Tributo a CHARLES BAUDELAIRE
Org. ALESSANDRO ZIR
Jacques Rivière
Ele está junto a nós. Ele não se recolhe à solidão para ressurgir poeta e profeta. Ele não vai pedir à natureza que ela o torne divino. — Mas ele está conosco. Eu o vejo na rua: preocupado com as dívidas, anda fazendo contas. Está pondo suas esperanças em dois artigos cujo pagamento vai ajudá-lo a sair do apuro em que se encontra. Ou talvez ele planeje alguma arlequinada a ser encenada no endereço desse amigo que visita. Ou ainda, trabalha mentalmente um poema, rearranja termos cuja combinação não está boa. — Talvez, frequentando-o, jamais eu tenha conhecido dele senão suas fantasias e disposições de humor. Mas ele tinha uma alma. Ele andava com ela. Ela estava presente quando lhe acontecia alguma infelicidade ou num momento de volúpia. Ela estava pronta a sentir tudo; não com diletantismo, mas como uma pobre alma verdadeira feita para o sofrimento e a necessidade. A alma, essa coisa em nós desconhecida, que nos espia em todas as nossas aventuras! De volta à casa, ele permitia-lhe se expandir. Ela falava com sabedoria, recontava suas dificuldades sem se descontrolar, sem barulho. Ela fazia seu exame de consciência. E eis que não é mais ela somente que se acusa, mas também a minha e a de vocês, que tínhamos no entanto cuidadosamente contido, que não sabíamos capazes de tantas paixões…
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revista triplov
SÉRIE VIRIDAE / 03 / CHARLES BAUDELAIRE
Portugal / Dezembro 2021