MODELOS CRIMINAIS / O diabo da autópsia
Hélio Rôla (pintura) & Floriano Martins (textos)
19-01-2005
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12 O DIABO DA AUTÓPSIA

Em que parte de si o morto se esconde? Desde quando se tornou seu adversário supremo? Não sei se devo propagar seus passos. A figura do apóstolo confundiu-se com a do livro. A propagação vulgarizou-se. Todos os homens são livros, até que sejam deslidos ou despublicados. O que era para ser pronúncia tornou-se retratação. Quantas vezes usar betume para pregar a memória de um homem à sua própria tez? Com que alicerce contar, quando ninguém quer lembrar-se de si? Tratar então da necropsia da memória perdida do ser? O homem explode em si em pecados e não triunfa além deles. Jamais deixou de triunfar e tampouco propôs rever a idéia de pecado. Um conceito gasto? O triunfo justifica-se por si mesmo e os tolos acabam sendo os maiores pecadores, por verem perversidade e tortura onde não há senão conquista. É sempre o mesmo cadáver podre o objeto da afirmação de uma época. Nem mesmo o defunto poderia imaginar que durasse tanto. Não importa ser superior ou inferior a Deus. A moral é mais perversa do que a memória. Por isto os vivos tratam sempre de esquecer tudo. Um bisturi apenas, todos os portões abertos, gente de toda parte disposta ao flagelo – qual luxúria maior do que apagar em si as intrusões mais óbvias do acaso e seu teatro de súplicas? O homem é sempre um engano.

- Não estropias assim todas as pretensas certezas?

- Sim, tens razão. O homem não passa do efeito de suas expectativas.

 

 

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