Literatura de cordel

 

GUSTAVO DOURADO


Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, etc, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península a literatura de cordel recebeu os nomes de “pliegos sueltos” (Espanha) e “folhas soltas” ou “volantes” (Portugal). Florescente, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira merecerá no futuro, um estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares.

 

Máquina usada pelo poeta Raimundo Santa Helena

O grande mestre de Pombal, Leandro Gomes de Barros, que nos emprestou régua e compasso para a produção da literatura de cordel, foi de extrema sinceridade quando afirmou na peleja de Riachão com o Diabo, escrita e editada em 1899:

“Esta peleja que fiz não foi por mim inventada, um velho daquela época a tem ainda gravada minhas aqui são as rimas exceto elas, mais nada.”

Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é “Por que exatamente no nordeste?”. A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.

Na indagação dos pesquisadores no entanto há lógica, porque os poetas de bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel, demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750 é que apareceram os primeiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem nome, depois de relativo longo período, a literatura de cordel recebeu o batismo de poesia popular.

 

Prelo de 1880

Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura de cordel escrita. Os registros são muito vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes de Manoel Riachão ou Mergulhão, mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19 de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo, em fins do século passado.

 

A literatura de cordel: O folheto popular 

A literatura de cordel brasileira é uma poesia folclórica e popular (isso é, oriunda tanto da tradição oral quanto da escrita), em termos de produção, disseminação e consumo. Teve raízes e êxito no Nordeste do Brasil na maior parte do século XX.

O cordel como crônica poética e história popular é a narração em versos do “poeta do povo” no seu meio, “o jornal do povo”. Trata-se de crônica popular porque expressa a cosmovisão das massas de origem nordestina e as raízes do Nordeste na linguagem do povo. É história popular poque relata os eventos que fizeram a História a partir de uma perspectiva popular. Seus poetas são do povo e o representam nos seus versos.

E já afirmavam, em 1969, que o cordel é o documento popular mais completo do Nordeste brasileiro.

Os poemas de acontecidos do cordel existem como crônica poética popular, de fato, documentando uma história popular que engloba cem anos da realidade brasileira.

Os relatos poéticos cotidianos de eventos do dia, os folhetos de acontecidos não são só relatos históricos em verso popular. Depois de estudos feitos por teóricos da comunicação no fim dos anos de 1960, o cordel foi abordado como jornalismo popular, divulgando notícias do dia. Algumas declarações dos teóricos trazem uma nova perspectiva a nossa consideração do cordel como crônica poética e história popular do século XX. O que era sabido intuitivamente pelos poetas recebia agora esforço teórico.

A literatura de cordel foi escrita originalmente por poetas humildes do interior e costa do Nordeste com pouca educação formal mas com o “dom” do verso. Os pioneiros do cordel eram dos estados de Paraíba e Pernambuco, e outros estados do Nordeste, e muitos compartilhavam a tradição oral do cantador ou improvisador de versos do duelo poético oral, ou seja, a peleja, a cantoria ou o repente.  Os poetas do cordel criavam suas estórias em verso, geralmente em versos de oito sílabas em seis ou sete linhas de verso com rima xaxaxa ou ababccd e as levaram às gráficas ou tipografrias locais.

 

Os heróis dos folhetos populares

Os folhetos e romances mais antigos do cordel se imprimiam, em geral, na primeira década do Século XX, mas o primeiro evento importante nacional registrado no cordel foi a Guerra de Canudos de 1896-1897, a tragédia nacional quando o exército Brasileiro decimou a ralé de sertanejos pobres e seu líder Antônio Conselheiro no sertão da Bahia.  Os grandes poetas pioneiros do cordel, Leando Gomes de  Barros, Silvino Pirauá Lima, Francisco das Chagas Batista, João Melchíades Ferreira da Silva e outros escreviam nas primeiras duas décadas do Século XX.  Então João Martins de Atayde criou uma segunda “Idade de Ouro” da produção cordeliana com uma equipe de escritores no Recife, Pernambuco, isso do fim dos anos 1920 até o fim da década dos 50.  Aí, o estoque de Atayde mais aquele de Leandro Gomes de Barros, comprado por Atayde da viúva do poeta em 1921, se trasladaram a Juazeiro do Norte, Ceará, agora no fim dos 1950 quando José Bernardo da Silva continuou a tradição na Typografia São Francisco.  Assi foi que a cidade de Padre Cícero Romão teve seu “momento no sol” no cordel.

