NICOLAU SAIÃO
“A experiência mais bela que podemos viver é o mistério; ele é a fonte
de toda a verdadeira arte e de toda a verdadeira ciência. Quem não conhece
esta emoção, quem já não possui o dom de se maravilhar, mais valia que estivesse morto, pois os seus olhos estão fechados.” – Albert Einstein
“O olho que tu vês não é olho porque o vejas, é olho porque te vê” – António Machado
“Aos medíocres nem a superioridade no vestir lhes devemos deixar” – Gregorio Marañon
“Fora com o miserabilismo!” – frase nos muros de Paris
O Outro – Precisamente. Um vôo sobre o surrealismo. Nem exegese nem proposta de uma tese, mas muito exactamente um esvoaçar de alguém que, mais que observá-lo demoradamente nas suas obras vivas, fez dele ou nele se fez matéria de existência quotidiana, defesa e ataque simultaneamente numa sociedade a muitos títulos criadora de apoquentações e sofrimentos com que os que nela mandam tentam sufocar-nos a alegria de uma vida vivida em plenitude. Um, digamos desta forma, simples vôo de espírito e de corpo num continente sempre aberto – para que a terra não esqueça.
NS – Da parte de Floriano Martins recebo neste início do ano em que passa um século sobre o aparecimento dos primeiros textos de escrita automática – que não foi, saliente-se, o núcleo duro da poesia/prosa surrealista mas apenas um dos seus componentes – um acervo de poemas, constituindo um número temático da Agulha, ilustrada soberbamente por Enrique de Santiago.
De Isadora Egler a Elvio Gonçalves Junior, o conjunto de dez poetas permite-me concluir que nestes autores muito jovens a pegada do surrealismo marcou definitivamente o que se propõem executar. O seu discurso centra-se na prática de três noções: “Poesia, amor, liberdade – a tríade essencial do Surrealismo”, como é referido pelo organizador num passo da entrevista a um dos arrolados. Ou seja, fica-se sabendo que da banda do Brasil, como de outros lugares do mundo, a presença do surrealismo e de toda a carga fundacional que ele arrasta continuará a emitir sinais para além do convencionado/convencional, da retórica “metafísica” em uso por poetinhas que se servem duma mística hipócrita e delicadinha para arrebanhar notoriedade, pelos arrebentas da ideologia e da propaganda senil, em suma – por todos os que procuram alapardar-se à mesa dos diversos marketings onde a mediocridade militantona e o cinismo orientado é astuciosamente erigido em talento e qualidade.
EU MESMO – Se acaso não erro, o que tu deixas adivinhar no que referes é que o surrealismo continua a ser o contrário de um objecto histórico e, nessa ordem de ideias, a prática “cerrada e obstinada” de algo que, se necessário, se ergue contra a história que, com intuitos ora academizantes ora de mumificação, os que o contrariam e mesmo alguns que julgam ou simulam enfatizá-lo colocam nos locais expressos da cidade (jornais, revistas, rádios e tevês).
NS – Entendeste-me bem… Aqui e em todo o mundo, mas aqui mais que noutro lugar – sublinho – o que certa gente pretende é tornar a poesia surreal, que parte da escrita e da pintura, mero objecto de uso comum, uma espécie de inflexão intelectual para o correr dos dias e não aquilo que verdadeiramente é: vivência quotidiana transfigurada e transfiguradora, aventura mágica certificando o real em todas as direcções (o surreal), defesa íntegra contra tudo o que rebaixa o ser humano que a sustenta, desmascaramento dos diversos fideísmos “religiosos” ou laicos e dos colectivos que os propagam mais ou menos totalitariamente.
É preciso dizê-lo sem subterfúgios e sem nos deixarmos intimidar: neste país, durante o longo período do antigo regime salazarista, sempre houve duas censuras: a oficial e a que era propiciada e mantida pela inteligentsia marxista, ora estalinista ora de outra feição aparentemente mais heterodoxa. E ainda havia, muito pronunciadamente, aproveitando as características oficiais, a marcação sacrista, o que criou um ambiente pantanoso, nauseabundo que ainda hoje dura. Mais: se durante o antigo regime o estalinismo e seus derivados não podiam agir com todo o à-vontade que visavam, neste em que agora estamos – de democracia apenas tendencial, realmente partidocrática – eles podem actuar conforme lhes apraz, uma vez que os órgãos de comunicação estão na quase totalidade sob o seu domínio, pois têm sido seguidas com esmero as indicações gramscianas e politicamente correctas…Em certas alturas, vive-se um ambiente de cortar à faca, figurado numa acção social em que a frivolidade, a puerilidade e a futilidade são o selo do dia-a-dia coberto com a propaganda mais rasteira.
