ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena VII |
Sala, em que haverá um bufete, tinteiro, papel, pena e cadeiras; e entram Dom Gilvaz, e Semicúpio vestido ainda de Juiz. |
Dom Gilvaz: Não te perdôo o susto que me fizeste levar. Semicúpio: Nem eu o chasco da capoeira que me fez sofrer. Dom Gilvaz: E por que não soltas a Dom Fuas e a Dom Tibúrcio que estão fechados naquele quarto escuro? Semicúpio: Não poderei também ter meus segredos sem que ninguém o saiba? O certo é que como os trouxemos às escuras entendem fixamente que estão em rigorosa prisão. Mas, aí vem gente e vossa mercê faça vezes de Escrivão. Dom Gilvaz: Aí parou uma sege: se serão elas? Semicúpio: Lá está quem as há de encaminhas; sedete, que aí vem subindo a primeira testemunha. (Entra Dom Lancerote) Dom Lancerote: Senhor, aqui estamos todos à ordem de vossa mercê. Semicúpio: Venham entrando um a um. Dom Lancerote: Pois, senhor, lembre-se do meu capote. Semicúpio: Eu já tenho tomado isso a mim; vá descansado que eu puxarei bem pela justiça e farei quanto ela der de si. Dom Lancerote: Não tenho mais que dizer. (Vai-se). Dom Gilvaz: Homem, tu me tens atônito com as tuas industrias! Semicúpio: Bem é que as reconheças; ah, senhor, esteja de meio perfil, para que o não conheça Dona Nize, que lá vem. |