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O OBJECTO SEMIÓTICO |
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Entenda-se por “objecto semiótico” qualquer conjunto significante, o que quer que seja que tenha sentido, quaisquer que sejam os seus limites (uma frase, um discurso político, um romance, um quadro, uma fotografia, uma sonata, uma escultura, um jardim), quaisquer que sejam as suas formas de expressão ou os tipos de manifestação (auditiva, visual, olfactiva, táctil). Uma ponte existe desde já vários anos entre uma semiótica da junção discontínua e uma semiótica do discurso em acto, a presença gradual. J. Fontanille diz que “a estrutura tensiva é para a presença o que o quadrado semiótico é para a junção. Uma estrutura elementar” (1). É tese hoje aceite em semiótica que a enunciação não dispensa uma “base perceptiva” em que os fenómenos sensíveis recebem uma primeira articulação nos termos de uma semiótica do contínuo (2). Há-de haver entre o ponto de vista fenomenológico e o ponto de vista semiótico uma transição. Antes de perceber a dimensão figurativa e icónica, o sujeito ressente antes de mais a intensidade que emana do objecto e que afecta o seu corpo próprio e ressente a seguir ocupada pelo objecto, avaliada como um desdobramento figurativo quantificável. Em pragmática, o termo objecto modal faz referência a um poder-fazer atribuído ao sujeito operador. Na esfera cognitiva, J. Fontanille (3) apresenta face à noção de sujeito observador, a de informador revestido pelo objecto. Este reconhecimento sobre o plano cognitivo de uma certa factitividade do objecto percebido transforma-o de certo modo em sujeito-informador mantendo com o observador relações conflituais ou contratuais. O estudo das paixões, entre as quais as paixões de objectos, leva Greimas e Fontanille (4) a continuar a elaboração do simulacro por excelência da semiótica quer é o percurso generativo da significação para lá do universo significante, nas precondições da significação, onde sujeito e objecto não estariam ainda disjuntos e definidos, mas num contacto de ordem proprioceptivo. Neste universo tensivo e fórico, um quase-sujeito pressentiria um quase-objecto definido como sombra de valor e depois como valência. Esta valência emergiria pouco a pouco e apresentaria uma potencialidade de atracção ou de repulsão. |
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Notas | |
(1) Jacques Fontanille, “De la sémiotique de la présence à la structure tensive», p. 217. (2) Ibidem , p. 218. (3) Le savoir partagé , 1987. (4) Sémiotique des passions, Paris, Seuil, 1991, p. 13-14. |
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