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Muito se teima na indicibilidade amorosa, quer nos recatos do amor indeclarado, quer no legado pânico dos gemidos. Porém o amor diz-se nas metamorfoses que opera em carnívoras almas ou na exaltação contínua de arrepiados corpos - é uma fala que faz seu assento no mundo com explendidas cabeleiras.
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É certo que o vácuo deflagra a cada instante. A história afaga-nos interpretando variados rumores. São soberbos, mas não alcançam a sedição metamórfica dos mitos. Por isso registamos os estilhaços que sobram à história mas que aos mitos continuam reticentes.
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Um rosto é um modo urbanizado de aflorar escândalos. O que do rosto resta são floras ajardinadas que desenvolvem violências numa propensão para devassas caçadas.
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São as mais enraizadas plantas que me devolvem a inconstância do mar - mas também o regular ritmo das marés.
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Hortos são refúgios de medos mais maduros - inventamos metáforas edénicas para redimir os deuses da crueldade?
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Há velocidades em estar quedo e que arrebatam a contemplação em floridos dramas - o silêncio é a retracção dos músculos que se degladiam nas cavidades orais.
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Aquilo a que reverentemente chamamos mundo é expansão de uma cosmética rude de minúsculos ou apagados fogos.
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Nem inaugural e muito menos terminal - a vida vem embrulhada em armadilhas qual cruel interlúdio. E os enunciados da memória caprichosamente pontuam.
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Visões não buscam poltronas ou canapés para se refastelarem. Digamos que emergem das fúrias em peitos há muito guardadas - mágoas que se vertem em gargalhadas, lágrimas, suspirações, báquicos arrebatamentos.
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O irretratável é declamado pelas coisas - como se o visível fora nulidade, imagem despossessa de imaginários.
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Nocturnas são as vésperas - vozes que se expõe na inclinação preparando as madrugadas.
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Os desejos têm astúcias de noiva - buscam a inevitável corrupção em sacramentos de casada.
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Somos deveras lúcidos quando emaranhamos as considerações em barrocas teias. Falta transparência e evidência à lucidez - esta é qual colher despindo corpos: fazem-se adolescentes nossas maturidades e as alheias.
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Os nómadas vagam de aterro em aterro demandando a transparência jocosa da morte.
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Com ironias acolho o desprezo nesta casa - exercitação de resiliências?
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O feminino deslumbra-se com a fértil flora. As evidências mais evidentes desviam-nos das durezas excessivas, do duro mineral que fulmina no mais recôndito das grutas - as flores são prelúdios de guerras.
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Fala-se da rosa como da fragilidade fecunda de um só dia, mas nunca como apropriada esterilidade - o ânimo que falta para permanecer na exuberância.
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As ondas são invadidas pelo pão, tal como o mundo se encharca de sagrado - a improbabilidade de não sermos devorados pela omnipotência do alheio faz-nos enxutos no que sobra como íntimo - e a lubricidade do recôndito é tão biodegradável!
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Ansiamos sonoros dilúvios tal como os gregos eram incitados à contemplação do sublime sanguinário em suas tragédias - a impaciência está forrada de adiados e errantes desejos. Somos um beco perto de vomitar o aberto.
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Os sonhos são uma insistência parda do irredimivel.