Rimbaud no poema – Manoel Tavares Rodrigues-Leal evocando e ecoando Jean-Arthur Rimbaud

 

Manoel Tavares Rodrigues-Leal – 2011-2012

MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL
Tributo
Org. : Luís de Barreiros Tavares


LUÍS DE BARREIROS TAVARES
Editorial


“… moi pressé de trouver le lieu et la formule”
Jean-Arthur Rimbaud

“A poesia é a pesquisa da palavra”
Manoel T. R.-Leal 

“Ausente Verlaine; que cabeça de loucura busca Rimbaud, bruscamente belo”
Manoel Tavares Rodrigues-Leal

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, 2010-2011. Café Rosa Choque – Rua de Macau

Em duas entrevistas filmadas e publicadas num filme documentário com Manoel Tavares Rodrigues-Leal (Lisboa – 1941-2016)[1] poderemos ouvi-lo falar de Jean-Arthur Rimbaud (Charleville-Mézières-1854 – Marselha-1891)[2]. Escutemos as suas respostas à pergunta “E o Rimbaud?”: “Oh… o Rimbaud! O Rimbaud é o Rimbaud, e a excelência poética… Rimbaud é isso. Nas Iluminações, depara-se-lhe a loucura através da iluminação… das Iluminações. E depois de Uma Estadia, ou Estada no Inferno (Une Saison en Enfer)[3]. Mas, quer dizer, depois, nas Iluminações, acontece que ele transcende o terrestre, o terreno, que é a relação com Verlaine. E aí cruza-se com a loucura e escreve. Termina as Iluminações e parte”.[4]

“Mas é uma poesia continuada, contínua… discursiva… [“mas termina, deixa de escrever poesia”]”. O que Manoel Leal quer dizer talvez venha em eco a René Char quando escreve no seu prefácio à obra de Rimbaud: “Chez Rimbaud, la diction précède d’un adieu la contradiction. Sa découverte, sa date incendiaire, c’est la rapidité. L’empressement de sa parole, son étendue épousent et couvrent une surface que le verbe jusqu’à lui n’avait jamais atteinte ni occupée” (RIMBAUD, 1991: 14). Segue-se uma outra pergunta: “Mas porque é que Rimbaud termina [deixa de escrever poesia]?”. “Quando ele escreve as Iluminações já está quase louco. Iluminação… Illuminations… as Iluminações… Já está praticamente [louco]… Ele tem que fugir, ou então entra na loucura clínica… “.

No entanto, Francisco Vale, prefaciador da Obra Completa, assinala: “ao que tudo indica [Rimbaud] iniciara [as Iluminações] antes de escrever Uma Temporada no Inferno (o facto faz com que não tenha sentido tentar estabelecer relações de prioridade cronológica entre os dois principais textos de Rimbaud)” (RIMBAUD, 2018: 22). Mas o certo é que as Iluminações são o culminar de qualquer coisa, ponto crítico e máximo na obra de Rimbaud. Tanto assim que Francisco Vale parece reconhecê-lo ao citar e comentar Cesariny: “Mário Cesariny parece fazer uma mera constatação quando escreve no prefácio às Iluminações que estas são ‘um terreno-limite que muita gente explora mas para além do qual ainda ninguém atravessou’”[5]. De resto, talvez as Iluminações tenham sido terminadas depois de Uma Temporada no Inferno. E, ainda que o não fossem, elas são sempre de algum modo um certo momento mais alto, último.

Por assim dizer, segundo Manoel Leal, atento e intuitivo leitor de Rimbaud, as Iluminações são o limiar – o assomar das alucinações e visões rimbaudianas, do génio deste grande poeta. Não já apenas a loucura pensada poeticamente, elaborada na escrita (“a lucidez poética que o Rimbaud tem”), mas a possibilidade da perdição na loucura a partir da e na vida. Esta tem de mudar. E a poesia tem de suspender-se, cessar, pois ela já não é só a “Alquimia do verbo” (ver poema XVIII evocando este título). Ela atingiu um limiar que poderá desembocar na loucura sem labor, daí a expressão “loucura clínica”. Só a viagem, a partida para outros lugares, fará sentido. Para Manoel Leal, este “terminar”, este “deixar de escrever”, após a conclusão das Iluminações, simbolizará a partida radical, viagem das viagens, consumada no momento mais extremo nos seus últimos anos em África, na Abissínia (actual Etiópia).