O OUTRO – É talvez isso que explica que certos operadores, como Mário Cesariny, fossem atacados por autores que se situavam, ou tinham situado, até do lado em que ele se posicionava. E mesmo agora…
NS – Sem dúvida. Alguns desses autores eram convictamente adeptos do chamado marxismo cultural, apoiavam expressamente o comunismo militante, mais tarde o cunhalismo que ao serviço da URSS queria estabelecer em Portugal uma ditadura social-fascista. Utilizavam contra ele e outros companheiros, sem rebuços, a injúria, a calúnia e o ataque soez. Pela minha parte nem preciso dizer nada, pois foram bem conhecidas as tentativas contra mim feitas de me difamarem, marginalizarem e impedirem de me exprimir. Aliás, isso ainda hoje dura, o facto por exemplo de eu ser amigo de Floriano Martins, com apreço pela Obra que firmemente vem estribando como autor, editor e investigador sem jaça, tem-me valido mais ou menos discretas – quando não mesmo indiscretas – investidas para definitivamente me calarem, me impedirem de aparecer publicamente tanto mais que sem me deixar manobrar continuo a mostrar, pelo que faço e pelo que escrevo e pinto, que o “surrealismo” deles é mera operação medíocre, confusionista e fraudulenta ao serviço quer de formações a que se ligam quer da sua deficiente capacidade de existirem com talentosa e erecta espinha dorsal.
Mas as próprias condições económicas do país e de quem nele se move torna frequentemente muito difícil a prática do surrealismo como agente actuante. Dou como exemplo o que recentemente se passou com um texto, uma posição que desejei pública, da minha parte. Esse texto, que foi (valha-nos a presteza da directora do TriploV, Maria Estela Guedes!) na hora dado a lume por aquela Página Cultural interactiva, referia uma “pacoviada” protagonizada pelo então ministro da Cultura luso (depois defenestrado em remodelação pelo seu chefe governamental) em companhia do popular e populista – que em quase tudo aparece no seu jeito entre o caricatural e o ridículo – actual presidente da República, por ocasião da inauguração, numa povoação do Norte, do museu do Surrealismo. Enviado (e aceite lhanamente pelo seu director) à revista de feição libertária “A Ideia”, não pôde ali ser publicado por, conforme aquele confrade me explicou, faltar absolutamente o espaço que se havia designado para o número. Depreendi, a meu ver correctamente, que levantaria problema monetário alterar a estrutura da dita, o que é respeitável.
O Outro – Mas, fazendo de advogado do Diabo, não seria por ter o dito texto pouco interesse ou, mesmo, carecer dele completamente? Ou ser inoportuno, que isto de ministros e presidentes num estado semi-autoritário…tem que se lhe diga.
Eu Mesmo – Hum…! A meu ver, não. Mas para nos tirarmos de dúvidas, aqui fica ele, tanto mais que aborda um detalhe (a tal “pacoviada”) que tem sido glosada em escritos ou ditos por outra gente em outros lugares.
O SURREALISMO EM JEITO DE VAUDEVILLE…ESTATAL
Conforme se pôde ler no diário “Observador”, foi há um par de dias inaugurado, em Famalicão, o denominado “Museu do Surrealismo”, na dependência e por manejo – dizem-me que luzido e competentemente afeiçoado – da Fundação Cupertino de Miranda, entidade que já terá, como é voz corrente, articulado outras andanças que ao surrealismo dizem parte.
A sessão, além de dois protagonistas da pintura surreal, teve a presença do mais alentado magistrado da Nação, que artilhou palavras como é de seu uso e seu jeito nas sessões em que, esforçada e maciçamente, comparece para maior proveito – calcula-se – abrangente das diversificadas “modalidades” em relevo na pátria.
