MODELOS CRIMINAIS / O diabo (fora) do tempo Hélio Rôla (pintura) & Floriano Martins (textos) 19-01-2005 www.triplov.org |
11 O DIABO (FORA) DO TEMPO Nus e agitados pelo caminho correm o Diabo e uma sombra, e ninguém escuta como desfalecem o tempo em amorosa zombaria. A quem lhe diga: “Não percas tempo com o Diabo”, a sombra, ao julgar-se seu Eu, enroscando-se em efêmera invisibilidade, contesta: “O tempo não passa do abraço inumerável do Extravio”. E, adiante, enquanto expandem as trevas, e tornam a morte ainda mais incerta, chafurdam nas raízes do mundo e se riem da grandiosa necessidade dos poetas sentirem-se imortais. “Apenas a ignorância é insaciável” – “Qual tolo tropeça no que lhe transborda?” – Já não se sabe quem fala, o Diabo ou a sombra que se esgueira por toda cena. Qual sede o enigma busca alentar com seu relógio d’água? Como acreditar que o instinto venha a interessar-se por limites? Qualquer um que converse com seu espectro, sabe que o tempo se ri por trás do cromo do firmamento, e que não há moldura para o acaso. Os mortos que nos são queridos vão e vem, precipitam-se sobre a insônia e a dor, não ligam a mínima para o real alcance dos seres vivos. “Não há morte adentro se não há vida adentro” – “Sabedoria alguma se deixa gastar pelas convulsões da clemência” – “Não há demência arrazoada”. E quando o Diabo soluça, a própria sombra se ri dele. |