|
O corpo de Jorge Lima Barreto estará em câmara
ardente na Igreja de Santa Joana Princesa, em Lisboa, a partir das
17h de domingo. Daí seguirá, na 2ª feira, às 16h, para o crematório
dos Olivais, em Lisboa.
Ligado às músicas mais exploratórias, experimentais e improvisadas,
a solo ou em formações como os Telectu e AnarBand, Jorge Lima
Barreto, nascido em 1949, licenciou-se em História de Arte (1973) e
doutorou-se em Musicologia e Teoria da Comunicação Social na
Universidade Nova de Lisboa (1995), tendo desenvolvido em simultâneo
à actividade de músico, produção como documentador e musicólogo,
tendo editado quase uma vintena de títulos dedicados a diversas
músicas, relacionando-as historicamente, como “Revolução jazz”
(1972), “Jazz-Off” (1973), “Rock Trip” (1974), “Rock & Droga”
(1982), “Música Minimal Repetitiva” (1990), “JazzArte” (1994),
“Música e Mass Media” (1996), “Musa Lusa” (1997) ou “B-Boy” (1998).
Mas foi com os Telectu, o duo de música experimental formado em 1982
com Vítor Rua (vindo da formação original dos GNR), que viria a
conhecer maior projecção, tendo a dupla actuado um pouco por todo o
mundo. Vindo da tradição do jazz, Jorge Lima Barreto incorporou nos
Telectu uma grande variedade de elementos musicais, que iam do jazz
mais livre à electrónica, passando pelo minimalismo ou pela música
concreta. Ao longo de trinta anos de carreira, editaram uma volumosa
discografia de mais de vinte títulos – de estúdio ou registados ao
vivo – tendo colaborado com inúmeros músicos de excepção, da música
improvisada ou experimental, como Elliot Sharp, Chris Cutler, Sunny
Murray, Jac Berrocal ou Carlos Zíngaro. Em simultâneo, compuseram
também música para teatro, vídeo-arte ou performances multimédia.
Projecto singular durante muitos anos na paisagem musical
portuguesa, os Telectu, pela sua natureza, sempre em conjugação com
outras áreas artísticas, e pela forma como recorriam à ironia,
criando situações surpreendentes, nem sempre se sentiram
compreendidos no contexto português, onde as linguagens mais
exploratórias são quase sempre relegadas para plano secundário.
Personalidade inquieta, Jorge Lima Barreto sempre orientou a sua
actividade pela procura de novas soluções interpretativas e
composicionais, ao mesmo tempo que procurou estar actualizado com os
desenvolvimentos tecnológicos no campo da música.
In: O Público, 9.07.2011.
Em linha em:
http://www.publico.pt/Cultura/morreu-o-musico-jorge-lima-barreto_1502125 |