Outra geração continuava forte no Nordeste através os anos 1960, poetas como José João da Silva, Manoel Camilo dos Santos, José Camelo, Cuíca de Santo Amaro e Rodolfo Coelho Cavalcante, Minelvino Francisco Silva, Manuel D’Almeida Filho e muitos outros.  Depois o cordel começou a se disminuir seriamente devido à disponibilidade do rádio transistor, depois a televisão, e a televisão de cores, ao custo alto de imprimir os folhetos do cordel, e a falta de poder adquisitivo do público tradicional.  As feiras locais se diminuíam, e algumas desapareciam, mas, o principal foi que o Brasil estava se modernizando e o cordel deixava de servir como a diversão e o meio de comunicação principal de seu público tradicional humilde do Nordeste.

Um pequeno ressurgimento do cordel tomou lugar nos anos 1970 e 1980 em parte devido ao interesse intelectual quando as universidades foram encorajadas a colocar o cordel no seu currículo.  Professores de colégio e até escolas primárias foram incentivados a lecionar sobre o cordel para que jovens brasileiros soubessem dessa parte importante da herança cultural nacional. Outro estímulo para o cordel foi a venda de xilogravuras ao lado dos folhetos e romances de cordel nas barracas dos mercados com o resultado que até os turistas estrangeiros com poucos conhecimentos da língua portuguesa pudessem comprar e levar à casa a arte folclórica nordestina na forma de gravuras e folhetos de cordel.

A saga da luta para a volta à democracia depois de 21 anos de ditadura, a “Campanha de Eleições Diretas” e a odisseia pessoal do Presidente-Eleito Tancredo Neves deram ao cordel um ímpeto significante de 1983 a 1985.  A volta à Democracia e os debates dos “presidenciáveis” mantinham o interesse para o público e a publicação de folhetos impressos através a eleição de Collor de Melo e seu “impeachment” dramático no começo dos anos 1990 só acrescentaram tal interesse.

O centro do cordel, depois de uma importante fase em João Pessoa no começo do século XX, nos anos 1920 virou a cidade do Recife com a grande editora de João Martins de Atayde que distribuía folhetos em todo o Norte e Nordeste do Brasil.  Agentes dele e poetas outros que compravam seus livrinhos de feira viajavam o interior todinho espalhando os livros e vendendo-os a um público sempre em estado de crescimento. Com a morte de Atayde e a venda de todo seu estoque a José  Bernardo da Silva, o “centro” da literatura popular em verso mudou-se a cidade esta, Juazeiro do Norte, por coincidência a cidade de Padre Cícero.  Havia vários outros poetas e gráficas espalhados pelo Nordeste na época.  Depois, devido às secas contínuas e a pobreza no Nordeste, havia uma grande migração de gente para fora, principalmente ao sul e as grandes cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.  Os poetas acompanhavam os retirantes, e faziam parte deles, e se estabeleciam nestas cidades.  Havia também certo movmento a Belém do Pará e até Manaus, com a promessa de emprego nos seringais, e uma editora excelente prosperava-se em Belém do Pará nos anos 1930 e 1940.  E com a construição de Brasília entre 1955 e 1960 pelos “candongos”, muitos deles fugindo a pobreza do Nordeste, havia certa presença também do cordel na nova capital. Assim foi que a literatura popular em verso, o cordel, começava a ficar conhecida em uma parte grande do Brasil e representava o melhor da tradição folclórica-popular do País.

 

 

O folheto de cordel

O cordel consiste, basicamente em longos poemas narrativos, chamados “romances” ou “histórias”, impressos em folhetins e panfletos de 32 ou, raramente 64 páginas, que falam de amores, sofrimentos ou aventuras num discurso heroico de ficção.

