ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA |
SEGUNDA PARTE |
Cena II |
(Entram Dom Lancerote com uma luz, e Dom Tibúrcio) |
Dom Lancerote: Apuremos esse encanto. Sobrinho, nos havemos ver o que se encerra nesta caixa, ainda que o cabelo se arrepie. Dom Tibúrcio: Se for coisa desta vida, ficará sem ela, e se for da outra, a mandarei para outro mundo. Dom Lancerote: Pois, sobrinho, abri esta caixa com intrépido valor. Dom Tibúrcio: Abra vossa mercê, que é mais velho, e em tudo tem o primeiro lugar. Dom Lancerote: Deixai cumprimentos, que a ocasião não é para cerimônias. Dom Tibúrcio: Por nenhum modo: não tem que se cansar, que lhe não quero tirar o glória desta empresa. Dom Lancerote: (À parte). O magano contralogrrou-me; pois eu confesso, que estou tremendo de medo. Dom Tibúrcio: (À parte). Queria arrumar-me o gigante? É bem esperto. Dom Lancerote: Ora pois, hei de ir eu, ou haveis de ir vós? Dom Tibúrcio: Vá, não haja cumprimentos, que eu sou de casa. Dom Lancerote: Não há mais remédio, que ir eu em corpo e alma, a ver esta alma sem corpo ou este corpo sem alma. Deus vá comigo, Anjo da minha guarda, e todo o Flos Sanctorum me defenda. Dom Tibúrcio: Ande, tio, não tenha medo, que eu estou aqui. Dom Lancerote: (À parte). Pois se não fora isso já eu deitava a correr. Semicúpio: Ai, que sem dúvida estou na caixa, em que trouxe a D. Gil, e segundo o que aqui ouço dizer, me intentam reconhecer: eu lhes tocarei a caixa. |