V.'. PM.'. É interessante notar neste rito as suas peculiaridades e sua profundeza simbólica, pois é um dos poucos ritos que busca abranger um sincretismo total às filosofias e religiões existentes na face da terra. Além disso, talvez seja o único rito que, ao invés da espada como símbolo da autoridade do venerável, usa o machado; seus rituais também são peculiares, pois usa como templo bosques (tal qual os Druidas e uma enorme quantidade de outras religiões antigas).
B.'. P.'.1º V.'.
Este ritual era utilizado pelo Grande Mestre Hirão antes da construção do templo de Salomão, nas florestas do Líbano, o que vem nos provar que:
Antes dos "pedreiros livres", já existiam os "madeireiros livres", haja vista as primeiras habitações foram feitas em madeira e depois em pedra;
Que primeira confraria maçônica nasceu muito antes do que se imagina e, que Hirão, ao emigrar para a pátria de Salomão, já levou consigo todo um sistema maçônico devidamente constituído;
Que a origem da maçonaria é muito mais velha do que se imagina, pois diversos povos andam mais velhos que os Libaneses, já deveriam ter dela se utilizado;
Que muitos ritos antigos mostram uma semelhança muito grande com os rituais maçônicos.
B.'. P.'.2º V.'.
E finalmente buscaremos mostrar que, embora a atual maçonaria não admita mulheres em seu seio, ela não tem razão alguma para agir assim, tratando-se única e simplesmente de uma atitude machista já que o próprio Mestre Hirão as admitia como membros.
Na época de Hirão a maçonaria era muito mais pura e natural, nela existia uma grande preocupação por tudo que se referisse à natureza. Hoje, no entanto, fala-se tanto em ecologia, em proteção às florestas e bosques, em proteção aos nossos mananciais, aves e animais, porém nada se faz de real, pois o vil metal é mais alto. Os povos que mais protestam contra a derrubada das florestas são aqueles que em seus países já não as têm, pois as destruíram. Entre estes, os norte-americanos e europeus, os que mais "gritam" por proteção são os maiores poluidores do planeta.
Mas, falando em europeus. Ah!, os europeus! Esses são realmente curiosos!
B.'. P.'. Sec.'. Já por diversas vezes viajei pela Europa e senti tristeza ao ver milhares e milhares de quilômetros de terras sem uma só árvore nativa. Todas as terras são plantadas com agricultura comercial ou estão improdutivas, produzindo apenas vegetação rasteira ou ervas daninhas. Mas os europeus continuam comprando móveis de mogno, jacarandá, pau-ferro e outras madeiras nobres em extinção.
As tradições filosóficas, ritualísticas e religiosas em sua pureza, ali desapareceram para dar lugar a lendas e mistérios. Não percebem que suas origens e tradições são florestais: que seus ancestrais delas de originaram, nelas sobreviveram e que foi exatamente nelas que nasceram as primeiras civilizações e religiões.
PRÓLOGO
B.'. P.'. G.'. da L.'. O ritual da madeira foi encontrado somente em língua francesa onde é chamado Rituel des Bois. No entanto, para podermos entender o porque deste nome, devemos buscar sua etimologia.
Em Francês, bois significa madeira, bosques, o que nos dá Ritual dos Bosques ou da Madeira. Mas vejamos em outras línguas:
Burguinhão - BOO;
Picardo - BOU e BO;
Provençal - BOSC;
Espanhol - BOSQUE;
Italiano - BOSCO;
Latin - BOSCUS, BOSCUM, BUSCUS;
Inglês - BUSH;
Alemão - BUSCH.
A letra B, nas raízes das línguas indo-européias, exprime as atividades bucais elementares: voz, fala, fôlego (ex.: BHA, BHEL; BHLEU, BLE, BU, BHU, BUFF). O homem há muito tempo ouve a voz da madeira, o estalar das fibras, o ranger dos galhos e sal quebra, o vento nas folhagens.
Os poetas e os artistas falam muito dela e a transportam para seus versos e telas.
B.'. P.'. Tes.'. Ainda hoje, em muitos países africanos e antigas tribos indígenas americanas, o "Tam-Tam", batidas na madeira, eram consideradas como "a Madeira que fala", servindo de comunicação entre os seres humanos daquelas tribos.