Esta é uma parte significativa do cordel em termos de número de poemas publicados, mas não representa todo o gênero. Um segundo tipo de impresso, o folheto com oito páginas de poesia circunstancial ou de acontecido, também contribui para o corpo total da literatura de cordel, reportam toda sorte de acontecidos, do local ao regional ao nacional e internacional.. Completa o quadro o duelo poético, chamado “peleja”, “desafio”, ou termo equivalente, um duelo oral improvisado. Assim, o cordel tem características tanto populares quanto folclóricas, ou seja, é um meio impresso, com autoria designada, consumido por um número expressivo de leitores num área geográfica ampla, enquanto exibe métricas, temas e performance da tradição oral. Além  disso, conta com a participação direta do público como plateia.

Seja literatura popular ou folclórica, se não uma combinação das duas, o cordel é antes de mais nada, poesia popular.

 

Os três tipos de poemas cordelianos principais:

O duelo oral improvisado que na sua forma escrita se chama “peleja”.

A versão escrita do duelo oral, improvisado, conhecido em português como peleja, desafio, cantoria ou repente. Dois poetas se enfrentam, e a esperteza, a inteligência e uma língua rápida e talvez ferina determinam o vencedor.

Temas populares “tradicionais,” maiormente ficcionais, que tratam contos de fadas, amor, grandes heróis, aventura ou temas religiosos.

Nestas estórias em verso o leitor brasileiro descobre a cavalaria medieval nas estórias de Carlos Magno e seus Doze Pares, velhos contos de fada includindo Branca de Neve, as lendas orientais de Aladím e Ali Baba, e as estórias tradicionais Católicas de Jesus, Maria, os apóstolos e santos nas suas lutas em contra os males de Satanás.  Também há uma pletora de estórias de amor e aventura, de príncipes e princesas, de monstros e dragões a serem matados. E, há humor, o “quengo” ou “amarelo” brasileiro, a versão nordestina do “pícaro” que sobrevive pela esperteza.  Em quase todos estes poemas há a presença de uma corrente forte moral: o Bem vence o Mal em todas as suas formas.

Poemas de cordel não ficcionais, que reportam toda sorte de “acontecidos”, do local ao regional ao nacional e internacional.

Os folhetos de eventos do dia, ou seja, os acontecidos, são uma crônica de eventos religiosos, sociais, econômicos e politicos, e de seus protagonistas durante todo o século XX e os começos do século XXI.  Fanáticos religiosos e guerras no sertão, bandidos da índole de Robin Hood que andavam no Nordeste durante quase quarenta anos, e os altos e baixos da vida econômica e política – estes são o “ganha-pão” do cordel.  O cordel reporta sobre a Primeira República infante, os levantamentos dos anos 1920, e a odisséia de revolta, revolução, o Estado Corporativo e finalmente, a democracia dos trabalhadores, sob o commando do politico mais famoso do Brasil, Getúlio Vargas. O que vem depois é a busca dinâmica e caótica para a democracia nos próximos dez anos com o Presidente Juscelino Kubitschek e a fundação e construção de Brasília, as ecentricidades de Jânio Quadros e seus esforçoas de “varrer” a corrupção do passado fora do Brasil durante seus seis meses breves como Presidente, e o reformador-esquerdista Jango Goulart nos seus quatro anos turbulentos.  O Cordel aí conta do resto do século nos anos escuros  da ditadura militar de 1964 a 1985 e a volta ao “normal” e a busca do Brasil até hoje de um lugar no sol (outro daquele das praias de Ipanema, Copacabana ou Itapuã). Mais recentemente, o cordel fez crônica dos escándalos do “dinheiro na cueca”, “O mensalão” de politicos corruptos, e o regime altamente popular de Lula, o migrante pobre do Nordeste em São Paulo, agora lider de sindicato e presidente populista do Brasil.

Os repórteres do cordel olhavam fora do Brasil também e faziam sua crônica da Primeria Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, e os conflitos principais internacionais desde então, dando ênfase ao papel dos Estados Unidos e seus líderes.  Mais recentemente, os poetas documentam  o terrorismo internacional no ataque dos “Twin Towers” em Nova Iorque, e as guerras de Bush pai e filho em Iraque e Afganistã.  Os poetas mandam Sadam Hussein, Osama Bin Laden, o Primeiro Ministro da Inglaterra e especialmente George W. Bush  ao inferno por suas ações.

