A liberdade

FRANCISCO MARQUES


A liberdade
escoa-se
torna-se algo
precisa-se

A janela fecha-se
a luz não entra
percorre uma névoa

A liberdade
essa
não sei mais onde para


Oceano negro

Que oceano este
invade
as almas do meu povo

O oceano negro
do egoísmo
cheiro a morte
nesta podridão

Oceano de luto
por esta inquietude
esta falta de tudo

Que choro
este oceano
que invade meu povo
que negro
este oceano


Sombras

Sombras

A janela fecha-se
sombras invadem a noite
a luz esconde-se

A caravela eterna
é esventrada
pelo vento escuro

As pedras
calcinadas
no silêncio
esboçam gritos

A janela fecha-se
até quando?


Saudades do teu silêncio

O tempo
findou
acabou-se

Em ti
aprendi
as palavras não ditas
o silêncio das árvores

O tempo
tornou-se vento

Sinto saudades
até do teu silêncio


Batel vazio de alma

Vazio flutua o batel
despido
madeira roída
das marés negras

Vazio lá vai ele
nu
semi-morto
quase desfeito
nas mãos furiosas
do negro absorvido

Vazio
caminha ele
batel frágil
desnutrido de alma
desalento de gente
despido de corpo

Vazio


Ensaio da estupidez

Mar
Mediterrâneo

Ondas de sangue
acolhem
vítimas da estupidez
do extermínio

O tempo
apaga a memória
máscaras
escondem
o fanatismo

O vento
leva a Europa
a cair
na névoa do holocausto
da estupidez


Rio que levas a tristeza

Sobre o rio
outrora
lugar das lágrimas
vejo agora
um sorriso

Sobre as águas
outrora
lugar da tristeza
vejo agora
a alegria

Sinto a água
que vai sobre o rio
o sorriso e a alegria

Sinto o rio novo
que do outrora
tudo levou
até a tristeza


Caravela da vida

Teus lábios
soletram brisa
pétalas ao vento
de um luar a dois

Teus lábios
clamam sentir
destino ao vento
navegando

Teus lábios
soletram
a dois

A caravela da vida


Partidas e chegadas

Na estação
de partidas e chegadas
estou eu

Sem saber se parto
ou se chego

Apenas estou
nesse termo médio
de saber que parto
e que chego


Oiço o som da terra

Oiço o som da terra

A terra
que quer
florir

A terra
que quer
ser plantada

Oiço o som da terra

Da nossa
terra


Revista Triplov  .  Série Gótica .  Inverno 2017