CLAUDIO WILLER
Tributo
Por Betty Milan
Gosto da frase É PRECISO QUE SEJAMOS MODERNOS COMO O AMOR e gosto do modo como o autor se refere a ela na Introdução de seu novo livro, Estranhas Experiências (Editora Lamparina, Rio de Janeiro, 2004): “Perguntei à página: o que (a frase) significa? Lembrei-me da noção de moderno e da modernidade em Baudelaire, aquilo que sempre muda e por isso é fascinante, associado ao emergir do maravilhoso na vida urbana. Afirmar que o amor é moderno é uma variação irônica sobre o tema ou tópica do amor eterno. Digo o contrário, que não, não é eterno, e vai mudar, transformar-se constantemente…” O amor, com efeito, deixa de existir quando não e renova, quando o amante não é capaz de o reinventar através de palavras ou de gestos.
Quem ama sabe que o encontro, e só ele, faz as cidades e as paisagens existirem: “você me pede que escreva sobre o Rio de Janeiro / mas não existem cidades / são nossas viagens que criam roteiros”. Os lugares, como nós, não passam de fantasmas, e o poeta conclui: “Nada é tudo o que temos” sempre.
Precisamente por afirmar este NADA, escrito com maiúsculas, ele pode escrever: “eu sou a umidade do ar / sou as cores do ar / sou o horizonte e todas as formas no horizonte”. Só o fato de nada termos possibilita a nossa transfiguração. Considere-se o folião do carnaval. Todo ano ele se apresenta de maneira diferente. Nada tem, mas sua possibilidade de ser é infinita.
Não ter, não ter, não ter, parece preconizar a poesia de Estranhas Experiências, que exalta o encontro e não desdenha a loucura: “a luz dos loucos brilha / nos poucos capítulos / que devo a meu diário”. O autor não ignora o brilho da loucura, como Shakespeare, que escreveu: “O só olhar de um louco revela a loucura dos normais”.
E, por deixar a loucura cintilar, o poeta percebe que “o lado de lá é simples e está aqui, basta estar aberto e disponível”. A isso ousa acrescentar: “Somos deuses”. Cada um de nós irradia luz, conquanto aceite a idéia de que “tudo é tão simples / basta o adolescente em nós / tomar conta da cena”. O adolescente ou o inconsciente, que aflora continuamente na poesia de Claudio Willer, porque ele não se quer demasiado inteligente, prefere o mais visceral, na tradição dos surrealistas e dos modernistas, dos “poetas carnívoros”.
Estranhas Experiências é um livro que merece o leitor mais atento. Por ter chegado a verdades simples como: “poesia é o que sempre soubemos”. Por afirmar corajosamente, a cada linha, que “a rebelião romântica, individual, continuará a contribuir para a transformação do mundo”. Em suma, por se tratar de um livro que será eternamente moderno, como outros textos do mesmo autor – de poesia, ensaio e tradução.
revista triplov
SÉRIE VIRIDAE . NÚMERO 04: CLAUDIO WILLER
portugal . fevereiro . 2022