 

A evolução do folheto

As capas ilustradas com os próprios tipos decorativos, isso até os anos 1920, e depois com foto-clichês de figuras de postais românticos da Europa ou estrelas do cinema de Hollywood.  Logo, especialmente no fim dos anos 50 e começo dos 60, a capa de preferência foi aquela ilustrada com a xilogravura popular de gravadores locais do nordeste. Os poetas recebiam uma parte dos livros impressos e vendiam os livros chamados de folhetos, folhetes, livros de feira, abcs ou arrecifes nos dias de feira nas pequenas vilas no interior e nos mercados de cidades, ou “cantando” ou declamando as estórias na praça do mercado ou vendendo-as em barracas no pátio do mercado, e depois nos pontos de transporte do povão.   O poeta armava seu estoque em uma folha de plástico no chão, ou com os folhetos arrumados na própria mala e logo vendia-os a um público ávido.

 

– Folhetos sem capa: 

Pertencem ao período mais antigo do cordel (final do século XIX, início do século XX). Possuem essa denominação por terem suas capas compostas apenas por tipografias e ornamentos.

– Desenho popular: 

São caracterizados por terem capas com desenhos e caricaturas feitas em litogravura ou zinco-gravura. Estima-se que começaram a aparecer nas capas de folhetos na década de 1910.

– Cartão Postal: 

São caracterizados por apropriarem em suas capas cartões postais produzidos na Europa com retratos de lindas mulheres, artista célebres dos teatros parisienses.

– Fotografia: 

São caracterizados pela presença de fotografias na sua capa, principalmente de artistas de cinema reproduzidas em clichês de metal adquiridos de Jornais.

– Gravura popular: 

Possuem capas feitas em xilogravura. A primeira xilogravura em folheto de cordel apareceu em 1907, mas foi a partir da década de 30 que começaram a ganhar popularidade.

– Folhetos contemporâneos:

Folhetos atuais com capas coloridas e que se utilizam da tecnologia moderna para sua produção, como a impressão em offset. Começaram a aparecer em 1952 com a editora Prelúdio.

 

O cordel e sua atuação hoje

Hoje, no começo do século XXI, os autores de cordel podem ser mais urbanos, morando em cidades grandes no Nordeste, ou talvez no Rio ou em São Paulo. Podem ser de classe média e talvez tenham títulos universitários. Os temas de seus folhetos são mais urbanos, a linguagem mais contemporânea, mas em muitos casos os poetas ainda respeitam e obedecem as velhas tradições em quanto ao tema, título e linguagem.  E, muitos poetas hoje em dia escrevem versos que distribuem através a internet, embora a maior parte destes poemas não chegue a ser impressa.

Depois de um hiato de uns anos quando sua produção caiu de maneira significante devido às mudanças econômicas e sociais no Brasil, o cordel está gozando um “renascimento” devido principalmente à computadora e impressora ao lado que permitem os poetas de hoje em dia de se livrarem do custo alto da tipografia ou gráfica comercial.

O cordel continua hoje em dia com as mudanças já notadas: os poetas veteranos e artistas de xilogravura como J. Borges, José Costa Leite e Abraão Batista continuam no Nordeste e Azulão e Gonçalo Ferreira da Costa no Rio.  Mas, uma nova geração de poetas escreve hoje em dia, entre eles, poetas de segunda geração, como Marcelo Soares, poeta de cordel e artista de muito sucesso na xilogravura, filho do famoso “repórter” de cordel José Soares de Pernambuco.  Estes poetas, muitos  da classe média, vários com títulos universitários e morando nas grandes cidades do Brasil, continuam os velhos temas e formato, escrevendo seus folhetos no computador e imprimindo-os na impressora ao lado. E um fenômeno inteiramente novo – o cordel na internet – é importante hoje em dia no Brasil devido a uma mídia eletrônica altamente desenvolvida.  Gustavo Dourado é um dos mais importantes dos “internautas de cordel,” empregando temas e formato do velho cordel em seus muitos títulos mas sem a impressão em papel do mesmo.