“… Depois, depois / despojaste-te da mental alquimia e é inolvidável / o verbo, sua inocência inacessível.” (poema 5); “Mais au Harar Rimbaud déchante, son chant le quitte”, diz-nos Alain Borer, Un sieur Rimbaud – La Terre et les pierres; “Sua vasta beleza o poeta a elaborou e libertou desde os primórdios da sua inexorável condição mítica: praia plural, delírios ou vertigens, desde a invenção da sua clara loucura (absurda imagem ou demência de si-mesmo)” (no texto inédito de Manoel Leal aqui publicado: “Alquimia do Verbo (Homenagem a Rimbaud)” (poema em prosa 23). Manoel Leal alude por várias vezes à loucura e ao manicómio nos poemas agora publicados.

Mas escutemos algumas passagens de Rimbaud, onde a loucura espreita e é elaborada poeticamente, ainda antes do seu culminar criador nas Illuminations: “É a minha vez. A história de uma das minhas loucuras” (“Delírios II” – Alquimia do verbo”, Uma Temporada no Inferno)[6]; “Nenhum dos sofismas da loucura – da loucura que se põe em reclusão – foi por mim esquecido: poderia repeti-los todos, conheço bem o sistema” (Delírios II)[7]. Ou as alucinações de Rimbaud: “Habituei-me à alucinação simples: via muito francamente uma mesquita no lugar de uma fábrica, uma escola de tambores feita por anjos, caleches nas estradas do céu, um salão no fundo de um lago; os monstros, os mistérios […]” (“Delírios II”)[8]; “Desde então, tenho-me banhado no Poema / Do Mar, infuso de astros e lactescente, os céus / Verdes sorvendo; onde, a flutuar lívido e feliz, / Um afogado absorto por vezes aparece; // Onde, tingindo de repente azuis, delírios / E ritmos lentos sob os fulgores do dia, / Mais fortes que álcool, mais vastos que nossas liras, / Fermentam do amor os amargos rubores! (“O Barco Ébrio”, Poesia)[9]; “As alucinações são inumeráveis” (“Nuit de l’Enfer”, Uma Temporada no Inferno).[10]

E a loucura nas Iluminações (Illuminations), antes de partir: “Mas como doravante esse cepticismo não pode ter aplicação, e eu estou de resto votado a uma nova perturbação – espero tornar-me um louco muito perigoso.” (“Vidas II”, Iluminações)[11]. Talvez uma outra loucura o esperasse, a do tráfico de tabaco e de armas em África, por exemplo. “Recolhamos fervorosamente esta promessa sobre-humana feita ao nosso corpo e à nossa alma criados, esta demência! A elegância, a ciência, a violência!” (“Manhã de Embriaguez”, Iluminações)[12]. E depois a morte, escreve Manoel Leal: “Sob o som vegetal da nudez, / (Deslizando o comboio), relembro a metamorfose da morte de Rimbaud: / Eis a ilação de uma profusa e eloquente loucura!…” (poema 17)[13].

Manoel Leal passou por vários internamentos em casas de saúde mental. A possibilidade de enlouquecer atormentava-o, e esse medo é revelado frequentemente na sua poesia. É o que mostram, por exemplo, estes versos: “Eu sei o que é o manicómio: É essa ideia central que me obceca. […] Este historial de coisas, essa amargura que me cega e cala…” (num poema de 1989). Por outro lado, era capaz de uma subtil ironia, lidando com essa loucura: “A claridade veste o dia: como optar pelo manicómio com um dia lindo? (Lx. 2-10-77 – Paisagens de água). Em nota a um poema de 1976 evocando Pessoa (também o poeta de Mensagem chegou a estar de malas aviadas para o manicómio):[14] “Belas, casa de saúde mental; manicómio para gente fina; uma duquesa iria para ali.” Ou ainda, referindo-se a Ângelo de Lima: “O Arcanjo doudo do Rilhafoles” (poema publicado na revista Caliban).

