ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Guerras do Alecrim e da Manjerona

SEGUNDA PARTE
Cena VII

(Entra Dona Nize)

Dona Nize: Venho morta: nunca em tal me vi!

Semicúpio: Uma vez é a primeira: sente-se, minha senhora, desabafe-se, suponha que está em sua casa.

Dona Nize: Ai, senhor, não sei que respeito infunde a cada de um Juiz, que faz titubear o mais valente coração!

Semicúpio: E mais eu, que pareço um Papiniano assanhado1 diga o seu nome: vá lá escrevendo, Senhor Escrivão.

Dona Nize: Chamo-me Dona Nize Silvia Rufina Fábia lura Anarda, e ...

Semicúpio: Basta, senhora, e pode vossa mercê com todos esses nomes?

Dona Nize: Ainda faltam quatorze.

Semicúpio: Visto isso, é vossa mercê a mulher mais nomeada que há no mundo. Que idade tem?

Dona Nize: Quinze anos escassos.

Semicúpio: Liberal andou a natureza; em tão poucos anos tanta perfeição! E do costume?

Dona Nize: Não entendo.

Semicúpio: Ponha lá que do costume jejua. Sabe quem furtou aquele capote ao senhor seu tio?

Dona Nize: Presumo que foi um criado de D.Gil, que entrou disfarçado a vender Alecrim.

Semicúpio: Tenho largas notícias desse criado, e me dizem que é ardiloso quantum satis.

Dona Nize: Isso é pasmar!

Semicúpio: E sabe se aqueles homens da capoeira seriam ladrões?

Dona Nize: Não, senhor, porque um era D. Gil, e outro Dom Fuas, que ambos...

Semicúpio: Diga, não se faça rabicunda.

Dona Nize: Senhor, os ditos homens vieram por causa do amor; e como veio meu tio, se esconderam na capoeira.

Semicúpio: Rapaziadas. Ora, ande, vá-se aí para dentro e não faça outra: seja sisuda e virtuosa, que assim manda o direito, honestè vivere.

Dona Nize: À obediência de vossa mercê. (Vai-se).

Dom Gilvaz: Homem, acabemos com isso, venha Dona Clóris, por quem estou suspirando.

Guerras do Alecrim e da Manjerona
 
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