MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL
Tributo
Org.: Luís de Barreiros Tavares
Alguns poemas homoeróticos
I
agora aflui. e reflui. a sucinta e
estéril felicidade da infância.
equidistante do prazer múltiplo.
oh flancos. ébrios. e eras eros. e a crueza de dantes
de um rio. moreno. que erra. e corre.
entre exíguas margens de régua. as de um
tejo. minguado e minucioso.
as de lisboa. loa
rouca que reside em a memória. que ecoa e
se coa em a vivida brisa. da distância. distante
e tecida há muito
desde a infância. fortuita e ida
que sussurra e
que naufraga em geometrias. Inauguradas. ou em a visão alternativa.
ou no caos. que se escoa.
Lisboa, 28/05/2007
III
rescende o verão a flor e feno. fluxo de felicidade ameno.
ô fauno amado e uno como nenhum outro
ô fauno. ébrio de prazer.
rapaz ancestral de uma. ambígua. face.
que só o alvorecer do dia inaugurasse.
em um esforço de frutos. único e
rapace.
oh potro eleito.
e perfeito. que rasa
o meu corpo e o meu peito
Lisboa, 07/06/2007
VII
e o luar. ermo. esplende. ou brame.
ou estende. seus
tentáculos profusos. quais estames.
que a luz calma coa.
em vão. os tece ou
entre-dedos-delicados-tece.
subtis.
baços
abraços. furtivos. de um fauno. atónito.
e efémero.
cujo fulgor alivia.
amacia.
a leve luz. que oblíqua.
da tarde crua. quase queda.
nunca leda.
e o mar reina. e freme.
em seu doce regaço
de adolescente
cujo caudal de orvalho cresce.
e o visita. ou escoa.
que esse caule límpido visível ou visceral nunca cesse
ou se cale.
Lisboa, 09/07/2007
XI
e a praia irrompe. abrupta.
rebenta como rude maré.
como um deus inabitado. e impiedoso.
como um caos. inóspito. e o é
verte então uma espécie de pranto.
que se escoa.
tanto.
e erra. e ecoa.
como se fora enorme o rio.
como se fora um dia irreal ou efémero.
e afluísse. ou traísse
ternura de quem ao rosto inicial.
retorna. e nunca do
evento do fluxo
de sexo.
abstraísse.
Lisboa, 11/06/2007
XIII
e nem ignora o ouro
conspíquo. e
quotidiano. o áureo contorno. desnuda
mento súbito de um pénis.
agora. erecto. protuberante.
lindo. e macio. agudo e único.
e que brote e que baste. o
ângulo. imprevisto. do
pénis. penetrando.
estrénuo. como nunca
o ânus. vulnerável. renascendo
para o odor das dunas. e
da noite vindoura.
que forjarei eu se não a floresta tecida
do teu olhar.
o púbis. magnífico. da madrugada. que aflora.
a orla do sexo e do mar.
De: Fidelidade de um Fauno
Lisboa, 14/06/2007
MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL