Não sei quanto tempo durou nosso sono: penso que deve ter sido longo, porque nos restabelecemos totalmente de nossas fadigas. Fui o primeiro a levantar. Conselho e Ned não haviam mudado de posição e continuavam estendidos como massas inertes.
Assim que me ergui da cama, um tanto macia, senti meu celebro desanuviado. De repente, senti no peito uma estranha opressão. Respirava com dificuldade. Apesar de suas grandes dimensões, era evidente que faltava oxigênio naquele recinto. Já decidira aumentar minha minhas expirações para extrair todo o ar possível, quando me sentir resfriado por uma corrente de ar puro e perfumado proveniente de emanações salinas. Não havia a menor dúvida : era a brisa do mar, viovificante e impregnada de iodo. Ao mesmo tempo, senti um balancear, um ligeiro vaivém. O navio acabara de voltar à superfície, para respirar, à maneira das baleias.
Depois de absorver o ar, procurei o ponto por onde chegara até nós aquele aflúvio benfazejo. Não demorei a encontra-lo. Sobre a porta havia um ventilador que deixava passar uma coluna de ar puro, que renovava dessa forma o ambiente rarefeito da cela.
Ned e Conselho acordaram naquele instante, graças a essa influência vivificadora. Esfregaram os olhos, espreguiçaram-se e ficaram de pé num salto.
- O senhor dormiu bem? - perguntou Conselho com a sua habitual cortesia.
- Muito bem, rapaz - respondi. - E você Ned Land, como passou?
- Muito bem, professor - respondeu o arpoador. - Porém, se meu olfato não me engana, acho que respiramos a brisa do mar. Estou certo?
De repente, ouvimos um ruído no exterior. Escutamos passos no pavimento metálico. Percebemos o ranger das fechaduras, a porta se abrir e vimos um criado entrar.
Sem ter tempo de impedi-lo, Ned se precipitou sobre o infeliz que não esperava tal agressão, jogou-o no chão e apertou-lhe a garganta. Parecia que Ned havia enlouquecido.
O criado se sufocava sobre a pressão férrea dos grossos dedos do arpoador.
Conselho tentou separar Ned de sua vítima, e eu me preparava para juntar meus esforços aos seus, quando, de repente, fiquei mudo de espanto, ao ouvir as seguintes palavras pronunciadas em francês:
- Acalme-se, Ned Land! E o senhor, professor Aronnax, faça o favor de ouvir-me! |