ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena VI |
Entra Dom Fuas |
Dom Fuas: Para este quintal, ou jardim, ou o que for, me disse Fagundes viera Dona Nize a regar a sua Manjerona; mas enquanto ela não vem, me esconderei atrás deste canteiro de Alecrim, pois de Manjerona não quero auxílios, para encobrir-me de argentados esplendores da Lua, que tão clara se ostenta esta noite, talvez avisando-me na clara inconstância de seus raios a variedade de Dona Nize. (Esconde-se da banda do Alecrim) (Entra Dom Gilvaz) Dom Gilvaz: Grande temeridade, dói a minha, pois sem avisar a Dona Clóris me expus a penetrar os quartos desta casa, com o perigo de me encontrar Dom Lancerote; mas, sem dúvida, Clóris virá a este seu jardim a namorar o seu Alecrim; e assim escondido nas sobras destas plantas... Mas ai que é Manjerona! Perdoa, Clóris, que esta ação dói um acaso e não eleição. (Esconde-se da banda da Manjerona). Entram Dona Nize e Dona Clóris, cada uma pela sua parte com aguadores na mão, regando, e cantando o seguinte: Dona Nize: Sois no céu de Flora, Manjerona bela, Não só verde estrela, Mas luzida flor. Dona Clóris: Alecrim florido, Que de Abril na esfera Sois na primavera Fragrante primor. Ambas: Esta pura neve, Que tributa Flora, São risos da Aurora, E lagrimas de amor. Recitado Dona Nize: Mas que vejo? (Ai de mim!) quem arrogante, Da Manjerona usurpa o ser fragrante? Dom Gilvaz: Quem, ó Nize, escondido amante espera O Sol que adoro nesta verde esfera? (Sai). Dom Fuas: Pois, traidor, como assim tirano intentas, Roubar-me a Nize, que meu peito adora? (Sai). E tu, falsa inimiga. Mas ai triste, Que mal a tanta pena a dor resiste! Dona Clóris: E tu, falso Dom Gilvaz, que em torpe insulto Buscas a Manjerona amante oculto, Deixa-me, fementido... Dom Gilvaz: Atende, ó Clóris, Que sem causa fulminas teus rigores, Quando em puros ardores Nas chamas do Alecrim feliz me abraço. Dona Nize: Sem motivo, Dom Fuas, me criminas; porque eu firme... Dom Gilvaz: E eu constante.... Dom Gilvaz e Dona Nize: Fiel te adoro, e te busco amante. |