Sobre a relação de Rimbaud com Verlaine, Manoel Leal prossegue a entrevista: “Nunca vi um rapaz de dezasseis-dezassete anos ter a lucidez poética que o Rimbaud tem… na adolescência ou no fim da adolescência. E quando inicia uma relação com um poeta conhecido e mais velho do que ele 10 anos, o Verlaine. Aliás, um poeta que era bissexual. Vivia com a mulher e com a mãe da mulher… E, quer dizer, consegue seduzir – aos dezasseis-dezassete anos –, outro poeta, e grande também. Mas através da palavra poética, apenas, não é? É extraordinário como um poeta seduz outro poeta através da palavra poética…”.

Nos poemas a Rimbaud, Manoel Leal não esquece Verlaine, revelando uma certa cumplicidade e admiração por ambos, e aludindo também à relação difícil entre os dois: “Afinal Rimbaud – Verlaine (o inominável amor / perverso como os versos que, iluminados, escreveram. / Nossa incomum solidão… talvez os vértices de um gelado triângulo…) / Alguém nos escutará em o estertor do aquático tempo?” (poema 3); “O maiúsculo revólver / O amor malogrado / Eis Rimbaud e Verlaine / O espanto decepado…” (poema 21); “Ausente Verlaine; que cabeça de loucura busca Rimbaud, bruscamente belo” (poema 15 – ver epígrafe).

A par de Rimbaud, Fernando Pessoa ortónimo e os três famosos heterónimos (Caeiro, Campos, Reis) são os poetas mais evocados por Manoel Leal (“Presença ausente, a de um nome / quadripartido mas de tudo equidistante”)[15]. Porém, o nome “Fernando Pessoa”, pressupondo os quatro – “nome quadripartido” – é o poeta a quem Manoel Leal dedicou mais poemas. Mas Manoel Leal é mais expressivo e entusiástico com Rimbaud no final da sua vida. O heterónimo que se mantém igualmente em grande conta nas últimas fases da sua obra, principalmente a partir de 2000, é Ricardo Reis. “Mas quando ele [Pessoa] é Ricardo Reis está a romper com a poesia tradicional portuguesa. Não havia uma poesia tão erudita e tão clássica, e tão pensada, repensada até ao limite. É uma coisa extraordinária!” (entrevista inédita (2011) no filme documentário “Pessoa, persona, pessoa como eu” – 2020).[16]

Em dois dos seus cinco livros publicados em edição de autor – veremos mais à frente – assinados com pseudónimos[17], encontramos uma epígrafe de abertura a Camilo Pessanha – também seu mestre, como refere algures –, uma a Campos, três a Reis e três a Rimbaud.

Mas Rimbaud já ascendia nos anos 70 do século passado como nome cimeiro nas admirações de Manoel Leal. Eis alguns versos de três poemas, dois deles inéditos, agora publicados: “Dir-te-ia que … agora … embora Pessoa, Rimbaud, Lautréamont, Eliot, Sappho. Dir-te-ia…” (1976 – poema 2); “Dizias que Pessoa__Artaud__Rimbaud… deus tantos outros. / Queimados na alquimia da palavra…” (1976 – poema 5). Neles se evocam outros nomes de poetas célebres muito admirados pelo autor, incluindo Pessoa.

Também nas décadas de 80 e de 90 encontramos poemas e referências a Rimbaud: Elle est retrouvé! / Quoi? – l’Éternité. / C’est la mer mêlée  / Au soleil. (“Délires II – Alchimie du Verbe”, Une Saison en Enfer, Jean-Arthur Rimbaud – inscrição no caderno Percurso (1987). É também epígrafe no livro, com inspiração em Rimbaud, de edição de autor: A Duração da Eternidade (2007), 20 anos depois[18]! O mais extraordinário é que até à publicação deste seu primeiro livro (2007), que consta na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço, Manoel Leal esteve cerca de 50 anos sem publicar fosse o que fosse. Os seus primeiros poemas datam de 1958, quando o poeta contava 17-18 anos.

