venda das raparigas . britiande . portugal . abertura: 2006
Jardins ausentes
JOÃO RASTEIRO
 
Poema dos jardins ausentes
O canto da terra
A ferida inesgotável

Poema dos jardins ausentes

"Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias"
Eugénio de Andrade

Hoje corri todos os jardins da terra

e estou ao pé de ti de mãos vazias meu amor,

os jardins só respiram esse fulgor desnudado

a rutilar caligrafias mesmo no centro da pedra.

 

Amanhã voltarei a correr todos os jardins

ao ritmo quase imóvel de um segredo,

num murmúrio que preserve o alento

para mergulhá-lo numa boca de mulher.

 

Hei-de correr todos os jardins sagrados

que habitam subtis e espessos labirintos,

e encontrar os vocábulos das pétalas da rosa

que unem o interdito ao centro das palavras.

 

E é como se as rosas nascessem dos dedos

como uma raiz imitando os frutos meu amor.

In, Cánticos de la frontera - ( Trilce Ediciones - Salamanca),2005
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