MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL
Tributo
Org.: Luís de Barreiros Tavares
VI
é a onda nua da tarde.
que desagua. densa. e se dispersa alvíssima.
nos teus flancos. feridos
eu clamei pura inocência.
e a tarde abrira-se-me ao esplendor do dia.
ao mar. revolto.
talvez à brancura escassa. e casta.
do teu corpo que florira. por engano e em vão.
do pranto. a furtiva taça.
29.3.2007
VIII
agora. o café. conforta. faz
com que ecloda a alma. e a manhã. essa paz
interior. que eu teço. anterior ao tumulto do desejo. que praz.
então o dia entra. – respiro-o. – se liquefaz.
15.04.2008
IX
para quê guardar os teus beijos. febris e fugidios.
que roçam. ao de leve. a minha pele.
se os roubo. rouco. e é tão fugaz o mel com que mos dás.
06.04.2008
XIX
a infância perfaz-se em ti. ó
mãe mansa.
ó casa. ilesa.
onde vivi. e o ouro do gesto floria.
sem engano.
sem a dubiez das
noites.
e o gesto floria. exacto.
e nunca mais se extinguiria.
ó mãe. mansa e imensa.
cujo rosto jamais se apartará de mim. e que eu ainda vislumbro
rosto incólume. que eu sempre invocarei.
contra o olvido vil da morte.
01.06.2007
XXI
mar vai.
mal vem.
ó verbo abraçai.
o que meu bem canta.
e trai.
mar vem.
mal vai.
o amor demora.
mas também atrai.
e encanta.
mar vai.
amor não vem.
meu bem.
minha casta. canção eu canto.
14.03.2007
XXIV
como vós vedes. as vãs. veredas do verão.
são breves limiares luminosos. que se diluem. ou.
circulam no corpo. e o vento breve invade-as.
em vão as oscula ou as circunscreve.
em os muros do rumor. vão. do verão antigo nunca olvidado.
De: A noção da inocência
28.5.2007
MANOEL TAVARES RODRIGUES-LEAL