TRIBUTO AO PROF. GALOPIM DE CARVALHO
Não é nem a primeira nem a segunda ou terceira vez que “mexo nesta ferida”. Fi-lo aqui há um ano e continuarei a fazê-lo até que quem de competência, direito e obrigação lhe dê o necessário e urgente tratamento.
Numa apreciação deste teor, é forçoso começar por ressalvar as excepções que sempre existem. Dito isto, já posso dizer que, num país como Portugal, onde a investigação científica e o ensino superior da Geologia estão ao nível dos que caracterizam os países mais avançados, é confrangedor assistir à iliteracia neste domínio (e não só) da quase totalidade dos portugueses. Isto acontece porque, mercê dos programas, dos manuais usados, das orientações superiores e do tipo de exames em uso, os professores, em vez de poderem ensinar e formar cidadãos conscientes do mundo físico em que vivem, são levados a “amestrar” os alunos a acertar nas questões que lhes são colocadas nos exames. Isto é bom para os rankings e para as estatísticas, mas é mau para os alunos e para o País.
De há muito que venho alertando, em textos escritos e em conversas públicas, para a pouca importância dada ao ensino da Geologia nas nossas escolas. Isto porque, em minha opinião, quem decide sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares, parece desconhecer que a geologia e as tecnologias com ela relacionadas estão entre os principais pilares sobre os quais assentam a sociedade moderna, o progresso e o bem-estar social. As minhas repetidas e insistentes diligências junto dos sucessivos governantes, no sentido de inverter esta deplorável situação, nunca surtiu efeito, o que é desesperante e lamentável.
A verdade é que os nossos Presidentes, Ministros e Secretários de Estado não conhecem nem a natureza, nem a história do chão que pisam e no qual assentam as fundações dos edifícios onde vivem e trabalham e, muito menos, as do país que percorrem. O mesmo se passando (com uma ou duas excepções) com os nossos autarcas, dos Presidentes aos Vereadores. A verdade é que esta iliteracia percorre todo o tecido social, dos governantes aos mais humildes governados, dos médicos e enfermeiros aos auxiliares de saúde, dos industriais e comerciantes aos militares e aos funcionários públicos, dos artistas de todas as artes aos jornalistas, politólogos e comentadores de serviço, dos juristas e economistas ao operariado urbano e rural, aos motoristas de táxi e jogadores de futebol.
É um mal nacional que vem do passado e que se repete a cada geração. É um ciclo vicioso que tem de ser rompido.
E é ao nível da Escola que tem de ter lugar essa rotura.
Revista Triplov
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Portugal . Outubro . 2022