O papel principal da literatura de cordel hoje em dia está preservado nos arquivos nacionais como uma parte importante da herança folclórica-popular nacional.

A literatura de cordel presente nos milhares de folhetos e romances nos arquivos é verdadeiramente uma enciclopédia em verso de um rico passado folclórico-literário nordestino, de mores sociais Brasileiros, e dos eventos pequenos e grandes do Século XX.  Através dos poemas, pode-se ver o “universo vasto” do cordel.  Se o interessado for persistente e um pouco trabalhador, poderá ver ainda pedaços daquele universo no Brasil de hoje em dia.

Finalmente, o cordel diretamente ou indiretamente, sempre ensina.  Oferece os ensinamentos tradicionais da “velha” Igreja Católica em estórias sobre a religião tradicional e a moralidade. Mas o sincretismo religioso Brasileiro e sua flexibilidade de caráter admitem também comentários sobre o Espiritismo Kardecista, a Religião Afro-Brasileira e o Espiritismo Indígena.  Em “exemplos” morais, o cordel ensina o leitor como viver, mas, maiormente com estórias chistosas ou irônicas como “A Moça que Bateu na Mãe na Sexta-Feira da Paixão e Virou Cachorra”

 

Alguns dos grandes cordelistas

Apolônio Alves dos Santos

Natural de Guarabira, PB, transferiu-se para o Rio de Janeiro no ano de 1950, onde exerceu a profissão de pedreiro, até viver da sua poesia. Seu primeiro folheto foi “MARIA CARA DE PAU E O PRÍNCIPE GREGORIANO”, publicado ainda em Guarabira.

Faleceu em 1998, em Campina Grande, na Paraíba, deixando aproximadamente 120 folhetos publicados e acreditando ser o folheto “EPITÁCIO E MARINA”, o mais importante da sua carreira de poeta cordelista.

 

Cego Aderaldo

Cantador famoso, voz excelente, veia política apreciável. Era um dos mais inspirados de quantos que existiram nos sertões do Ceará. “Aderaldo Ferreira Araújo” era seu verdadeiro nome. Nasceu no Crato, viveu em Quixadá e morreu em Fortaleza, beirando os 90 anos, em 1967. Tomou parte em cantorias que marcaram épocas. Os versos que escreveu são lidos e conhecido em todo o Brasil.

 

Elias A. de Carvalho

Pernambucano de Timbaúba, além de poeta, que com tanto entusiasmo contou e cantou as coisas do seu estado e do Brasil, foi também emérito sanfoneiro, repentista e versejador, sendo intensa a sua atividade, sem prejuízo para a profissão de enfermeiro, na qual era diplomado. Trabalhou no sanatório Alcides Carneiro, em Corrêas, na cidade de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro, ligação que lhe permitiu preparar um importante trabalho intitulado “O ABC do corpo humano”, entre os tantos outros que escreveu ao longo de sua vida.

 

Firmino Teixeira do Amaral

Foi o mais brilhante poeta popular do Piauí. Nasceu no povoado de Amarração (Luís Correia-PI) e mudou-se muito jovem para Belém-PA, tornando-se o principal poeta da Editora Guajarina, de Francisco Lopes. Escreveu a famosa Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, tida por muitos como real, mas, ao que tudo indica, foi fruto de sua imaginação. Nesta obra ele criou um novo gênero na cantoria: o “trava-língua”.

Dentre as obras de sua autoria destacam-se “Pierre e Magalona”, “Bataclã”, “O Filho de Cancão de Fogo”, “O Casamento do Bode com a Raposa” e a peleja mais genial e popular de todos os tempos: a de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum, que chegou a ser gravada por Nara Leão e João do Vale no disco OPINIÃO.

 

Gonçalo Ferreira da Silva

Poeta, contista, ensaista. Nasceu em Ipu, Ceará, no dia 20 de dezembro de 1937. Autor fecundo e de produção densa, principalmente no campo de literatura de cordel, área que mais cultiva e que mais ama. Poeta intuitivo, de técnica refinada, chega a ser primoroso em algumas estrofes. É, porém, a abrangência dos temas que aborda que o situa entre os principais autores nacionais, tendo produzido diversos títulos com a temática de ciência e política. Quando participa de congressos e festivais é comum vê-lo contando histórias em versos rimados e de improviso. Hoje vive no Rio de Janeiro e é presidente da ABLC.

