MARIA AZENHA
Foto: M CÉU COSTA
TRIBUTO
In: Maria Azenha, A sombra da romã.
1ª. Edição, Novembro de 2011
Editora Apenas Livros, Lda.
Lisboa_ Portugal
Não te aproximes deste poema
No centro tem uma romã
Foi desenhado com uma esfera de silêncio
Dentro queima
Até que Deus queira destruir-lhe o Som.
*
Amor, aceita este meu horto de sangue.
Plantei-o com romãzeiras e o alaúde da minha língua.
*
O relâmpago dos teus olhos fulminou-me.
Não sei a quem pedir mais consolo.
*
Uma pomba atirou-nos para longe.
Separou-nos para nos fazer estrangeiros.
*
Sinto o perigo de passarmos perto das crianças,
De semearmos destroços de gelo no seu peito.
*
O pó do deserto alimentou mil romãs.
Passei esta porta com mil rubis nos olhos.
Quero deixar sinais da minha Amada.
In: Maria Azenha, A casa de ler no escuro
Editora Urutau, São Paulo BR e Galiza ESP (1ª. Edição Esgotada | 2ª Reimpressão, Maio de 2017) — Finalista do Prémio Internacional de Poesia Glória de Sant’ Anna 2017
Queda
Cheguei há poucas horas.
Os sons do mundo são carvões acesos no meio do escuro.
Minha boca gizada a diamantes de sangue
rasga poentes com lenços negros de seda.
A linha do horizonte é uma águia vermelha.
O poema tomba.
O Anjo do desastre
Chegou a morte com a boca cheia de cravos.
Chegou numa certa manhã escura
com sirenes no deserto e
cavalos
contra a primavera
contra a chuva
sem que o sangue de deus existisse num milagre
ou num mícron de segundo.
Vi o anjo do desastre colocar os pés no mundo.