Galopimite

 

TRIBUTO AO PROF. GALOPIM DE CARVALHO


“Em finais do ano de 2005, descobrimos numa lapa da Serra de Aire e Candeeiros, que durante muito tempo foi um areeiro ao serviço da população local, umas formas bizarras de areias, normalmente de forma esférica, de uma só esfera, ou de muitas esferas associadas (por vezes, centenas), de várias dimensões.

Mais tarde, o Prof. Galopim de Carvalho, com o seu assistente, João Cascalho, estiveram no local e fizeram um estudo, que mais a baixo transcrevemos, sobre as “bonecas-de-areia” de Porto de Mós.

Depois de muita insistência junto do Prof. Galopim de Carvalho, batizamos estas bonecas-de-areia com o seu nome – GALOPIMITES”…

José Teixeira, “MINERMÓS” Porto de Mós.

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A seguir: excerto da comunicação ao VII Congresso de Geologia de 2006, em Estremoz.

“BONECAS DE AREIA (SAND DOLLS) DE PEDREIRA (PORTO DE MÓS, PORTUGAL)

apresentada por:

M. Galopim de Carvalho (1), João Cascalho (1) e José Teixeira (2).

(1) Museu Nacional de História Natural (Univ. Lisboa),

(2) Minermós, Porto de Mós.

SUMÁRIO

Percorridas por águas ricas em CaCO3, infiltradas nos calcários do Dogger, as areias eólicas retomadas da plataforma pliocénica de Aljubarrota, conservadas no interior de uma gruta, na vertente ocidental da Serra dos Candeeiros, em Pedreira (Porto de Mós, Portugal), originaram estruturas esferoidais em cachos a que demos o nome de bonecas-de-areia, à semelhança das conhecidas bonecas-de-loess.

Na continuação da Plataforma de Aljubarrota, na região de Porto de Mós, espraia-se uma delgada e descontínua cobertura pliocénica de areias, bem calibradas, de grãos essencialmente quártzicos, arredondados a subarredondados, por vezes, com pequenos seixos bem arredondados e achatados (“amêndoas”), num conjunto de fácies marinha litoral [1].

Parte destas areias, sopradas pelos ventos de Oeste, treparam pela vertente ocidental da Serra dos Candeeiros, colando-se a ela ou preenchendo reentrâncias e cavidades cársicas abertas nos calcários do Jurássico médio. Nesta vertente, à cota 300, estas areias colmataram um lapão existente na zona de contacto, por falha, entre o topo do Batoniano e o Caloviano. Num passado recente, esta ocorrência, à semelhança de outras na região, foi explorada artesanalmente, como areeiro, pela população local.

Nesta caverna, em grande parte desventrada, um de nós (J. T.) encontrou junto às paredes e ao tecto, restos deste preenchimento, caracterizado pela existência de concreções arenosas esferoidais, milimétricas a centimétricas, formando cachos, do tipo das conhecidas bonecas-de-loess, no seio da areia solta.

Deslocados mecanicamente, por esfrega entre os dedos, e observados com suficiente ampliação, os grãos de areia destas concreções revelam a presença de uma película de carbonato de cálcio (removível com HCl diluído) que os envolve e, parcialmente, os aglutina. Trata-se de um cimento drúsico, induzido pela percolação de águas enriquecidas em CaCO3 e Ca(CO3H)2 após percurso no interior do maciço calcário.

O estudo microscópico, à lupa binocular, destas areias, depois de libertadas da referida película carbonatada, e das areias soltas envolventes, põe em destaque a semelhança mineralógica e morfoscópica entre elas. Essencialmente quártzicas, os seus grãos variam entre redondos e subarredondados, estando os maiores marcados por picotado eólico. Além do quartzo, contêm algum feldspato e minerais pesados, como acessórios.

A análise granulométrica, por crivagem, forneceu os parâmetros constantes na tabela 1: média (Mz) [2], calibragem (s1) [3] e assimetria (SkI) [2]. Estes valores põem em evidência a boa calibragem das duas areias analisadas, além de que corroboram a sua interpretação como areias de praia retomadas pelo vento.

Ocasionalmente, no interior do lapão, ou fora dele, coladas à vertente, ocorrem concrecionamentos de areias mais grosseiras, menos bem calibradas, de elementos subangulosos a subarredondados, sob a forma de arenitos de cimento carbonatado. Estas outras areias correspondem a penetrações cársicas, oriundas de uma cobertura siliciclástica (Arenitos do Bombarral) do Titoniano, hoje inexistente no local, mas bem conservada 2 km a NNE na região de Porto de Mós.

 

Um exemplar de galopimite, na Escola EB 2,3 Galopim de Carvalho (Sintra). Com Octávio Mateus

 


Revista Triplov

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Portugal . Outubro . 2022