O CARBONARISMO
ITALIANO (5)

 

 

 

 
FOI A CARBONÁRIA UMA MAÇONARIA EM SENTIDO ESTRITO?

Todas as informações sobre este aspecto nos parecem coerentes, mas talvez fosse melhor indagar se os Carbonários se consideravam Maçons. Aqui também a resposta seria: depende dos tempos e dos lugares. É certo que os sentimentos dos Carbonários de Veneza, alguns dos quais se fundiram literalmente com o Rito de Misraïm, não puderam ser os mesmos Carbonários Napolitanos entre 1810 e 1815 que, sob a ação de Murat, viram as suas Vendas proscritas no momento em que uma Maçonaria do tipo francês vinha sendo estabelecida. Sabemos que Maçons e Carbonários se reconheciam entre si, e que eram filiados nos graus que possuiam quando os membros de uma tinham oportunidade de fazer-se receber pela outra. O problema é idêntico àquele que se apresenta estudando os ritos florestais franceses dos anos ´700 (rito Beauchesne de 1747 e rito "Alexandre do Segredo" de 1760) nas suas relações com as Obediências maçônicas. Daí somos conduzidos a nos interrogar sobre a definição própria daquilo que é a Maçonaria, e o debate nas vésperas de 2000 ainda está aberto, alimentado por pontos de vista divergentes segundo os frutos da escola simbolista ou da escola histórica. È necessário, portanto, distinguir o fundo da forma, o recipiente do conteúdo.

O RECIPIENTE E A FORMA

Os ritos florestais franceses que serviram de trama ritual para a Carbonária são, sem dúvida, saídos em época tardia por transmissões corporativas das profissões da floresta - lenhadores, carvoeiros, forjadores - e deram lugar a extensões de caráter especulativo. Neste sentido, eles são ETICAMENTE maçônicos, porque contém Landmarks éticos muito bem definidos e análogos àqueles ritos ditos "da pedra": fraternidade, solidariedade, hospitalidade, beneficência, bons costumes.

Pelo pouco que conhecemos da vida normal das vendas francesas do anos ´700, nenhum pouco nos parece que os "Bons Primos" tenham sido sempre considerados como "maçons da madeira", que tenham geralmente
mantido uma dupla participação nas Lojas urbanas "da pedra", e que nenhuma incompatibilidade histórica se possa revelar. Briot, deste ponto de vista, é exemplar. O mesmo se pode afirmar de uma boa parte dos Carbonários italianos, com variações notáveis segundo os Reinos considerados. Foi este o caso também dos Carbonários franceses do início do século XIX, quando eram numerosos os regimentos bonapartistas em atividade numa Loja "da pedra" e numa Venda "da madeira". As mesmas pessoas eram Carbonários e Maçons, e nos parece que ocorre considerar uma tal situação e confrontá-la em nossa contemporaneidade, à "maçonicidade" daqueles que praticam ritos diferentes, e, quem dera, no seio de Obediências diferentes.

O FUNDO E O CONTEÚDO

Mas à parte a ética desses ritos "da madeira" perfeitamente análoga à dos ritos "da pedra", os Landmarks característicos das Vendas se fazem uma Maçonaria para todos os efeitos. Esta conclusão não é possível se não se relativizam as tomadas de posição diplomáticas que fragmentam a Maçonaria mundial em "regular" e "irregular". Com efeito, se as Constituições de Anderson foram justamente a pedra angular da Maçonaria especulativa em 1723, e se tiveram a sua origem nos Landmarks corporativos, como parece ser claramente sugerido, então é preciso admitir o universalismo como cimento federativo de todas as formas de rituais maçônicos, sejam estes rurais ou urbanos, ingleses, franceses, alemães ou italianos.

A obra anti-maçônica de 1859, escrita pelo abade Gyr, "La Franc-Maçonnerie en elle même et dans ses rapports avec les autres societés secrètes de ´Europe, notamment avec la Carbonarie italienne" (A Franco-Maçonaria por ela mesma e em suas relações com as outras sociedades secretas da Europa, notadamente com a Carbonária italiana) funde Maçonaria e Carbonária:

Insistimos neste ponto: a Carbonária não é senão a Maçonaria mascarada. Acerellos, escritor de uma ortodoxia maçônica muito acima de qualquer suspeita, declara em termos formais (Die Freimaurerie in ihren Zusammenhang, t.III, p.281): - Os Maçons e os Carbonários, unidos por relações de estreita amizade, não formavam, por assim dizer, um único corpo [...]. Quando um Maçom quer ser recebido na categoria dos Bons Primos (Carbonários), é dispensado das provas ordinárias; se recebeu um grau superior aos três graus simbólicos, torna-se imediatamente Mestre Carbonário e seu nome é inscrito no Livro de Ouro. Em seus diplomas e certificados os graus maçônicos que possui são mencionados.

>>>>>>>>>>>>>>>>>>As contradições da obra sobre a origem dos rituais carbonários
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