Diz-nos, sem incorrecta intenção o mesmo “Observador” que, a dada altura (e citamos cabalmente), “No rodopio de discursos, ainda houve tempo para o ministro da Cultura fazer uma pequena reflexão do surrealismo português, que “aparece de uma forma diferente do francês”:
“Por um lado, é menos terrorista, por outro lado, é mais empenhado politicamente, apesar de não haver uma estética de compromisso com ideologias. O surrealismo é uma ideia de emancipação total, de liberdade.”.
E é precisamente baseados nessa noção de liberdade que o surrealismo, ontem, hoje e sempre é de facto, que – apesar de vivermos numa mera partidocracia, que não democracia, o que sãmente nos expõe a eventuais velhacarias do Estado e da sua parceira de casal “geringonça” – vimos dizer ao excelentíssimo (digamos desta forma) – governante, cujas qualidades, muitas ou poucas, já foram magnificamente caracterizadas num esclarecedor texto transacto de Alberto Gonçalves:
– o seu conhecimento interior do surrealismo e da liberdade e emancipação que lhe assiste será, cremos, meramente superficial, eventualmente fútil e necessariamente confuso, a atender ao verdadeiro insulto consignado nesta sua pequena jaculatória. Classificar de terrorista as actividades vitais e conceptuais dos nossos companheiros franceses é simples expressão que, se estivéssemos numa democracia real não poderíamos deixar de qualificar como acintosa e caluniosa. (Não sendo eventualmente produto de um espírito ou cândido ou ardiloso).
E o resto do seu raciocínio que, em frase quase caricatural, a seguir expande, vem na sequência dessa confusão, dessa superficialidade e dessa futilidade que se deixam adivinhar.
Nesta conformidade, e em jeito queirosiano, solicita-se a Vexa. que retire a sua alentada figura de dentro do surrealismo, que está e estará sempre pelo que se percebe nos antípodas de tudo o que Vexa. é ou se pensa, eventualmente, ser.
E, já agora, ajude igualmente outro qualquer elemento estatal ou de representatividade político-oficial a retirar-se também de dentro desse continente, avesso como ele é a entidades estatais, ministeriais ou, até, de uso para galhardetes ou “selfies”…
Nicolau Saião – Participante do Movimento Surrealista Internacional
Criador, com Mário Cesariny, do Bureau Surrealista Alentejo-Lisboa
NS – Ora bem…Passando agora a um outro olhar, raciocinando livremente sobre coisas que se impõem e outras que se propõem, procuremos verificar até que ponto, ou como, o surrealismo e seus cultivadores se posicionam num mundo onde, por exemplo, 600 espécies estão prestes a desaparecer seguindo-se a outras já definitivamente extintas, onde as religiões reveladas oscilam entre a hipocrisia afável do catolicismo e a brutalidade primária do islamismo, onde pretensos “amigos do povo” praticam descaradamente o roubo, a exacção corrupta e a demagogia, onde a mentira e a dissimulação se tipificam como não mais que habilidades governativas e os operadores culturais são cada vez mais tão-só agentes de difusão da ideologia e da propaganda.
No prefácio ao livro “ A Intervenção surrealista”, diz-nos Cesariny a páginas doze do mesmo: “É ainda Breton quem, em 1946, regressado da América do Norte onde exemplificou o manifesto lançado ao Daladier de Munique – ‘nem a vossa guerra, nem a vossa paz’ – traz, escrito no Grande Canyon, não o poema lírico do trânsfuga social, mas sim, na Ode a Charles Fourier, a crítica cerrada e obstinada do pensamento e dos sistemas então vitoriosos e engalanados”.
Quer isto dizer: é claro, que muito do que se passa e passa por surrealismo, em acção ou tentação, mais não é que tagarelice ou actividade eventualmente pernóstica propiciada por cavalheiros e cavalheiras que não percebem ou fingem não perceber que agir surrealmente não é debitar uma prosódia arrebicada ou absurda, escrita ou pintada, mas sim aplicar e praticar uma crítica lúcida e operar em real liberdade e originalidade, aberta por exemplo aos conhecimentos e à ciência de ponta para que a descoisificação do mundo seja uma via terrena e estelar que temos o direito de exigir e tentar atingir.
