ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena VII |
(Entra Sevadilha) |
Sevadilha: Sou criada de vossa mercê. Semicúpio: Ai, que já a justiça começa a abrir os olhos para ser a Sevadilha! Eu encosto a vara que estou varado. Menina, como é o seu nome? Sevadilha: Sevadilha, sem mais nada. Semicúpio: Que anos tem? Sevadilha: Sete mui fanados. Semicúpio: Só sete? Não sois má cartinha para um sete levar. Casada ou solteira? Sevadilha: Estou para casar com um criado daqui do seu vizinho, D. Gil, que ainda que feio é mui carinhoso. Semicúpio: Esse foi o que furtou o capote a seu amo? Sevadilha: Este mesmo. Semicúpio: Logo é ladrão? Sevadilha: É o vicio que tem, que se não fora isso era um moço perfeito. Semicúpio: Ai, Sevadilha, que esse ladrão... Sevadilha: Que tem, meu senhor? Semicúpio: Nada, nada: e por um triz que não deponho a judicatura e perco o juízo: assina-te aqui em branco, que eu estou pelo que disseres. Sevadilha: Eu não sei escrever. Semicúpio: Porém, sabes muita letra: vai-te aí para dentro. A rapariga me pôs a ver jurara testemunhas. Sevadilha: Eu já vi uma cara que se parecia com a deste Juiz. (Vai-se). Semicúpio: Entre quem falta. Dom Gilvaz: Resta Dona Clóris; Semicúpio, perdoa que hei de falar-lhe. Semicúpio: Faça o que lhe digo, e não tenha graças comigo. Dom Gilvaz: Como estás inchado! Semicúpio: Se queres ver o vilão, mete-lhe a vara na mão. |