JOSÉ EMÍLIO-NELSON
José Emílio-Nelson é escritor e editor do CEJMS. Nasceu em Espinho, 1948. Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto. Publicou poemas e ensaios em revistas literárias portuguesas e estrangeiras. Prepara a reunião da sua colaboração crítica em jornais e revistas literárias e ensaios sob o título: MAIS DO QUE LER.
Na Grécia. E eu? Cheguei depois de todos.
Ó pedras arrasadas que eu levanto numa lágrima, o leve efebo, o pénis desfazendo-se, que enche o nosso riso estreito.
Ou o joelho a deixar as vestes, olhos e nariz quebrado.
Ou aquele braço suave, quando há braço, que procura uma boca (a voz da máscara, cálida, remota), as nádegas que oferece, quando o corpo não se perdeu em Atenas.
De que falo?
(Eu cego para a sempre ligeira beleza das Cariátides.)
Pedras
Copiando pedras.
*
Folheio numa livraria, horas mortas,
encostado à esquina de estantes, um álbum de nus.
Como num engate, ensombrado,os dedos fundem-se, os meus que percorrem a página e os outros que me fazem tesão.
(Embrenhara-me nas legendas, na gramática grega.)
*
Ao que dorme àquela porta, um rapaz, por cilada tinha bebido vinho resinoso, quase urinei.
Passo ligeiro, de um salto o seu dorso rígido é ladeado.
Caído, entrelaçava-se, estendia-se, mesmo para lá do arco de Adriano e dele.
*
Vende aqui, afável, nesta ruela emaranhada, e noutros sítios, como se espalhasse os dedos a uma mão,
sem tristeza. (Nunca lhe falta a cal da volúpia.)
Debaixo da árvore mais antiga, um pinheiro negro, o seu olhar joga à morte.
*
Sentado em Diónisos,do que resta, admiro o homem nu pela sua excelência.
Aos meus olhos reencontrará as suas lágrimas no chão que as pedras espelharam.
Comovido, eu receio como um animal que acordámos.
É assim de facto, Atenienses.
E no local a pedra embotada.
Revista Triplov
Setembro de 2024