Daí que, paralelamente às reservas vivíssimas que é necessário colocar a um certo progressismo que mais não é que estratégia de domínio autoritário, posto que tacticamente afável e manso, é fundamental desmascarar os diferentes tentames fideístas com que os próceres da religião revelada visam domesticar-nos.
À hipocrisia melíflua e doce do Vaticano & companhia, hoje por hoje uma verdadeira “entidade criminal” (negócios escuros, pedofilia estrutural, cinismo institucional, etc.) ainda que envolta nas delicadezas francisquistas, (camuflagem dum “salto para a frente” de gente que tenta que a sua específica burla siga frutificando), urge – tal como em face da “entidade criminosa” islamita – opôr um rotundo “non serviam”, um claro “Nem deus nem dono”. A este propósito, é necessário, diria mesmo fundamental, levar em conta as investigações e as análises do ensaísta italiano Mauro Biglino, que em dois livros instigantes e dos mais importantes publicados nos últimos cem anos (“A Bíblia não é um livro sagrado” e “A Bíblia não fala de Deus”) desvela de forma superior e desmonta irrecusavelmente a mentira a que durante séculos se entregaram os teólogos e os poderes políticos para estabelecerem a imagem, sinistra, de uma Potestade feita de interpolações falsas e de um vazio que, por ser vazio e falso, só cria em quem o frequenta ora monomanias, ora neuroses, ora claras psicopatias sociais. Para vantagem e interesse espúrios dos donos do mundo e seus avatares.
Eu Mesmo – No que respeita a certa arte moderna contemporânea o que se verifica é – por obra e graça de um dito pós-modernismo de timbre ora esquerdizante ora de cariz argentário – a vacuidade conceptual e a mediocridade criadora, feitas de pretensiosismo e de vaidade ao serviço de políticas e de economicismos pacóvios. Por razões meramente de propaganda e de ideologia epigrafam-se, como notáveis, companheiros de jornada cujas prestações causam enjoo e, na verdade, servem os intuitos de quem os coloca na ribalta. No mundo do espectáculo, aqui entre nós o ambiente é o de um melting pot que frequentemente causa asco a quem tem da dignidade e da verdade uma ideia filha da decência elementar.
O Outro – Tem-se mesmo a impressão que o regime actual estimula tal estado de coisas…
NS – Evidentemente. Se escavarmos um bocadinho, de uma maneira surreal e esclarecida, os volteios do país pretérito e do de agora, concluiremos facilmente que se algo mudou depois da reviravolta abrilina a essência que fere os lusitanos continuou a ser igual. Neste momento, por exemplo, temos na governação um aventureiro político (propiciador de uma dita “geringonça”, uma aliança partidária) manobrador descarado e cuja ética deixa muito a desejar, figura secundarizante que foi no consulado dum outro de jaez semelhante, hoje crivado por suspeitas de corrupções e já processado criminalmente. Esse actual mandante, que em diversas ocasiões deixou que se notasse o seu cariz de maldosa ineficácia, tem como parente na magistratura mais alentada da res publica um conhecido jongleur das políticas, famoso pelas suas traquinices demagógicas – uma espécie de populista com semblante psicológico de vedeta de talk shaws, cuja popularidade, conseguida por meio de “engraxadelas” ao vulgar cidadão cândido e primário, começa a esfarelar-se à medida que as condições desta pátria patrioteira se vão afunilando e esboroando.
É neste ambiente, onde já se iniciou um perfil sintomático de prepotência social-fascista e de “esquerda caviar”, deficientemente enfrentada por uma oposição mal-ajambrada, que o surrealismo possível vai vivendo, não esquecendo que os meios universitários, no que a uma prática crítica e criadora diz parte, pouco têm que os recomende – para me exprimir desta forma suave…
Eu Mesmo – Coisas da vida vidinha, duma sociedade ainda obnóxia…Adiante.
O surrealismo, nos seus anos vividos, teve relacionamentos os mais diversos, frequentes vezes com resultados nada famosos. São da história os seus diferendos, ou diferenças, que se estabeleceram com formações que se diziam progressistas ou partidárias de uma real emancipação do espírito, mas que apenas visavam conquistas de poder político que, na verdade, jungiam os cidadãos em geral e os surrealistas em particular a novas dependências.
