ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena VII |
(Entra Fagundes) |
Fagundes: Muito bons dias, meu senhor. Semicúpio: Chegue-se para cá; olhe para mim, vossa mercê a meu ver tem cada de testemunha falsa, ou eu me enganarei. Fagundes: Serei o que vossa mercê quiser. Semicúpio: Como se chama. Fagundes: Ambrósia Fagundes Birimboa Franchopana e Gregotil. Semicúpio: Isso são nomes ou alcunhas? Fagundes: Será o que vossa mercê for servido. Semicúpio: Casada ou solteira? Fagundes: Nem casada, nem solteira, assim, assim. Semicúpio: Assim como? Fagundes: É que tenho o marido no Brasil há quarenta e sete anos. Semicúpio: De que anos casou? Fagundes: De quarenta justos, que os fui fazer à porta da Igreja. Semicúpio: Que anos tem? Fagundes: Vinte e cinco bem puxados. Semicúpio: Não é nada, casou de quarenta, tem o marido no Brasil há quarenta e sete anos, e diz que tem vinte e cinco de idade! Vá-se daí bêbada, falsária, que a hei de amarrar a uma escada, e deita-la por essa janela fora. Fagundes: Eu não sei contar, senão pelos dedos: ouça vossa mercê que eu quero dar a minha quartada. Semicúpio: A quartada dei eu: ande; ande, não cuide que se há de lavar com uma bochecha d'água; vá-se para dentro. Fagundes: Eu vou rebolindo. (Vai-se). |