ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA
Guerras do Alecrim e da Manjerona

SEGUNDA PARTE
Cena II
(Chega-se Dom Lancerote à caixa, e tanto que a abre, deita Semicúpio a cabeça de fora, e dá um assopro na vela).

Dom Lancerote: Ó tu quem quer que és, que estás nesta caixa... mas ai, que me apagaram a vela com um assopro!

Dom Tibúrcio: Assopra!

Semicúpio: Mui fraca era aquela luz, pois de um assopro a derribei.

Dom Lancerote: Sobrinho, vós estais aí?

Dom Tibúrcio: Como se não estivera.

Dom Lancerote: Quem seria o cruel que tão aleivosamente matou uma inocente luz a assapros frios!

Semicúpio: Deus lhe perdoe, que era uma luz a todas as luzes boa: mas eu quero safar-me daqui, e temo marrar de narizes com alguém; mas que remédio?

Dom Lancerote: Agora vos chegais para mim, cobarde sobrinho! Ide, que por vossa culpa não acabei de desencantar este encanto.

Dom Tibúrcio: Veja vossa mercê como chama cobarde?

Dom Lancerote: Calai-vos, abóbora, que degenerais de quem sois.

Dom Tibúrcio: A mim, abóbora?

Semicúpio: Agora é boa ocasião de ir-me; porque ainda que encontre com algum, cuidarão que são murros: lá vai o primeiro. (dá).

Dom Lancerote: Ó mal ensinado, pondes mãos violentas em vosso tio?

Semicúpio: Eu abrirei caminho desta sorte, dando a trouxe-mouxe. (Dá).

Dom Tibúrcio: É boa essa, senhor tio, assim se dá num barbado?

Dom Lancerote: Calai-vos, maganão, que não haveis de casar: mas, ai, que me destes uma bofetada com a mão aberta? Aqui-d'El-rei sobre este magamo de seu sobrinho! (Vai-se).

Dom Tibúrcio: Aqui-d'El-ei sobre este caduco de seu tio! (Vai-se).

Semicúpio: Aqui-d'El-ei que já me deixaram. (Vai-se).

>>>Cena 3

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