O “espírito seminal de todas as coisas”, “o poder motriz universal” e o “envólucro ou bainha do elemento Ar”, o gás, o blas e o magnal do sistema químico de J.B. Van Helmont serviram-lhe de base do exame que fez das coisas que rodeiam o homem e condicionam a sua existência. Médico, titular do grau de Doutor em Medicina, deles se serviu também para tentar compreender a natureza do próprio homem, certo de que nunca poderia medicamentar apropriadamente os seus pacientes se não conhecesse bem a sua natureza. Rejeitando a analogia então reinante do macrocosmo-microcosmo, da conexão entre esses três fluidos em que se traduz o mais íntimo da sua natureza, neles assentou J.B. Van Helmont o fundamento dos componentes astrológico e médico dos seus prognósticos. O archeus, a força vital que governa a formação de todas as coisas a partir da sua base elementar que é a Água, o fermento e as sementes que nesse processo de formação actuam, envolvem-nos de um modo ou outro. Assim sendo, nem a Natureza, nem o Homem são passíveis duma cabal compreensão sem os ter em devida conta. Se queremos compreender a formação das Pedras e dos Metais, o nascimento, a vida e a morte dos seres vivos, da planta ao animal e ao Homem, impõe-se considerar a sua acção e presença. Dessa acção e presença nos falam os dois grandes livros em que todo o conhecimento pode ser bebido, as Sagradas Escrituras e o Livro da Natureza.
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MACHADO, Maria Salomé Machado, A.M. Amorim da Costa, A.M.C. Araújo de Brito & António de Macedo (2005) - A Palavra Perdida. Colecção Lápis de Carvão (dir. Maria Estela Guedes), nº1. Lisboa, Apenas Livros Editora.
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