ADRIANO WINTTER
PRÓCERES
novo
não nasce: todo
real se refaz
fogo
estilhaça de novo
seu cristal no topo
de cada manhã
rosa
desenrola a roupa
milenar pelo corpo
do aroma e da cor
rio
revém ao seu leito
e agita o mesmo
estandarte de peixes
único
capaz de forjar
ser singular – ovo
primevo – é
o autor: fermento
de um mundo
amorfo
CRIADOR
chega o tempo em que
escrever
é tudo
o que resta e interessa
romper o nada
inexpresso
com o big bang
de um verso
constelar
trevas antipoéticas
com palavras-supernovas
em plêiades inéditas
SOL(U)AR
uma não sabe brilhar
é cinzenta entre as crateras
a outra é diurna
aérea
uma cala um útero que espera
tem mãos úmidas / se inspira
a outra fala um fogo que atua
tem mãos áridas / realiza
e quando (na noite magnética
que as atrai e destina)
a fusão acontece
fervem watts incalculáveis:
p – o – e – s – i – a
O POEMA
duto de
estrelas
pelo qual noites
descem e verões
ascendem
mar
vertical
que à balsa do sol
(no coração das trevas)
entre letras eleva
TROPOGRAFIA
um Everest
a cada verso
selvas de ideias
rios imagéticos
um mar de metáforas
batendo na estrofe
ventos de ritmos
serras fonéticas
e o Gran Canyon
de um símbolo
de repente se abrindo
na planície da rima
ou ao fim
da página
— misterioso Saara —
este oásis
ARS DO VÁCUO
o poema
em si
não é nada
o apaga
um perfume
já basta
para
evaporá-lo
boca em branco
no entanto
atrai e arrasta
tudo:
vive em seu vácuo
amplo
um universo
mudo
EPITÁFIO
não há nada
além do verso
poesia
é o que resta
antologia
de tudo
punção de pulsos
no gume gráfico
dístico túmulo
sob línea-lápide
(morto e encoberto
por caracteres
o cosmo inscreve
seu epitáfio)
Adriano Wintter é poeta e tradutor. Nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Integra as antologias: Escriptonita (Pátua, 2015), Prêmio Escriba (2015) e Femup (2010). Tem coletâneas e traduções publicadas em revistas da Espanha, Portugal, México, Chile, Colômbia, Argentina e Brasil. É membro do conselho editorial da revista de poesia e arte contemporânea Mallarmargens.
HOMENAGEM A VICENTE HUIDOBRO
MATERIAIS, CORTESIA DE
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© Revista Triplov. Série gótica . Primavera de 2018