Há duas inscrições das chamadas cartas do “vidente” [voyant] na página de rosto do caderno dedicado a Rimbaud (“in Memoriam de Rimbaud”): (Des)construção da Fala — 23–11–92: “Je veux être poète et je travaille à me rendre Voyant […] Il s’agit d’arriver à l’inconnu par le dérèglement de tous les sens. […] C’est faux de dire: ‘Je pense’. On devrait dire: ‘On me pense’. […] Je est un autre.” (Arthur Rimbaud – Lettre à Georges Izambard, 13 Mai 1871)[19]; “Le poète se fait voyant par un long, immense et raisonné dérèglement de tous les sens” (Arthur Rimbaud – Lettre à Paul Demeny, 15 Mai 1871).[20]

Para além da citação já mencionada no livro A Duração da Eternidade, encontramos igualmente as outras duas epígrafes a Rimbaud: ”moi pressé pour trouver le lieu et la formule.” (“Vagabonds”, Illuminations – epígrafe do livro de edição de autor A Imperfeição da Felicidade (2007); “Merde à Dieu” (epígrafe no livro A Duração da Eternidade (2007). Consta que esta expressão, em jeito de blasfémia, foi escrita a canivete num banco de jardim de Charleville, sua terra natal, numa fase irreverente e de revolta do jovem Rimbaud. Será porque “não se pode ser sério aos dezassete anos”, como diz o poeta? Aquela expressão é o assomar desse sufoco contra a religião. Em eco a esse mal-estar, o poeta manifesta a sua crítica e aversão no poema “Les Pauvres à l”Église”, por exemplo, na primeira estrofe: “Confinados entre bancos de carvalho aos cantos da igreja, / Aquecida pelos seus hálitos fétidos, todos os olhos / Virados para o coro de talha dourada e para a mestria / De vinte goelas berrando cânticos piedosos” (Poesia).[21] E contra a burguesia: “Incham-se às quintas-feiras nas noites de calor / Burgueses garrotados por invejas alvares” (“À Música – Praça da Estação, em Charleville” – Poesia).[22]

Sobre Rimbaud poderemos encontrar outros registos de Manoel Leal, por escrito e em conversas entre amigos: “Rimbaud é a viragem radical, é vertigem” (2012-2013).[23] Citemos de novo o passo de René Char: “L’empressement de sa parole, son étendue épousent et couvrent une surface que le verbe jusqu’à lui n’avait jamais atteinte ni occupée.” E ainda: “O meu pequeno espaço são livros, poemas, loiças, espelhos, a harmonia rimbaudiana.” (M.T.R.-Leal, 2012-2013). Numa carta a Jocelyne Berrier, uma amiga francesa, pode ler-se: “Je suis fort exigeant en poésie, me semble-t’il, et j’aime follement Rimbaud: c’est mon maître; je ne connais aucun autre… Fernando Pessoa, un grand poète portugais de ce siècle, c’est un génie, mais je prefere Rimbaud” (1995) (ver Carta 2).

De facto, nos seus últimos anos, Manoel Leal parecia querer libertar-se de Pessoa. Não obstante aquela espécie de eleição final com Rimbaud enquanto escolha primeira – dada a admiração indiscutível pelo poeta francês –, Manoel Leal parecia encontrar assim um resguardo em relação ao imenso Fernando Pessoa que o inspirou durante décadas, e mesmo ao fim: “Há uma certa profundidade que se descobre em “Lisbon Revisited” […] e noutros poemas. Mas, quer dizer, há o tal cosmopolitismo do Álvaro de Campos, que é o futurismo, é o futuro. E é isso que dá grandeza ao Pessoa: o romper com a tradição, a ruptura com a tradição poética portuguesa.” (ver “Pessoa, persona, pessoa como eu”). Seria para se proteger do génio e da grandeza de Pessoa na língua portuguesa e, eventualmente, de um “supra-Camões”? “O peso de Fernando Pessoa sobre qualquer poeta português, ainda que eventualmente grande.” (conversa inédita em vídeo – 2013).