NS – Sim. São bem conhecidas as tentativas, frustradas posteriormente, de colaboração intensa com os sectores comunistas, que a breve trecho se mostraram impossíveis. O comunismo, principalmente nesses tempos, tinha uma feição estalinista, autoritária e primarizada, muito limitada e tendenciosa. As adesões de alguns surrealistas, nomeadamente Breton, a breve trecho se tornaram uma fonte de constrangimento para os que não se renderam nem venderam, pois o surrealismo visava a integral libertação ao passo que aquela formação ideológico-partidária tinha um intuito apenas de agit-prop e de domínio de um sector dependente de ditaduras expressas. Ou seja, hoje vê-se na perfeição que não é possível conciliar liberdade descomprometida com ideologias que, afinal, visam simplesmente equacionar laços de dominação absoluta.
O Outro – Numa fase última, houve a noção, explícita, que a colaboração com os sectores libertários, ou anarquistas, poderia propiciar virtualidades mutuamente proveitosas…
Eu Mesmo – Exactamente. Lá fora não sei como tal se tem verificado. Neste país apenas posso falar, aquilatar, pela minha experiência pessoal. Logo depois do 25 de Abril houve aproximações, que deram alguns pequenos frutos, mas o sector anarquista, provavelmente pela longa ausência de cena e de actuação provocada pelo período salazarista, como que se quedara num tipo de formatação que eu chamaria de “neo-realista”, não conseguia ver que a prática surrealista era na verdade uma prática libertária por si mesma, sem necessitar de utilizar a ideologia. Assim, por exemplo, quando apresentei, em acordo com Cesariny e outros confrades, a um jornal anarquista, significativos textos de nossa lavra, a resposta que obtivemos depois de uma projectada aceitação foi esta, contida neste pequeno bilhete de resposta que nos enviaram:
“Quintal
Aqui te deixo o material contido no envelope junto, enviado pelo Saião.
Li, como era meu dever, para mais uma vez poder observar as inclinações literárias e sociológicas do nosso Saião. Desejo ser justo nas minhas análises. Acho, do que li, haver alguns trabalhos de interesse para serem publicados na V.A., contudo, há outros que também possam ter certo interesse, mas que pecam por ser demasiados (sic) filosóficos e bastante intelectualizantes, pouco acessíveis à grande massa dos nossos assinantes os quais é provável dizerem que o jornal está a ser acessível a intelectuais e não para os proletas de média cultura. Será de analisar melhor os textos para publicação.
Sebastião
Nota – Os textos referidos no recado eram os seguintes: “Surrealismo & Revolução – 1ª parte” de Franklin Rosemont, em tradução de ns; um poema de Mário-Henrique Leiria (“Ida sem volta”); dois poemas de Luís Buñuel (“A Santa Missa Vaticanae” e “Quando fomos para a cama”; dois poemas de Cesariny (“História de cão” e “Alegoria do mundo na passagem de Arnaldo de Vilanova”) e uma pintura (“Homenagem a Buñuel”); um poema de Manuel Lourenço cujo título não recordo); “Subsídios para o entendimento surrealista”, ns.
Claro que, em vista desta “opinião”, não insistimos, abandonando o tablado.
Na revista “A Ideia”, actualmente dirigida por Cândido Franco – que tem tido interesse pelo surrealismo e manifestamente se esforça por lhe dar análise e alguma guarida – foram publicadas peças epigrafando-o, posto que maioritariamente de feição histórica.
NS – Tenho verificado, principalmente pelas informações e leituras que me chegam de fora – e tenho de conferir relevo ao que me é dado pelos confrades do Brasil – que a prática e a vivência surrealistas mais apuradas se determinam por certos factores, sempre nele presentes e muitas vezes cerzidos de forma mais marcada, quais sejam: a noção de que a liberdade, o amor, a abertura à imaginação, ao mistério e à pesquisa de novos rumos originais – recusando-se o já visto e as fórmulas de escola – são o caminho que se trilha com mais amplas possibilidades de navegar com sabedoria e aprazimento, para sempre e sempre se chegar a bom porto.
Nicolau Saião
Janeiro de 2019
REVISTA TRIPLOV . SÉRIE GÓTICA . PRIMAVERA 2019