S. Hawking, nomeado por João Paulo II, em 1986,
membro da Pontifícia Academia das Ciências, no livro “Breve
Historia do Tempo”, ainda não tinha dispensado
o Criador do universo, embora já estivesse convencido que "se nós
descobrirmos uma teoria completa... então nós conheceríamos a mente
de Deus". Agora, com a Teoria M, Deus é dispensado da obra da
Criação e do recurso embaraçoso aos Milagres. Espero que Deus lhe
agradeça este alívio e que certos teólogos não se aborreçam de
ficarem desempregados. Ficam com mais tempo para a “desconstrução”
de conceitos idolatrados.
Por mim, gosto que Deus tenha sido desatado das
provas ou vias que nunca se sabia onde iam dar e passe a ser
invocado e louvado como mistério da pura gratuidade do Amor, tão
celebrado por S. João. Aleluia!
2. Não me importa nada que na Física se procure
“a teoria de tudo”, mas não gostaria que o modelo transitasse para
outros campos e, sobretudo, para as práticas sociais, éticas,
políticas e religiosas. As vítimas de certezas absolutas e de
previsões pseudocientíficas de progresso infinito já foram tantas,
que talvez seja aconselhável alguma modéstia. A Sabedoria não é
inimiga da ousadia, mas cultiva o sentido da boa medida. A boa
medida não é o abandono à mediocridade. Todos os impérios foram e
são filhos da loucura que tudo sacrificam por amanhãs que cantam.
Ser grande, tornando os outros pequenos, é preparar a própria ruína.
No entanto, ainda vai levar tempo a compreender que dominação não é
poder. O verdadeiro poder é uma especial capacidade de servir, de
tornar as pessoas mais pessoas e não as reduzir a números ou
mercadorias. Os seres humanos não podem ser usados como meios. Não
têm preço, têm dignidade a respeitar e a promover. Reduzi-los a
mercadoria é praticar, de forma clara ou encapotada, a escravatura e
rasgar a célebre Declaração dos Direitos Humanos.
É duvidoso que hoje, na conjuntura em que nos
encontramos, fosse possível obter o mesmo consenso que teve a seguir
à II Guerra Mundial. Quando, porém, se vê o que está a acontecer em
diversos países, é difícil falar de primavera árabe. Assistir ao que
se está a passar na Grécia – com consequências em toda a Europa- é
legítimo perguntar se foi escolhido o bom caminho para enfrentar uma
crise de várias dimensões. A sabedoria política foi trocada por
ajustes financeiros completamente desajustados às características de
cada país e aos interesses do conjunto da Europa. Transformar as
medidas financeiras em “teoria de tudo” é arriscar-se a dar cabo de
tudo.
Depois de tantos tratados para realizar a UE, em
vários países já se discute se poderemos viver juntos. Havia alguma
predisposição para dizer que sim. A imigração dos anos 60 e 70 do
século passado, em condições lastimáveis, misturou, apesar de tudo,
os europeus e não só. No entanto, o que foi feito para que todos
sentissem que a Europa também era sua e tarefa de todos, a nova
pátria comum? Sem pluralismo vivido em diálogo de cidadãos, de povos
e culturas diferentes, crescem os guetos e os movimentos
nacionalistas.
3. O desígnio da Igreja é universal, mas
passaram-se décadas a sublinhar as raízes cristãs da Europa. Com
razão. É verdade que as Igrejas, depois da separação no século XVI,
não deram bons exemplos de respeito mútuo e de colaboração. Até à
guerra recorreram. Cada uma pensava que tinha a “teoria de tudo”
acerca de Deus, da verdadeira Igreja e do mundo.
Já não estamos aí, mas o movimento ecuménico
continua muito anémico e incapaz de desenhar um programa comum para
a proclamada Nova Evangelização.
50 anos depois do Vaticano II, muita gente se
queixa de que a união da Igreja Católica não é procurada nem
promovida pelo respeito do pluralismo e do diálogo, mas pelo
centralismo e pela exclusão das vozes e dos movimentos discordantes.
Em vez de uma Igreja de todos e para todos, desenvolvem-se esquemas,
preceitos e medidas que levam à pergunta: E nós, deixamos de ser
Igreja?
Os movimentos cristãos dispõem de uma energia
espiritual, de uma experiência junto dos mais pobres, dos doentes e
dos excluídos, que devem contagiar aqueles que têm a “teoria de
tudo”, mas não sujam as mãos na acção concreta. |