Para se ter idéia da importância da madeira e de sua antiguidade, busquemos a imagem evocadora do ardente bosque da Bíblia.
Apascentava Moisés o rebanho de Jetri, seu sogro, sacerdote de Mídia e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe.
B.'. P.'. Esm.'.
Apareceu-lhe o anjo do senhor numa chama de fogo do meio duma moita; Moisés olhou, e eis que a moita ardia no fogo, e a moita não se consumia.
Então disse consigo mesmo: Irei lá, e verei essa grande maravilha por que a moita não se queima.
Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da moita, o chamou, e disse: "Moisés, Moisés! Ele responde: Eis-me aqui".
Deus tendo falado, Moisés responde:
"Mas eis que não crerão nem acudirão à minha voz, pois dirão: O Senhor não te apareceu". Deus lhe disse: "Que é isso que tens na mão?" Ele responde: "Uma vara". Deus diz: "Lança-a na terra".
Moisés jogou o bastão que se transformou em uma serpente e Moisés fugiu dela. Deus lhe disse: "Estenda a mão e pegue-a pela cauda".
Ele estendeu a mão, pegou a serpente que se transformou em bastão.
Mais tarde Deus dirá:
"E toma, pois, esta vara na mão, com a qual hás de fazer os sinais". (Êxodo3, 4).
B.'. P.'. MC.'.
Na Bíblia, este bastão é chamado "o bastão de Deus".
É, pois, primeiramente pela madeira que Deus se manifesta na Bíblia, para depois manifestar-se na pedra: as Tábuas da Lei em pedra são posteriores ao Bosque ardente.
A madeira, no texto acima, esconde portanto duas energias, ou ainda duplicidade de uma energia: o Bem e o Mal. Uma maldição pesa sobre a madeira desde sua origem: certos galhos, cipós ou plantas evocam, é verdade, a imagem às vezes maldita da serpente. E tanto isto é verdade, que muitas pessoas já foram picadas por serpentes que pegaram com as mãos imaginando estarem pegando um galho seco.
Assim é mais fácil entender o significado do texto bíblico: encarando a serpente como sendo o cajado de Deus, a Bíblia reabilita definitivamente a Madeira a seu simbolismo mais elevado.
BP.'. G.'. T.'.
A Madeira é matéria benéfica se é que não é benta: a moita de espinhos, barreira natural protetora dos campos cultivados, e o bastão foram historicamente de primeira utilidade.
Por sinal, é como matéria primeira que se deve considerar a Madeira (latim materia, madeira). O espanhol (e o português) tem duas palavras para designar a madeira: LENHA (madeira para aquecimento) e madeira (madeira para construção) (francês: lenhoso e pranchado).
A distinção entre os dois termos é fundamental: a Madeira que queima aparece como uma matéria essencialmente destrutível; reduzida a cinzas, ela se espalha no ar; poeira impalpável: ela desaparece.
B.'. P.'. Esp.'.
Matéria viva, matéria morta, desde sempre ela passa ao homem a imagem insuportável do aniquilamento de toda a vida e talvez da insignificância de tudo. Niilismo e Madeira estão ligados: pensamos em uma certa forma de anarquismo carbonarista. A madeira que se queima simboliza a mudança; mas ardendo com o fogo, a madeira muda as coisas que estão em contato com ela, esquentando-as ou consumindo-as, ou destrói-las. Ela pode destruir, mas o fogo, ele traz uma vivificação. É evidente que a Madeira que queima, o Pelicano que quase se sacrifica por seus filhotes, a Fênix que renasce de suas cinzas advêm do mesmo simbolismo (ciclo: nada-vida-nada). Encontramos os dois sentidos bíblicos em LIGNUM: benção - maldição; vida - morte: prejuízo - utilidade.
A Madeira também é o material das primeiras construções: casas dos homens e de Deus.
É indispensável notar a estreita relação entre civilização florestal e a construção das casas de madeira. Onde havia floresta, havia casas de madeira: o que implica em um tipo de vida particular, o estabelecimento de relacionamentos sociais originais, uma colaboração entre o lenhador e o construtor; para obter um ranchão, é preciso primeiramente cortar uma árvore: os primeiros habitantes das florestas reuniam, eles próprios, individualmente, as tarefas de cortadores de madeira e de construtores; a especialização por corpos constituídos aconteceu mais tarde.
