Armando Nascimento Rosa

ROSTOS DE NARCISO
- SOBRE D. JOÃO E JULIETA, DE NATÁLIA CORREIA -

Ilumina-se a cena e é soberano,
no palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia? É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?

É o teatro: a magia que descobre
o rosto que a cara do homem cobre;
relectidos no teu espelho - o actor -

Os teus fantasmas levam-te para onde
O tempo puro que te corresponde
Entre horas ardidas está em flor.

NATÁLIA CORREIA, Sobe o Pano
(Soneto para o Dia Mundial do Teatro de 1993)

«A tragédia de D. João está no supremo poder de seduzir, de que ele próprio foi a maior vítima. Em nenhum amor matou a sede.
De mulher em mulher, como outros d'ideia em ideia, ele era, essencialmente, um homem bêbedo de Deus como Espinosa.»

ANTÓNIO PATRÍCIO, Serão Inquieto (1910)