 

João Martins de Athayde

Nasceu no dia 24 de junho de 1880, em Cachoeira da Cebola, no município de Ingá, Paraíba. Trabalhou como mascate e atraído pela febre da borracha, foi para o Amazonas onde teve 25 filhos com as caboclas das tabas indígenas. Retornou ao nordeste e transferiu-se para Recife, onde fez curso de enfermagem.

Em 1921, já com bela fortuna amealhada, comprou o famoso projeto editorial de Leandro Gomes de Barros, tornando-se o maior editor de literatura de cordel de todos os tempos. Vendo que oitenta por cento dos folhetos vendidos nas feiras era de humor ou de pelejas, e tendo especial vocação para duelos verbais, inclinou sua pena para esse tipo de produção. Usando personagens reais e fictícias, escreveu mais de uma dezena de pelejas até hoje muito procuradas e lidas, como a de “Serrador e Carneiro”.

 

João Melchíades Ferreira

João Melchíades Ferreira da Silva nasceu em Bananeiras-PB aos 7 de setembro de 1869 e faleceu em João Pessoa-PB, no dia 10 de dezembro de 1933. Foi sargento do exército. Combateu na Guerra de Canudos e na questão do Acre. É autor do primeiro folheto sobre Antônio Conselheiro e de mais de 20 folhetos, dos quais destacamos “ROMANCE DO PAVÃO MYSTERIOZO”, “COMBATE DE JOSÉ COLATINO COM CARRANCA DO PIAUÍ”, “ROLDÃO NO LEÃO DE OURO”, “HISTÓRIA DO VALENTE ZÉ GARCIA” e “A GUERRA DE CANUDOS”.

 

José Pacheco

Há controvérsia sobre o lugar de nascimento de José Pacheco. Para alguns, ele nasceu em Porto Calvo, Alagoas; há quem firme ter sido o autor de “A Chegada de Lampião no Inferno”, pernambucano de Correntes. A verdade é que José Pacheco, que teria nascido em 1890, faleceu em Maceió na década de 50, havendo quem informe a data de 27 de abril de 1954, como a do seu falecimento. Seu gênero preferido parece ter sido o gracejo, no qual nos deu verdadeiros clássicos. Escreveu também folhetos de outros gêneros.

 

Leandro Gomes de Barros

O paraibano Leandro Gomes de Barros, pioneiro na publicação de folhetos rimados, é autor de uma obra vastíssima e da mais alta qualidade, o que lhe confere, sem exageros, o título de poeta maior da Literatura de Cordel. Nascido em Pombal-PB, em 19 de novembro de 1865, faleceu no Recife-PE, em 04 de março de 1918, deixando um legado cerca de mil folhetos escritos, embora centro cultural algum registre tal façanha.

Foi, porém, o maior editor antes de João Martins de Athayde, que o sucedeu. O vigoroso programa editorial de Leandro levou a Literatura de cordel às mais distantes regiões, graças ao bem sucedido projeto de redistribuição através dos chamados agentes.

 

Manoel Camilo dos Santos

Manoel Camilo dos Santos nasceu em Guarabora, Paraíba, no dia 9 de junho de 1905. Foi cantador na década de 30. Tendo de cantar em 1940, dedicou-se a escrever e editar folhetos. Iniciou as atividades editoriais em sua cidade natal, indo continuá-las em Campina Grande, onde reside. A Folhateria Santos, por ele fundada, cede, anos depois, seu lugar a A “ESTRELA” DA POESIA, que ele mantém mais como um símbolo, sob cuja égide vem fazendo publicar os raros folhetos que ainda escreve.

Manoel é membro fundador da Academia Brasileira de Cordel, onde ocupa a cadeira nº 25, que tem como patrono Inácio Catingueira. Repentista e violeiro, é autor de mais de 80 folhetos.

