Gabriel Chávez Casazola

Poemas

Tradução de Pedro Sevylla de Juana e colaboração de Nicolau Saião

POEMAS - INDEX

O sonho de Bartimeo (Bartimeo’s dream)

Voo nocturno / Arte poética

A canção da sopa

Certificado

Ne nos inducas

Lucas 13, 4

Alvíssaras

E que às margens

A canção da sopa

Nos tempos do meu avô as famílias eram grandes

Viviam em grandes casas – grandes ou pequenas, mas grandes,

Inclusive diminutas, mas grandes.

 

Comiam ao redor de grandes mesas

Mesas fortes, cobertas ou não de toalha comprida

Mas bem assentadas no chão.

 

Com colheres enormes comiam a sopa

Nos grandes meios-dias. A sopa tirada com grandes conchas de enormes sopeiras.

 

Reuniam-se juntos depois a ouvir a rádio, a tomar café, a fumar um cigarro

Sem grandes (nem pequenos) cargos de saúde ou de consciência.

 

A Mamã, bordando às vezes e às vezes tecendo, via sucederem-se os filhos e os netos

Num ininterrupto e grande bordado.

 

O Papá, a autoridade papá, chegava todas as tardes às 6

Montado num grande automóvel americano ou num grande cavalo ou com um grande estilo

de caminhar

Para passar a noite junto com os filhos e os netos que o tempo não tinha

interrompido,

Salvo aquele em que adoeceu, aquele em que se foi

Deixando um enigma e uma sensação de vazio – uma enorme sensação de vazio

Flutuando, com a fumaça dos cigarros - sobre a sobremesa do jantar.

 

Às vezes, nesses momentos, o papá, a autoridade papá, deixava de escutar os

sons da rádio e queria estar só consigo mesmo, simplesmente não estar

aí, talvez andar correndo por alguma distante estrada com uma loira parecida

com a mamã quando não era mamã, montado  num grande automóvel americano ou num grande cavalo ou com um grande estilo de caminhar ainda não humilhado pelo tempo. 

A mamã por sua vez nalgumas sobremesas sentia um nó na garganta, um nó que depois saía flutuando da sua boca montado num grande suspiro, um enorme nó que se enredava no vapor de sua xícara de café, com umas volutas que lhe roubavam o olhar e a faziam desejar estar sozinha, simplesmente não estar aí, a escutar os prantos dos últimos filhos e dos primeiros netos. 

Assim foram os anos, vieram os cafés e os cigarros e um dia a grande casa

foi ficando sozinha, as enormes sopeiras vazias, as colheres mudas de uma

enorme mudez que a filhos e netos nos perseguiu ao longo de milhares de

quilómetros de estrada, de cabo de telefone, de grandes ondas que já não se

medem em quilómetros.

 

Inclusive aquele em que adoeceu, o primeiro a partir

Como cada um que bebeu dessa sopa foi alcançado pela mudez, que se

introduziu no seu peito pela grande boca aberta de um enorme bocejo.

 

Então

Comprou uma breve sopa instantânea

E entre as suas volutas

Permitiu-se um pequeno pranto.

 

Não podia comer a sopa. 

No seu diminuto departamento não havia uma só colher, uma só mesa bem

assentada, algo

Que vagamente pudesse parecer-se à felicidade e às suas rotinas.

 

Então pensou nos tempos do seu avô ou do meu ou do teu, quando as

famílias eram grandes

Viviam em grandes casas – grandes ou pequenas, mas grandes,

Inclusive diminutas, mas grandes

E viam suceder-se os filhos e os netos

Num ininterrupto e grande bordado

Com enormes fios invisíveis abraçando todos no ar. 

Gabriel Chávez Casazola (1972) Poeta, escritor y periodista boliviano. 

Ha publicado los libros de poesía Lugar Común (1999), Escalera de Mano (2003) y su tercer poemario se encuentra en prensa (2010).  Sus poemas están recogidos en suplementos, revistas y antologías nacionales e internacionales. Ha participado en numerosos encuentros y festivales de poesía en su país y fuera de él. Impartió el Taller de Poesía de la Universidad Andina “Simón Bolívar” en Sucre, así como otros talleres del género en universidades y centros culturales.

Publicó además un libro de ensayos y artículos y otro de crónica periodística, además de cuentos dispersos en revistas y antologías.

Como editor, concibió y editó, para Fundación Cultural “La Plata”, una vasta Historia de la Cultura Boliviana en el siglo XX (2 vol., 2005 y 2009), reconocida como el Libro Mejor Editado del año 2009 por la Cámara del Libro de Santa Cruz.  Por encargo de esta misma Fundación, cuidó la reedición de varias obras agotadas de autores clásicos bolivianos para el sello Agua del Inisterio.

Como gestor cultural, dirigió el Festival Internacional de la Cultura de Bolivia y fundó la Semana del Libro en la ciudad de Sucre, capital constitucional de su país. 

Como periodista, ha sido editor y columnista de importantes diarios bolivianos, como La Prensa, Última Hora y Correo del Sur; corresponsal de La Razón y analista del semanario Pulso de La Paz, además de colaborar con otros medios impresos de su país, como El Deber y La Palabra.   Actualmente tiene una página de literatura y otra de análisis político en el diario “Página Siete” de La Paz.

Premio Nacional de Ensayo Periodístico, Primera Mención del Premio Nacional de Cuento Franz Tamayo, Biodiversity Reporting Award de Conservación Internacional. El Estado boliviano le concedió la Medalla al Mérito Cultural en diciembre de 2005.

Mail: casazola@hotmail.com