B.'. P.'. Chanc.'.
No Ocidente, as casas de madeira correspondiam primeiramente à implantação natural da grande floresta que antigamente cobria quase que sem descontinuidade, toda a Europa particularmente a Central. O que nós chamamos de devastação da floresta original é o resultado da instalação do homem no meio natural, o sinal mais tangível tendo sido a construção da casa, sinal que, multiplicado, conduziu ao fenômeno urbano (ex: Munique, cidade criada pelos monges desmatadores das vastas florestas da Germânia). O estilo da construção depende evidentemente das essências florestais: a uma floresta rala corresponde uma casa grosseira, do tipo da chouparia primitiva (sem especialização artesanal particular: o cortador é construtor); mas quando a floresta oferece esplêndidos troncos-pilares, epiceas, pinhos silvestre, as casas que ela abriga de estilos completamente diferentes: pranchões brutos superpostos, unidos nos quatro cantos, (construção que geralmente determina uma divisão do trabalho) cortar, esquadra, encaixar falar no telado). Há muito tempo os geógrafos notaram uma semelhança arquitetural entre as casa florestais da Finlândia, da Suíça, da Suécia, da Checoslovaquia, do Canadá, da Sibéria, do Tibete ou da Anatólia! E quando a floresta acaba, é freqüente aparecer a habitação da pedra.
B.'. P.'. M.'. Harm.'.
A casa de madeira geralmente pára nas regiões mediterrâneas. Portanto há uma espécie de divisão geográfica entre madeira e a pedra: dois mundos, duas civilizações, duas classes de construtores.
É o fogo, destruidor das florestas, que fez recuar o limite da casa de madeira em proveito das casas de pedra ou de tijolo: será que a maldição antiga que parece planar sobre o reino da madeira apareceu? Humanamente, no entanto, a Madeira criou, mais do que a pedra, uma unidade que, em si tem um valor de civilização: a casa de pedra permite, pela própria natureza de seu material, mais variações, até mesmo fantasias, em sua concepção; as casas de madeira têm, em todo lugar, um ar de família, um caráter suscetível de instituir facilmente um clima de fraternidade. Menos imaginação, mais juízo. A casa de madeira é o produto do que Jena Brunhes chamava de "uma Europa verdejante e coberta" em oposição à "Europa desmatada" que margeia o Mediterrâneo.
V.'. PM.'.
Sabemos que as principais igrejas quase sempre eram em madeira.
Assim, apesar da sua vulnerabilidade, a Madeira serviu, desde as origens da humanidade, de material privilegiado na construção de casas, provavelmente por causa de seu fácil manuseio. A Madeira é útil ao homem, será preciso dizê-lo? O bastão também foi a primeira ferramenta: ele, na verdade, constitui a alavanca mais elementar. Dura, a Madeira permitiu que se levantassem pesados fardos, inclusive a pedra. Os primeiros veículos (trenós, andores) eram feitos de madeira: foram os aparelhos de madeira que servir apara o transporte dos blocos de pedra mais pesados. Podemos fazer idéia pela recente reconstituição do levantamento das misteriosas estatuas gigantescas da Ilha de Páscoa. Estes exemplos são interessantes, pois, mostram, simultaneamente, uma oposição funcional, uma relação limitada e hierarquizada, entre a pedra e a Madeira. São esta oposição e esta subordinação que queríamos fazer aparecer no presente estudo.
Da Madeira à pedra, existe uma relação de ajuda: da pedra Madeira, esta relação pode parecer servidão. A Madeira serve à pedra. A pedra não teria se servido da Madeira? Na dimensão das civilizações é a infiltração mediterrânea notadamente a de Roma na Europa florestal: longa dominação, cujo símbolo é a via romana, retilínea e revestida de pedras. Na escala das classes sociais é o feudo protegido por suas fortalezas de pedra reinando sobre os frágeis casebres dos servos explorados. A nível de construtores, é a oposição entre a franco-maçonaria da Madeira e a franco-maçonaria da pedra.
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