MINA LOY
1882-1966 (INGLATERRA)
Photo by Man Ray
TRÊS POEMAS EM TRADUÇÃO DE IkaRo MaxX
PARTO
Eu sou o centro
de um círculo de dor
excedendo seus limites em todas as direções
O negócio do sol brando
não tem caso comigo
no meu congestionado cosmos de agonia
de onde não há escapatória
em vibrações nervosas infinitamente prolongadas
ou em contração
para identificar o núcleo de ser
Localizar uma irritação — sem
Isto está — dentro
DENTRO
Isto é sem
A área sensibilizada
É idêntica com a extensividade
de intenção
Eu sou a quantidade falsa
na harmonia da potencialidade fisiológica
Ao qual
ganhando autocontrole
eu deveria ser consoante
em tempo
A dor não é mais forte que a força de resistência
A dor chama em mim
A luta é igual
A janela aberta está cheia com uma voz
Um pintor de retratos da moda
escalando o andar de cima para o apartamento de uma mulher
Canta
“Todas as garotas são pequenas e ingênuas
Todas as garotas são legais
Se elas usam seus cabelos em cachos
Ou — ”
Na parte de trás dos pensamentos a que permito cristalização
A concepção – Bruta
Por quê?
A irresponsabilidade do macho
Deixa à mulher sua superior Inferioridade.
Ele está correndo andar acima
Estou subindo uma montanha distorcida de agonia
Incidentalmente com a exaustão do controle
Eu alcanço o cume
e diminuo gradualmente em antecipação de
Repouso
que nunca vem.
Para outra montanha está crescendo
que estimulada pelo inevitável
devo atravessar
atravessando-me
Algo no delírio das horas da noite
confunde enquanto intensifica a sensibilidade
embaçando os contornos do espaço
assim, ajudando a ilustrar o circunscrito
que o gargalo de uma fera selvagem crucificada
vem de tão longe
& a espuma nos músculos esticados de uma boca
não é parte de mim mesma
Existe um clímax na sensibilidade
quando a dor ultrapassa a si mesma
torna-se exótica
E o ego consegue unificar o positivo & o negativo polos de sensação
unindo as forças opostas & resistentes
na revelação lasciva
Relaxamento
Negação de mim como uma unidade
Interlúdio de vácuo
Eu deveria ter sido esvaziada de vida
dando vida
para consciências em crise — corridas
através dos depósitos subliminares de processos evolutivos
Não tenho eu
em algum lugar
escrutado
uma branca emplumada mariposa morta
colocando ovos?
Um momento
sendo realização
pode
vitalizado por iniciação cósmica
fornecer uma apologia adequada
para a objetiva
aglomeração de atividades
de uma vida
VIDA
Um salto com a natureza
dentro da essência
da Maternidade imprevisível
contra minha coxa
apesar do movimento infinitesimal
pouco perceptível
ondulação
Umidade — quente
Revestimento de vida incipiente
precipitando em mim
os conteúdos do universo
Mãe Eu sou
Idêntica
com a Maternidade infinita
Indivisível
Agudamente
Estou absorvida
Dentro
do foi-é-sempre-deve-ser
da reprodutividade cósmica
Ergue-se do subconsciente
Impressão de uma pequena carcaça animal
coberta com garrafas azuis
– epicúrea –
e através os insetos
acenam aquela mesma ondulação de viver
Morte
Vida
Estou sabendo
tudo sobre
Desdobrando
A manhã seguinte
cada mulher-das-pessoas
dotando a pilha vermelha do tapete
fazendo serviço silencioso
cada mulher-das-pessoas
vestindo uma auréola
uma pequena auréola ridícula
da qual ela é sublimemente inconsciente
Ouvi uma vez em uma igreja
– Homem e mulher Deus os criou –
Graças a Deus.
APOLOGIA DO GÊNIO
Neste nosso ostracismo de Deus
os vigilantes do lixo civilizado
revertem seus sinais em nosso rastro
Leprosos da lua
todos magicamente adoecidos
estamos entre vocês
inocentes
de nosso luminoso sofrer
desconhecendo
quão perturbadoras luzes
nosso espírito
na paixão do Homem
até que vocês nos mostrem suas plácidas tolas faces
como bundas desnudas em zombarias aborígenes
Somos os palhaços sacerdotais
que se alimentam de vento e estrelas
e pulverizados pastos de pobreza
Nossas vontades se formam
por disciplinas curiosas
para além das suas leis
Vocês podem nos parir
ou nos casar
a sorte de sua carne
não é nosso destino –
A couraça da alma
ainda brilha –
E desconhecemos
se vocês confundem
esta breve
corrosão com possessão
Nas brutas cavernas do Incriado
forjamos o crepúsculo do Caos
para essa jóia imperiosa do Universo
– o Belo –
Enquanto aos seus olhos
uma colheita delicada
de místicas perpétuas criminosas
encara a foice do censor.
CILINDROS HUMANOS
Os cilindros humanos
revolvendo no enervante entardecer
que envolve cada vez mais perto no mistério
da singularidade
Entre a liteira de uma tarde sem sol
Tendo comido sem provar
falou sem comunhão
e ao menos dois de nós
Amou um pouquinho
sem procurar
saber se nossas duas misérias
na corrida lúcida de autômatos
poderia formar um bem-estar opulento
Simplificações de homens
no enervante entardecer
sua indistinção
serve-me o núcleo da semente de você
Quando no frenético alcançar do intelecto ao intelecto
inclinando a testa para a fronteira comunicativa
sobre o abismo da potencial
Concordância da respiração
Vergonhas
Ausência de correspondência entre o verbal sensorial
E reciprocidade
da concepção
& expressão
onde cada um extrude além do tangível
um pálido trilho de especulação
de entre nós, enviamos
no enervante entardecer
uma pequena besta de lamentação
de quem saudade
é deslizar para a madrigueira antediluviana
e um tentáculo elástico da intuição
para tremer entre as estrelas
A imparcialidade do absoluto
Roteia a polêmica
ou qual de nós
poderia não
recebendo o Santo-Fantasma
pegá-lo e enjaulando
perdê-lo
ou na problemática
destruir o Universo
com a solução
revista triplov . série gótica . outono 2019
parceria tripLOVAGUlha
EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019
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