AZUL É O NOME DA ALEGRIA Moria Feigning 01-02-2005 www.triplov.org |
V Cheinho de medo, completamente transido de arrepios, lá fui falar com a Avó das Nuvenzinhas.
– (Com a voz a tremer:) Olá Senhora Avó das Nuvens. Brrrrr! As suas netas aconselharam-me a vir falar consigo para ver se me pode ajudar a resolver um problema. Elas dizem que a Senhora tem sempre solução para tudo.
E expliquei-lhe o que é que se passava.
– (Avó das Nuvens – voz de trovão:) Isso é um problema realmente grave e, ao contrário do que pensam as minhas netas, eu nem sempre consigo resolver tudo. Mas desta vez acho que te posso ajudar.
Eu nem queria acreditar no que estava a ouvir. Brrrrr! Finalmente uma pista. Até me passaram logo os arrepios.
– Minha rica querida, queridíssima Senhora Avó das Nuvens, eu nem acredito no que estou a ouvir! É mesmo verdade que me pode ajudar? E como? É que eu já estou farto de pensar e nem vislumbro uma solução. Brrrrr! Brrrrr!
– (Avó das Nuvens:) É melhor não ficares assim tão entusiasmado, eu só disse que acho que te posso ajudar. Não disse que era fácil.
– Fácil ou difícil, não interessa. O que interessa é que há uma forma de resolver o problema. Qual é ela? Qual é ela? Brrrrr! Conte-me, diga-me. Oh! Por favooooor!
– (Avó das Nuvens:) Então ouve com muita atenção: antigamente, quando eu pouco mais era do que meia dúzia de gotas de água que teimavam em ficar juntas e os homens sobre a Terra eram muito menos do que hoje, havia no Céu muitas espécies de Nuvens. Algumas eram como as Nuvens que tu conheces mas havia outras, muito poucas, que eram diferentes. Eram muito brilhantes porque eram feitas de uma água muito pura. As suas gotas absorviam de tal modo a luz do Sol que se iam tornando redondas, como pérolas. Quando essas pérolas ficavam suficientemente pesadas e caíam sobre a Terra, a Alma dos homens iluminava-se, sorrisos aqueciam-lhes as faces e eles ficavam felizes. Chamávamo-lhes Nuvostras e às suas gotas, Pérolas de Luz.
– Brrrrr! Pois! Pois! É isso mesmo. É disso mesmo que nós precisamos agora. Brrrrr! Brrrrr! Onde é que eu posso encontrar essas tais... Nuv... Nuvostras?
– (Avó das Nuvens:) Nuvostras. Como eu te disse, não é fácil. Com o tempo, a água de que eram feitas foi desaparecendo da Terra e as Nuvostras foram-se dissipando. A última que eu conheci estava muito fraca, quase completamente desfeita. Pensava que ia morrer quando pediu ao Vento que a levasse.
– Ao Vento!? Brrrrr! Qual Vento?
– (Avó das Nuvens:) Não sei. Ela não me disse. Disse apenas que queria esconder-se num Céu distante.
– E agora!? O que é que eu faço? Brrrrr! Tão pouco tempo para resolver um problema tão grande e eu vou ter que andar a perguntar aos Quatro Ventos!? Nem sei se o Pai Natal vai gostar disso. Eles são uns tagarelas, os Ventos. Toda a gente vai ficar a saber que ele tem um problema. Não é nada bom para a imagem dele.
– (Avó das Nuvens:) É melhor começares já!
E zás! Foi-se embora. Assim! Sem mais nem menos! Eu acho que já deviam ser horas das Nuvenzinhas irem dormir. Ela não ia, com certeza, deixar-me assim, com tanta sem-cerimónia.
Brrrrr! Se ia ter que andar a perguntar aos Quatro Ventos o melhor era arranjar um meio de transporte.
Fui outra vez pedir o aspiromóvel à Bruxa Mimi. Mas ela não estava na Casa da Árvore. Havia um recado na porta a informar que tinha ido para fora, em trabalho e que não sabia quando voltava. E, claro! Tinha ido no aspiromóvel. Só me faltava mais esta! Brrrrr!
Mas agora, que até já tinha uma pista, também não queria desistir. Ainda me passou pela cabeça ir pedir o trenó e as renas ao Pai Natal. Mas elas estavam com um ar tão trombudo...
Brrrrr! Ná! Resolvi que o melhor era não aparecer por lá enquanto não tivesse resolvido o problema. O que é que o Pai Natal iria pensar de mim?
Fui pedir boleia a um Cometa. Não há nada como os processos tradicionais! Eles andam sempre de um lado para o outro e não lhes custa nada levar um passageiro. Até gostam de ter companhia.
Sabem o que é um Cometa? Não? É assim uma espécie de Estrela cabeluda que anda sempre a viajar. Há muitos mas são muito difíceis de avistar durante o dia e também um bocado desconfortáveis para viajar porque são tão rápidos que é preciso agarrarmo-nos muito bem à cauda – é assim que se chama a cabeleira – para não cairmos.
Brrrrr... Paciência! O que era preciso era chegar ao meu destino. E tanto se me fazia para onde quer que ele fosse. Tinha de começar por algum lado! Brrrrr! Até podia ser que acertasse à primeira. |