Depois do cabaré
Emmy Hennings, 1921

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EMMY HENNINGS (1885-1948 ALEMANHA)

TRADUÇÃO DE FLORIANO MARTINS


DEPOIS DO CABARÉ

De manhã bem cedo irei para casa.

O relógio marca cinco horas, já é dia,

porém a luz ainda está acesa no hotel.

O cabaré finalmente fechou.

Em uma esquina as crianças se aconchegam,

os trabalhadores já estão no mercado,

à igreja todos vão em silêncio.

Tocam os sinos da torre,

e uma prostituta com cachos selvagens

ainda perambula por aí, trasnoitada e gélida.

Me ame de maneira pura por todos os meus pecados.

Olha, eu estive acordada mais de uma noite.

0204. Emmy Hennings and Hugo Ball

 

BAILARINA

Para ti é como se eu estivesse marcada

y jazesse na lista da morte.

Me mantém afastada de alguns pecados.

O quanto lentamente consumo a vida.

E amedrontados são amiúde meus passos,

meu coração tem uma enferma pulsação

e a cada dia se torna mais débil.

Um anjo da morte está no meio de meu quarto.

Danço então até ficar sem respiração.

Logo estarei em meu túmulo

e ninguém se agachará junto a mim.

Ah quero beijar até morrer.


MORFINA

Aguardamos por uma última aventura.

O que nos importa a luz do sol?

Dias empilhas aos montes caem.

Noites inquietas – oração no purgatório.

Tampouco lemos mais os jornais diários,

por vezes apenas sorrimos em silêncio na almofada

porque sabemos tudo, e com astúcia

voamos daqui para ali com calafrios.

As pessoas desejam apressar-se e conseguir frutos.

Hoje cai a chuva ainda mais turva.

Vamos pela vida, à deriva,

e dormimos, aturdidos, muito além…

 

0202. Emmy Hennings. Das Brandmal, 1920. Cover by John Heartfield

revista triplov . série gótica . outono 2019

parceria tripLOVAGUlha

21 MULHERES SURREALISTAS

EDIÇÃO COMEMORATIVA | CENTENÁRIO DO SURREALISMO 1919-2019

http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com/