Mas escutemos Pessoa: “[…] deve estar para muito breve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos, desta corrente [“a nova poesia portuguesa”], e da nossa terra, porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo plano a figura, até agora primacial, de Camões. Quem sabe se não estará para um futuro muito próximo a ruidosa confirmação deste deduzidíssimo asserto?”.

“Pode objectar-se […] que o actual momento político não parece de ordem a gerar génios poéticos supremos, de reles e mesquinho que é. Mas é precisamente por isso que mais concluível se nos afigura o próximo aparecer de um supra-Camões na nossa terra“.[24]

Porém, num desabafo em relação a Rimbaud e Pessoa: “Não fiquei nem em Rimbaud nem em Pessoa. Não sei se a minha poesia traz algo. Mas escrevo o que quero.” De facto, apesar das dúvidas que por vezes o assaltavam quanto à qualidade da sua obra (ver nota 25 sobre a Carta 2), Manoel Leal chegou a dizer que estava consciente de que a sua poesia haveria de ser falada no futuro: “Sei que a minha obra, agora desconhecida, terá um dia uma palavra a dizer.” Oscilava entre a afirmação e a negação. “É de uma inegável qualidade poética” – terá dito Eduardo Lourenço ao ler alguns dos seus manuscritos. Qual o alcance da obra de Manoel Tavares Rodrigues-Leal? É cedo, ainda não o sabemos.

Départ

Assez vu. La vision s’est rencontrée à tous les airs.
Assez eu. Rumeurs des villes, le soir, et au soleil, et toujours.
Assez connu. Les arrêts de la vie. – Ô Rumeurs et Visions !
Départ dans l’affection et le bruit neufs !

Arthur Rimbaud, Illuminations[25]

 

Manoel Leal em Paris – Versailles – com o amigo António Matos Guerra – finais de 60 do século XX

NOTAS

[1] Poderá ouvir-se Manoel Leal lendo os poemas “Départ” e “Royauté” – [Lbtavares Tavares]: “Recordo o vítreo retrato de Rimbaud”. Há ainda uma edição vídeo mais breve: [Lbtavares Tavares] “Jean-Arthur Rimbaud – ‘Départ’ – ‘Illuminations’” https://youtu.be/rdZK-4XWu6s

No filme documentário Elsa Rodrigues dos Santos lê um texto seu sobre o livro A Duração da Eternidade (com duas epígrafes de Rimbaud), de Manoel Leal. Foi lido numa emissão radiofónica do programa “Fantástica Aventura” da RDP Internacional, coordenado por Teresa Morgado e publicado no extinto boletim literário da Sociedade da Língua Portuguesa (SLP). Elsa Rodrigues dos Santos foi professora do Ensino Secundário, no Instituto de Ciências Educativas e na Universidade Lusófona.
Dedicou-se ao estudo da literatura portuguesa e das literaturas africanas de língua portuguesa.
Foi Presidente da Sociedade da Língua Portuguesa (SLP).

[2] Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, mais conhecido por Jean-Arthur Rimbaud, ou apenas Rimbaud.

[3] Outras versões do título: de Mário Cesariny, Uma Época no Inferno (RIMBAUD, 1960); também na versão livre de Cesariny: Uma Cerveja no Inferno (RIMBAUD, 1989); na tradução de Miguel Serras Pereira: Uma Temporada no Inferno (RIMBAUD, 2018). Parece-nos também viável e interessante a versão de Manoel Leal: Estadia (ou Estada) no Inferno. Doravante as traduções são referenciadas (Miguel Serras Pereira – MSP; João Moita – JM).