 

Manoel Monteiro

Manoel Monteiro da Silva ou simplesmente Manoel Monteiro, como assina seus trabalhos, nasceu em Bezerro, Pernambuco, no dia 4 de Fevereiro de 1937. É o mais importante cordelista brasileiro em atividade, com uma produção densa e diversificada, abarcando toda a área da atividade humana.

Seguro no ofício de escrever versos rimados e metrificados, suas narrativas são envolventes e prendem o leitor do princípio ao fim, além da influência verbal, própria dos grandes mestres. Em razão da qualidade de sua produção, a literatura de cordel está sendo indicada para a grade escolar de várias cidades brasileiras.

 

Mestre Azulão

José João dos Santos, Mestre Azulão, é natural de Sapé, Paraíba, onde nasceu aos 8 de janeiro de 1932. Cantador de viola e poeta de bancada, autor de mais de 100 folhetos, vive há vários anos no Rio de Janeiro e atuou na famosa Feira de São Cristóvão, abrindo caminho para outros poetas nordestinos que lá se estabeleceram. É um dos poucos cantadores vivos que ainda cantam romances, sendo freqüentemente convidado para apresentações em universidades brasileiras e até do exterior. Tem trabalhos publicados pela Tupynanquim Editora.

 

Patativa do Assaré

“Eu, Antônio Gonçalves da Silva, filho de Pedro Gonçalves da Silva, e de Maria Pereira da Silva, nasci aqui a 5 de março de 1909, no Sítio denominado Serra de Santana, que dista três léguas da cidade de Assaré. Com a idade de doze anos, freqüentei uma escola muito atrasada, na qual passei quatro meses, porém sem interromper muito o trabalho de agricultor.

Saí da escola lendo o segundo livro de Felisberto de Carvalho e daquele tempo para cá não freqüentei mais escola nenhuma. Com 16 anos de idade, comprei uma viola e comecei a cantar de improviso, pois naquele tempo eu já improvisava, glosando os motes que os interessados me apresentavam. Nunca quis fazer profissão de minha musa, sempre tenho cantado, glosado e recitado, quando alguém me convida para este fim.”

 

Raimundo Santa Helena

Raimundo Luiz do Nascimento nasceu em Santa Helena, município fundado por seu pai, que morreu em 1927 combatendo o bando de Lampião. Saiu de casa aos 11 anos, disposto a vingar a morte do pai. Em Fortaleza, no Ceará, trabalhou como trocador de ônibus, garçom, baleiro e engraxate. Em 1943 ingressou na escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Participou da Segunda Guerra mundial, sendo por duas vezes condecorado pelo presidente da República.

Em 1945 publicou seu primeiro cordel, “Fim da guerra”. Fundou a Cordelbras. Em 1983 recebeu juntamente com Gilberto Freyre, Augusto Ruschi e Jorge Amado o Prêmio Porto de São Mateus de Resistência cultural. Tem cerca de 2 milhões de exemplares de mais de 300 títulos em circulação. Foi criador da Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro. Escreveu ainda os livros “Lampião e o sangue de meu pai” e “Um marujo na esquina do mundo”.

 

Zé da Luz

Severino de Andrade Silva, nasceu em Itabaiana, PB, em 29/03/1904 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 12/02/1965. O trabalho de Zé da Luz é conhecido pela linguagem matuta presente em seus cordéis.

 

Zé Maria de Fortaleza

José Maria do Nascimento é natural de Aracoiaba, Ceará. Aos 13 anos veio para Fortaleza, onde iniciou sua carreira como violeiro, tornando-se conhecido pelo seu talento poético e sua maneira de cantar. Já representou o Ceará em diversos festivais realizados em vários estados do Brasil, destacando-se duas viagens que marcaram época em sua carreira, quando esteve no Rio Grande do Sul, por ocasião do 2º Congresso Nacional de Turismo, e quando esteve em Brasília, cantando para as maiores autoridades do país. Lançou, juntamente com Benoni Conrado, um dos primeiros discos de violeiros que se tem notícia no Brasil. Tem um livro inédito intitulado “Fagulhas do Estro”, publicou vários folhetos de cordel, destacando-se “Folclore também é cultura” e “Miscelânea de motes e glosas”.

