FLORAS DO NOVO MUNDO / Jardim Botânico da Ajuda - Museu ANA LUÍSA JANEIRA & MÁRIO FORTES 07-09-2003 www.triplov.com |
FLORAS DO NOVO MUNDO: CURIOSIDADES E RECURSOS (4) Instituição “Não ha quem se aperfeiçoe na Historia Natural pª poder adiantar a Agricultura, Economia e descubrir novos generos pª aug- mentar o Commercio...” “Quazi todas as Naçoens da Europa se sabem aproveitar destas Sciencias, e somente Portugal até agora não tirou utili- dade alguma das mesmas.” No contexto geral a implementação teria como objectivos o suporte científico e tecnológico da agricultura e a sistematização do ensino agrícola, objectos de interesse pessoal do ministro Sebastião José de Carvalho e Mello: “O Snr.Rey D. Jose I as intro- -duzio no reino estebalelereceu com grandesSumas despezas hum Jar dim Botanico junto aoseu Real Palacio e na Universidade de Co- -imbra alem de outro jardim hum sumptuozo Gabinete de Fisica ex- -erimental, Muzeu de Historia Natural, e Laboratorio Chymico e p.ª opublico ensino destas Sciencias determinou Lentes, formou hua faculdade.” A instituição destes espaços, como reflexo de uma época e não de uma política específica, resistiu à Viradeira de 1777, integrando-se no vasto programa que contemplou a promoção de “Expedições Philosophicas” nomeadamente do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira ao Pará e de Galvão da Silva, Donati e Silva Feijó a diversos territórios africanos , durante o fim do século e princípio do seguinte, assim como contactos múltiplos com outros estabelecimentos europeus de afinidade e importância reconhecida. Na origem, directamente dependente das secretarias de estado e integrado no conjunto edificado do paço abarracado , teria subjacente estratégias e objectivos politico-económicos distintos dos que levaram à instituição do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, integrado numa estrutura de ensino, tal como é perceptível nas memórias do seu primeiro director: “Pelo que seria conveniente que nes- -ta Corte houvesse huma Junta, ou Administração q. trabalhasse com. e neste tão interessante ramo deeconomia , etivesse terreno não somente pelas necessárias experien- -cias, mas tambem para nelle seconservar todas as qua- -lidades de plantas V. gr. todas as variedades detrigo, arós, milho, feijoens, grãos,emais legumes, todas as espécies de ervas para pastos artificiais, as que dão Linho, as que servem, oupodem servir para a Tinturaria, e hum Gabinete comtodos os Livros de Agricultura, e Artes; huma Colecção de amostras detodas as especies deterras simplices, emisturadas do Reyno, e os modellos dos Instrumentos aggrarios ate agora descubertos.” “Bem estabelecida esta Junta ou Administração economica, facil seria formar se nas Provincias Ad- -ministração Provinciais, ou Sociedades economicas de baixo da direcção deste, as quais deverão regularmente dar Conta a Junta das suas observaçoens, e operaçoens, e executar o que elle ordenasse.” A reflexão sobre diversos documentos subsistentes demarca distinções evidentes, não só na estrutura que é dominada por uma extensíssima área de experimentação e aclimatação , mas também pelas suas atribuições: - O “jardim económico” das Quintas Reais do Paço de Nossa Senhora da Ajuda, vocacionado para a exploração e dinamização das culturas ultramarinas, designadamente as suportadas pelas Companhias do Pará e Pernanbuco ; - O “jardim de curiosidades” da Universidade de Coimbra, orientado para o desenvolvimento do ensino botânico e da agricultura metropolitana. Manuscritos vários relevam a importância do programa integrado da Ajuda, no qual se perspectivou, ainda, a promoção industrial de transformados, cuja reduzida qualidade de origem inviabilizaria a sua comercialização. A decisão régia, provávelmente orientada pelo ministro Sebastião José de Carvalho e Mello, patenteia estes propósitos, nos quais se integra a instituição da fábrica de purificação de anil, tal como expresso por Vandelli, na“Relação da origem, e estado prezente do Real Jardim Botanico, Laboratorio Chymico, Muséo de Historia Natural, e Caza do Risco”: “O Snr. Rei D. José mandou, que se fizesse hum Laborato- rio Chymico, que se construiu segundo o fim ao qual estava destinado. Nele depoes se fez a Fabrica da pur- ificação do Anil.” “...o qual depoes de bem purificado se vendia aos Tintureiros e Commerciantes.” Ter-se-á que admitir a importância deste programa visionário, no qual se excedeu a imagem setecentista do Jardim Botânico como mero Templo do Saber. |