[4] “Abruptamente, em 1876, com apenas 19 anos de idade, decide terminar a sua curta carreira literária, renunciar à poesia e embarcar numa viagem pela Europa, Ásia, Médio Oriente e África, retirando-se para Harar, na Abissínia, onde se torna um negociante de café e armas, por conta própria, em 1880”. http://media.rtp.pt/extra/estreias/rimbaud-os-anos-perdidos-na-abissinia/

[5] Cf. RIMBAUD, 2018: 24.

[6] Cf. RIMBAUD, 2018: 363. Trad. MSP.

[7]  Cf. RIMBAUD, 2018: 373. Trad. MSP.

[8] Cf. RIMBAUD, 2018: 367. Trad. MSP.

[9] Cf. RIMBAUD, 2018: 223. Trad. JM.

[10] Cf. RIMBAUD, 2018: 351. Trad. MSP.

[11] Cf. RIMBAUD, 2018: 411. Trad. MSP.

[12] Cf. RIMBAUD, 2018: 421. Trad. MSP.

[13] Para além da palavra “loucura”, que surge também no poema VXIII, ocorrem outras palavras análogas nestes poemas aqui publicados: “manicómio”, “loucos”, “enlouqueço”, “Pierrot le Fou” (Godard).

[14] “Tenciono (sem aplicar agora o célebre decreto de 11 de Maio) ir para uma casa de saúde para o mês que vem, para ver se encontro ali um certo tratamento que me permita resistir à onda negra que me está caindo sobre o espírito.” (carta de Pessoa a Ofélia Queirós, de 15-10-1920) (PESSOA, 1986b: 158). Segundo Richard Zenith, isso não comprova que Pessoa pensasse seriamente nessa decisão. Num email que me enviou sobre o assunto, diz mais ou menos com estas palavras: “de malas aviadas talvez seja um exagero; de resto, a carta a Ofélia poderá ter um toque de brincadeira e de maneira de dizer”.

[15] Ver edição crítica de 118 poemas de Manoel Leal evocando Fernando Pessoa ortónimo e heterónimos na revista “Pessoa Plural” (Nº 17 – Junho de 2020): https://repository.library.brown.edu/studio/item/bdr:1117613/

https://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/pessoaplural/

[16] Veja-se [Lbtavares Tavares]: https://youtu.be/EaS09eShMSM

https://www.youtube.com/channel/UC5mZ3LtH1nRFdlKb_xBo6lQ?view_as=subscriber

[17] Sobre os pseudónimos leia-se a nota 17 na série dos poemas.

[18] Cf. RIMBAUD, 1991: 144. Na tradução de MSP (RIMBAUD, 2018: 371): “O quê? Reencontrada? / Sim, a eternidade. / O mar misturado / Com o sol.” Estes versos são de tal maneira belos que não nos privamos de uma nota mais longa. Talvez sugeríssemos uma outra tradução: “Ela é reencontrada! / O quê? A eternidade. / É o mar misturado ao sol.” A tradução é mais literal, mas não tanto no segundo verso, embora pareça. Pois neste há uma complexidade de sentido. O “ao” (contracção da preposição “a” com o artigo definido “o”) do último verso sugere não só a fusão com o sol, enquanto duas entidades (“o mar misturado com o sol”), mas também a fusão ou infusão, dir-se-ia, do sol no mar (“o mar misturado”): o próprio mar enquanto mistura de duas entidades numa. Ou misturado, precisamente, nos brilhos aquáticos e solares. O mar está misturado com (preposição) o sol, e, ao mesmo tempo (“Eternidade”?), exposto a (ao) ele. Nesta diferença o “ao” é aqui mais prenhe de sentido: parece aqui poder conter de outro modo o “com”. Há uma outra versão anterior, em Poesia, que termina: “C’est la mer allée / avec le soleil.” (É o mar que vai / E com ele o sol.) (RIMBAUD, 2018: 295) (Trad. MSP). Aqui é mais explícito o “com” (“avec”). Talvez pudéssemos também traduzir: “É o mar ido / com o sol”.

[19] Cf. RIMBAUD, 1991: 200.

[20] CF. RIMBAUD, 1991: 202.

