ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena VI |
(Entra Sevadilha) |
Sevadilha: Fagundes, o senhor está desesperado por você; que faz aí? Fagundes: Já que vieste, matarás uma galinha, que eu não me atrevo. (Vai-se). Semicúpio: Lá vem a Sevadilha: ora, o certo é que donde a galinha tem os ovos aí se lhe vãos os olhos. Sevadilha: Aborrece-me gente melindrosa; vejam agora que dó pode haver de matar um animal? Verão como eu faço isto brincando. Semicúpio: Não são bons brinco esses, Sevadilha; mas se tu já me tens morto, para que me queres tornar a matar? Sevadilha: Ai, que estamos em tempo que falam os animais! Este pela voz é Semicúpio. Semicúpio: Eu sou que te falo de papo; é o teu Semicúpio que está feito semi-galo. Sevadilha: Quem te meteu aí? Semicúpio: O velho, por eu ser metediço. Sevadilha: Pois como foi? Semicúpio: Já me não lembro, que eu tenho memória de galo. Sevadilha: anda cá para fora. Semicúpio: Não posso, sem tu me enxotares daqui. Sevadilha: Como não podes, se eu sei que muito pode o galo no seu poleiro? Semicúpio: Isso seria se o velho me não desasara. Sevadilha: Não sabes o bem que me pareces nessa capoeira! Estás guapo! Estás França! Semicúpio: Sim, estou França, porque estou feito galo. Sevadilha: Pois dá-me das tuas penas para um regalo. Semicúpio: Pois tu te regalas com as minhas penas? Sevadilha: Não, mas folgo de ver-te feito alam em pena. Semicúpio: Que fará, se souberas, que estou todo coberto de penas vivas? Ora, anda Sevadilha, tira-me de mais penas. Cantam Semicúpio e Sevadilha a seguinte
Semicúpio: Anda, deita-me pela porta Dora, ainda que seja aos coices. (Vai-se). Sevadilha: Ora vamos. (Vai-se). |