Tenho visto tanta merda de cão
nas ruas de Paris que devo
caminhar com cuidado à noite
é quando me parece então
escutar meninos e meninas fantasmas
rirem na fila de entrada do
zoológico que para eles ali se levanta:
um desfile de elefantes brancos cruza
a praça do Louvre fazendo
malabarismos com obras de arte e restos
de arqueologias extraterrestres, girafas
correm pelos Campos Elíseos comendo
as luzes natalinas que crescem em
suas árvores, baleias, delfins,
patos selvagens nadam pelo Sena
tragando turistas desprevenidos
que acendem flashes em seus narizes
leões copulam famintos
sobre os telhados como relíquias
de cristal de uma cidade iminente...
Hipopótamos ébrios se encalham em suas
ruas serpenteantes, em seus arcos triunfais,
em sua torre famosa...
Galeristas confusos
correm atrás de cavalos livres de
carrossel que levam gravada uma estrela
de ouro em seu flanco...
Bandos de aves tropicais cobrem a lua
de plumas de plástico que
ursos vestidos à la mode sopram
com ventiladores nucleares de
globos que intermitentes sobem
e descem por escadas invisíveis
que águias cegas trazem
de Nôtre-Dame...
Sinosnuvens carregados de
perfumes humanos chovem
no final desta noite sobre
o zoológico de plasma e tudo
retorna nos olhos de um gato
sabiamente
a ser luz solar
e Paris
Paris
é
outro dia.
(Escrito num 30 de dezembro de 2002 na Rue Vaicouleurs, Paris, França. Dedicado à família Noël. Concluído em Cerquilho, São Paulo, Brasil, num 12 de setembro de 2003.)
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