 

Gravuras

Erivaldo

Erivaldo Ferreira da Silva nasceu no Rio de Janeiro, em 17 de maio de 1965. Filho de Expedito Ferreira da Silva, fez o curso de artes plásticas do MAM. Uma das figuras mais representativas da xilogravura brasileira, já ilustrou mais de uma centena de livros e folhetos de cordel.

 

MS

Marcelo Alves Soares nasceu em Recife em 1955. Filho do poeta popular José Soares, esculpe em suas xilogravuras as iniciais “MA”, “MS” ou ainda o nome “Marcelo”. É autor, entre outros, do folheto “O Encontro da Velha debaixo da Cama com a Perna Cabeluda”.

 

Borges

José Francisco Borges nasceu em Bezerros, Pernambuco, em 20 de dezembro de 1935. Internacionalmente conhecido com exposições em várias partes do mundo, principalmente na Europa. É o mais famoso dos gravadores nacionais em atividade.

 

JCL

José Costa Leite nasceu em Sapé, Paraíba, em 27 de julho de 1927. Muito requisitado por poetas, professores e pesquisadores de cultura popular em razão da simplicidade da sua produção, é também cordelista de grande apelo popular, pois sua obra abarca todos os assuntos regionais.

 

ABB

Abraão Batista nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, em 4 de abril de 1935. Poeta de produção densa e gravador de grande mérito, suas obras são todas ilustradas por ele próprio. Como gravador não se filiou a nenhuma escola, o que torna sua obra inimitável. É professor universitário.

 

Stênio

José Stênio Silva Dinis nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, em 26 de dezembro de 1953. Neto do famoso editor e poeta popular, José Bernardo da Silva, seu trabalho ilustra capas de folhetos e álbuns da antiga Tipografia São Francisco, de seu avô.

 

J.B.

João de Barros, também conhecido por “J. Barros”, nasceu em Glória do Goitá, Pernambuco, em 1935. Marceneiro, entalhador e xilógrafo é também poeta popular, autor, entre outros, do folheto “O Rapaz que virou Cachorro porque zombou do Padre Cícero”.

 

Jerônimo

Jerônimo Soares nasceu em Recife, Pernambuco, em 1945. Filho do poeta popular José Soares, começou fazendo carimbos e depois xilogravuras para ilustrar folhetos de cordel. Hoje reside em São Paulo, capital.

 

Franklin Jorge

Franklin Jorge do Nascimento Roque nasceu em Ceará-Mirim, Rio Grande do Norte, em 8 de setembro de 1952. Poeta, pintor, crítico de arte e professor, começou a pintar aos 16 anos e hoje tem várias de suas obras expostas em museus e coleções particulares.

 

Maxado

Franklin de Cerqueira Machado, Maxado Nordestino, nasceu em Feira de Santana, Bahia, em 15 de março de 1943. Bacharel em direito, optou por fazer exclusivamente literatura de cordel, palestras sobre o tema e xilogravuras. Escreveu, entre outros, “A Volta do Pavão Misterioso”.

 

Dila

José Cavalcanti Ferreira nasceu em Bom Conselho, Pernambuco, em 1937. Considerado um dos melhores xilógrafos do Nordeste, escreve, publica e ilustra folhetos, entalhando não só madeira, mas também pedaços de borracha vulcanizada. É seu o cordel “O Homem que virou bode”.

 

Ciro

Ciro Fernandes nasceu em Uiraúna, Paraíba, em 31 de janeiro de 1942. Começou a desenhar ainda criança, pintando nas paredes da casa dos seus avós. Aos 17 anos veio para o Rio de Janeiro e desde então fez várias pinturas, desenhos e xilogravuras, inclusive capas de livros para Orígenes Lessa.

 

AMS

Arlindo Marques da Silva nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, no dia 10 de agosto de 1953, onde trabalha com o poeta-editor Manuel Caboclo e Silva. Começou a fazer clichês em madeira aos 17 anos. Ilustrou, entre outros, “A Tentação do Demônio – Um Rapaz Castrado no Assaré”.

 

Jennifer Cristine . Blog da Jennifer

 


Revista Triplov . Tomo  Gustavo Dourado . Janeiro de 2024

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