. As Bodas Químicas de Cristian Rosenkreutz narrava, de forma alegórica e fantástica, o suposto casamento alquímico - do fundador da Fraternidade, quando este já contava com oitenta e um anos de idade. Rosenkreutz, teria ficado durante sete dias inteiramente absorvido por um enlace místico repleto de visões, jornadas ritualísticas e representações enigmáticas.
Estes três pequenos livros foram o suficiente para causar um alarde sem igual em toda a Europa do século XVII. A cada aparição de cada um destes documentos, a fértil imaginação setecentista era tomada de assalto por um crescente desejo comum de busca pela tão estimada e invisível fraternidade criada por Cristian Rosenkreútz. Porém, onde a encontrar?
Como resultado de toda euforia rosacruciana, vários foram aqueles que tentaram estabelecer contato com esses Iniciados.
Como conseqüência imediata desta frenética busca, um grande número de obras foram editadas, sempre tendo como base os manifestos rosacruzes. Nomes como Michael Maier e Robert Fludd apareciam como admiradores das doutrinas rosacruzes.
O próprio Maier, que na época já era uma figura de destaque em toda a Europa, se transformaria em um dos mais fervorosos defensores dos Rosacruzes. Durante esse período, uma série de organizações também teriam a sua vez nos anos que se seguiram a publicação dos primeiros manifestos rosacrucianos.
O mito Rosacruz estava finalmente estabelecido.
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