[21] Cf. RIMBAUD, 2018: 177. Trad. JM. Há um comentário, em nota, de Louis Forestier a este poema (Rimbaud, 1991, p. 253): “Este poema talvez seja aquele que vai mais longe no desprezo pela religião. Esta não é senão uma ilusão, ou uma espécie de droga para uso dos velhos, dos fracos, dos doentes e dos miseráveis”. No entanto, Rimbaud revisitou por várias vezes Charleville. Segundo alguns, é notória a influência da paisagem das Ardenas na sua obra.

[22] Cf. RIMBAUD, 2018: 119.

[23] Estas e as restantes citações de Manoel Leal foram recolhidas em conversas.

[24] Textos de Crítica e de Intervenção. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1980.  1ª publ. in “A Águia”, 2ª série, nº 4. Porto: Abr. 1912. http://multipessoa.net/labirinto/obra-publica/2

Cf. PESSOA, 1986: 23.

[25] Poema lido por Manoel Leal nos filmes mencionados (ver nota 1).


Referências bibliográficas 

Alain Borer, Un sieur Rimbaud – La Terre et les pierres, Le Livre de Poche, 1989.

Fernando Pessoa, Textos de Intervenção Social e Cultural – A ficção dos heterónimos, Introduções, organização e notas de António Quadros, Europa-América, 1986.

Jean-Arthur Rimbaud, Uma Época no Inferno, versão portuguesa, prefácio e notas de Mário Mário Cesariny de Vasconcelos, Col. “Documentos Humanos”, Lisboa, Portugália Editora, 1960.

Jean-Arthur Rimbaud, Iluminações – Uma cerveja no inferno, tradução de Mário Cesariny, Lisboa, Assírio & Alvim, 1989.

[Jean-Arthur Rimbaud] Rimbaud, Poésies – Une saison en enfer – Illuminations, préface de René Char, édition établie par Louis Forestier, Gallimard, 1991.

[Jean] Arthur Rimbaud, Obra Completa, edição bilingue, prefácio de Francisco Vale, tradução de Miguel Serras Pereira e João Moita, Lisboa, Relógio d’Água, 2018.

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, A Duração da Eternidade, posfácio e desenhos de Luís de Barreiros Tavares, Lisboa, edição de autor (com o pseudónimo “Manoel Ferreyra da Motta Cardôzo”), 2007a.

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, A Imperfeição da Felicidade, posfácio e ilustração de Luís de Barreiros Tavares, Lisboa, edição de autor (com o pseudónimo “Manoel Ferreyra da Motta Cardôzo”), 2007b.

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, A Noção da Inocência, Lisboa, edição de autor (com o pseudónimo “Manoel Ferreyra da Motta Cardôzo”), 2008.

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, Lírica Translúcida, Lisboa, edição de autor (com o pseudónimo “Manoel de Souza-Valente”), 2010.

Manoel Tavares Rodrigues-Leal, Fidelidade de um Fauno, Lisboa, edição de autor (com o pseudónimo “Manoel da Cunha e Mello”, com dedicatória: “… a Luís [de Barreiros] Tavares…”, edição sem data – 2010-2011.

OURAS REFERÊNCIAS

https://www.youtube.com/channel/UC5mZ3LtH1nRFdlKb_xBo6lQ?view_as=subscriber

Manoel Tavares Rodrigues-Leal  e Pessoa

https://youtu.be/EaS09eShMSM

 [Lbtavares Tavares]


Luís de Barreiros Tavares. Foto de Alexandra Gomes

Luís de Barreiros Tavares nasceu em Lisboa em 1962 e licenciou-se em Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa (2007). Autor de alguns livros – entre eles O Acto de Escrita de Fernando Pessoa – e com publicações em várias revistas. Vice-director da revista Nova Águia e membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono (MIL). Editor e colaborador regular da revista Caliban e Editor das edições-vídeo “Passante”. É jornalista freelancer e artista plástico. Já deu umas aulas. Responsável pelo espólio do poeta Manoel Tavares Rodrigues-Leal.


MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL

Série Gótica . Verão 2020